Mais de 30% dos jovens portugueses consideram ter utilização "problemática" do telemóvel
Em média, os jovens adultos utilizam o telemóvel mais de cinco horas por dia e a troca de mensagens é a atividade em que despendem mais tempo, cerca de duas horas e meia diárias, conclui estudo
As tecnologias foram muito importantes para a generalidade das pessoas durante a pandemia, em especial, durante os períodos de confinamento, mas a sua utilização excessiva, nomeadamente de telemóveis, pode estar associada a menores níveis de bem-estar. Na verdade, 30,1% dos jovens adultos portugueses consideram ter uma utilização problemática do telemóvel, de acordo com as conclusões do estudo "Olhar para além dos telemóveis para compreender o bem-estar dos jovens adultos portugueses", realizado pelo Observatório Social da Fundação "la Caixa".
Entre os 30,1% dos inquiridos que consideraram ter uma utilização problemática do telemóvel, 41,9% apresentavam níveis de bem-estar baixos. Em média, os inquiridos declararam usar o telemóvel durante 5 horas e 35 minutos por dia, sendo a troca de mensagens a atividade em que despendem mais tempo, com 2 horas e 27 minutos de tempo de ecrã. Curiosamente, as mulheres disseram passar mais meia hora por dia no telemóvel do que os homens.
Contudo, a pandemia tornou a tecnologia uma espada de dois gumes em que, por um lado, a sua utilização problemática está associada a níveis mais baixos de bem-estar entre os jovens adultos, mas, por outro, 74,5% dos jovens inquiridos consideraram que os telemóveis foram essenciais para o seu bem-estar durante os confinamentos.
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A equação do bem-estar
Encabeçado por três membros do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), Tiago Lapa, Gustavo Cardoso e Gonzalo Fernández-Duval e também por Javier García-Manglano, do Grupo de investigação Jovens em Transição do Instituto Cultura y Sociedad da Universidade de Navarra, o estudo destaca ainda que os jovens adultos são mais suscetíveis a usar os telemóveis de forma excessiva para fins sociais, o que pode ter como consequência o desenvolvimento de comportamentos aditivos.
Os investigadores não se ficaram pelas tecnologias quando decidiram avaliar o bem-estar dos jovens adultos portugueses. Aliás, quiseram ter a equação completa e estudaram outras variáveis como sexo, educação, ocupação, composição do agregado familiar, higiene do sono, satisfação com relações pessoais, realização no estudo ou trabalho e utilização do tempo livre.
A importância do sono
Após avaliar o panorama completo, os resultados confirmam que as pessoas que dedicam algum do seu tempo a passatempos sem ecrãs ou atividade física possuem níveis de bem-estar mais elevados, tal como já se tinha verificado em estudos realizados anteriormente.
De facto, os inquiridos que dedicam entre duas e quatro horas por semana a essas atividades (36,1%) evidenciam níveis de bem-estar elevados.
A qualidade do sono também se revela extremamente importante para o bem-estar, indicando os especialistas que os inquiridos que afirmaram dormir menos de seis horas por dia são os que têm percentagens mais baixas de bem-estar.
A satisfação com as relações familiares e de amizade são outra parte da equação, sendo que a proporção de bem-estar elevado foi três vezes maior entre as pessoas que declararam muita satisfação com as suas relações (50,8%) do que entre as que disseram estar pouco satisfeitas (14,7%).
Estas variáveis de bem-estar ligam-se à questão da utilização de tecnologias, concluindo o estudo que as pessoas que estão insatisfeitas com determinadas dimensões das suas vidas podem ter maior probabilidade de utilizar a tecnologia de forma mais intensa e problemática e, consequentemente, ter baixos níveis de bem-estar.
Texto editado por Teresa Costa