Nuno Amado: "BES foi uma enorme injustiça para o BCP"
Para o CEO do BCP, o banco foi "triplamente" prejudicado com todo o caso em redor da resolução do BES. Depois de prejuízos em 2016, banco soma agora lucros de 133 milhões
O BCP sofreu antes, durante e após a resolução do Banco Espírito Santo. "Foi uma enorme injustiça para com o BCP", afirmou o presidente executivo do banco ontem na apresentação das contas. Para Nuno Amado, o banco foi "triplamente afetado. Fomos afetados antes da resolução por práticas e situações que não eram normais. Afetados por um concorrente muito forte, em condições difíceis de combater na altura".
Acresce o impacto da resolução do BES, "que implicou uma fatura demasiado grande para o setor". Depois da resolução, também houve um reflexo negativo no BCP, segundo Nuno Amado. "Fomos afetados durante muito tempo pelo efeito reputacional que a solução do Banco de Portugal implicou." Daí que a base de comparação do BCP com os concorrentes na Europa não tenha sido "a mais justa. Foi triplamente custoso todo este processo".
Após a resolução do BES, no início de agosto de 2014, foi criado um banco bom que ficou com os ativos do BES - o Novo Banco. Este foi capitalizado em 4,9 mil milhões de euros pelo Fundo de Resolução, que é financiado pelos bancos, sendo que, daquele valor, 3,9 mil milhões foram emprestados pelo Estado e têm de ser reembolsados pelo fundo. O Novo Banco foi vendido em outubro por zero euros à norte-americana da Lone Star. O Fundo de Resolução ficou ainda com 25% do banco e assumiu um mecanismo de capitalização contingente de 3,9 mil milhões. Assim, os bancos poderão vir a ter mais custos, se o valor de um conjunto de ativos do Novo Banco descer tanto que ponha em causa a sua solidez.
O BCP foi o único banco a interpor um processo em tribunal contra a garantia assumida pelo Fundo de Resolução no Novo Banco. Nuno Amado mostrou-se ontem otimista com o sucesso da ação. "Fizemos bem feito. Não impedimos que quem tomasse decisões as tivesse tomado, e não perdemos direitos que julgamos ter", frisou. Lembrou que a ação é uma proteção para o BCP e os seus acionistas. O banco realizou um aumento de capital no início deste ano e, na altura, esta exposição ao Novo Banco não estava contemplada no prospeto da operação.
O banco tem como principais acionistas a chinesa Fosun e a angolana Sonangol, que tem até dezembro para decidir se reforça a sua posição no BCP para mais de 20%. Hoje tem 15,2%. Nuno Amado remeteu as questões para a petrolífera liderada por Isabel dos Santos.
BCP com lucros de 133 milhões
Nuno Amado anunciou que o banco passou de prejuízos de 251 milhões de euros entre janeiro e setembro de 2016 para lucros de 133,3 milhões neste ano suportado na atividade bancária.
Nuno Amado, apesar dos lucros, deixou claro que "não temos intenção de pagar dividendos, o banco precisa de reforçar a sua estrutura". Mas prometeu que, logo que houver resultados distribuíveis, os trabalhadores serão compensados pelos cortes salariais entre meados de 2014 e de 2017.
A margem financeira melhorou 12,8%, atingindo 1023,2 milhões de euros, e as comissões bancárias cresceram 2,8% para um total de 494,6 milhões. Na rubrica outros resultados, como é o caso de operações financeiras, o banco registou perdas. Quanto ao produto bancário, cresceu 1,4%, totalizando 1594,3 milhões de euros.
Os custos operacionais registaram uma descida de 3,8% para 694,6 milhões de euros, apoiados pela redução dos encargos com pessoal. As imparidades baixaram 43,5%. "Hoje o banco está muito mais bem preparado do que estava no início da crise", afirmou Nuno Amado. E destacou a melhoria na qualidade dos ativos, tendo-se mantido a tendência de descida dos NPE (exposições que não são rentáveis) - onde se incluem o malparado - para 7168 milhões de euros, contra 8538 milhões no final de 2016. A plataforma para gerir o malparado, em conjunto com a CGD e o Novo Banco, deverá ficar operacional já no início de 2018.