Moeda única no bom caminho para um ano "sem choques" se Trump não fechar a América

Euro irá voltar a valer menos do que o dólar, 15 anos depois de entrar em circulação. Boas notícias para as exportações, mas só se Trump deixar
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O euro faz 15 anos, mas o clima não é de festa. A moeda única deixou de ser o símbolo da integração política da Europa e está a converter-se numa moeda que divide os países entre credores e devedores. Pior: a moeda está a perder a sua força e no ano que hoje começa o euro e o dólar irão atingir a paridade, pela primeira vez desde dezembro de 2002.

Tudo vai depender de Donald Trump, confessam os analistas consultados pelo DN/Dinheiro Vivo. "Esse marco poderá ser registado logo no início do ano, com uma possível euforia por parte dos investidores pela tomada de posse do novo presidente dos EUA. No entanto, será mais expectável que aconteça com o aquecimento da economia norte-americana, que poderá levar a uma subida das taxas de juro no final do primeiro trimestre ou início do segundo ", antecipa José Lagarto, gestor de ativos da Orey Financial.

As políticas expansionistas do sucessor de Obama na Casa Branca também abrem a porta a um dólar forte. Trump traz na manga um plano de investimentos em infraestruturas orçamentado em 600 mil milhões de dólares, que de acordo com as estimativas dos analistas pode somar 0,25% ao crescimento dos EUA no próximo ano.

Uma economia norte-americana a todo o vapor pode ser o balão de oxigénio que a moeda única precisa. "Para a Europa, a desvalorização da divisa acabará por colocar o setor exportador mais competitivo, ajudando a um equilíbrio da balança comercial, principalmente nos países deficitários como os da periferia", observa o analista da Orey. A indústria do papel portuguesa, que tem nos EUA o seu grande mercado, sairá a ganhar. E também o turismo. Mas vai pesar mais a fatura do petróleo.

Se, por outro lado, o presidente eleito dos EUA optar por adotar medidas protecionistas, guardando "a América para os americanos", a Europa vai sofrer. A garantia é dos economistas consultados pelo Financial Times, que acreditam num ano "livre de choques" para a zona euro, mas alertam para as "ambiguidades" que a presidência Trump pode trazer.

Além dos ventos de oeste, a Europa terá de se proteger dos seus próprios vendavais em 2017. "Os vários eventos de risco político poderão levar à continuidade da política expansionista do BCE, com taxas de juro negativas e prolongamento do programa de compra de ativos", justifica o analista da Orey. A possível eleição de Marine Le Pen em França, agendada para maio, é a que traz mais riscos ao futuro da moeda única, na visão dos especialistas. A situação política periclitante em Itália também não oferece garantias.

As previsões dos grandes bancos mundiais só mudam as casas decimais. O Barclays aposta que o euro vai valer 0,99 dólares no final de 2017. O Morgan Stanley aponta para os 0,97 dólares, enquanto Deutsche Bank, Ebury e o britânico Standard Chartered atiram o valor da moeda única para 0,95 dólares. O euro fechou 2016 a valer 1,0559 dólares, o valor mais baixo em 14 anos e longe do máximo histórico de 1,59 dólares registados em julho de 2008, quando ainda era uma criança.

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