Luís Castro Henriques: "Este ciclo de investimento está ganho para Portugal"
O aumento do custo da energia e das matérias primas e as dificuldades ao nível da logística não estão, até ao momento, a afetar a capacidade competitiva das empresas exportadoras portuguesas, nem o grau de atratividade do país como destino de investimento. Mas Luís Castro Henriques deixa o alerta: será a duração da crise a determinar os níveis de incerteza e a forma como estes poderão afetar o tecido empresarial nacional.
O que podemos esperar desta conferência em que a AICEP regressa ao registo presencial?
Teremos um conjunto de keynote speakers e de painéis de debate muito interessantes. Vamos ter presentes desde o Nuno Sebastião, CEO da Feedzai - um unicórnio - que irá partilhar a sua perspetiva sobre o mundo e de como a Feedzai se tornou na empresa que é hoje. Teremos também a presença do professor António Costa e Silva que irá dar a sua opinião sobre como o PRR pode transformar ainda mais o país e levá-lo mais longe. E teremos painéis de debate com os presidentes da CIP, da AEP e da AIP que partilharão as perspetivas de como as empresas estão a reagir ao pós-pandemia e como antecipam o futuro. Além disso teremos a intervenção do ministro dos Negócios Estrangeiros, do ministro da Economia, e do secretário de Estado da Internacionalização. Eu também farei uma intervenção de fundo onde falarei sobre o que aconteceu neste último ciclo de investimento - cujos resultados são muito positivos e é importante que os portugueses os conheçam - e das exportações no pós-pandemia. Porque os resultados que estamos a ver em termos de exportações são muito interessantes e comprovam a competitividade e a resiliência das nossas empresas exportadoras.
A pandemia veio mudar o perfil dos investimentos ou da exportação?
Não. Os nossos fatores de competitividade - e a angariação de investimento de 2021 demonstra isso - mantiveram-se intactos. Obviamente que o ano de 2020 é uma espécie de buraco negro na atividade, em que houve uma paragem global seja no investimento seja nas exportações. Mas em 2021 estamos a ter um ano recorde no caso dos investimentos: neste momento já ultrapassámos o maior recorde de sempre que era de 2019 em termos de contratualização e creio que terei boas notícias para dar na conferência. Nesta altura temos um pipeline até ao final do ano, em que estamos a negociar os contratos com as empresas, que ronda os mil milhões de euros. Vamos ver no que isso vai dar mas temos uma expectativa de virmos a assinar mais 600 a 700 milhões de euros sobre o que já está contratualizado à data de hoje, que já é um valor recorde.
E qual é esse valor?
Já ultrapassámos os 1200 milhões de euros. Acreditamos que com este pipeline que temos até ao final do ano e que estamos a trabalhar arduamente para materializar em contratos, iremos ter um ano de absoluto recorde.
De onde vêm os investidores?
Alemanha, Espanha e França são os principais países emissores de investimento direto estrangeiro, produtivo, em Portugal. Mas uma das coisas que vou apresentar e que é visível ao longo deste ciclo é que há uma diversificação relevante. Vemos um acréscimo relevante de investimento oriundo dos Estados Unidos e do Reino Unido. Ao longo destes últimos anos conseguiu-se diversificar a base de atração de investimento e este ano não é exceção, com investimento vindo até da Ásia: da Coreia e do Japão.
E no que toca aos setores?
Há pouco tempo assinou-se um contrato muito grande com a Repsol na área dos polímeros mas, se virmos o resto dos contratos, são bastante diversificados em setores e vão desde o agroalimentar à metalomecânica e há uma enorme presença, que continua a manter-se, do setor automóvel e de componentes automóveis com projetos absolutamente inovadores que estão a ser contratualizados ao longo deste ano.
O que é que levou a esta diversificação geográfica?
Creio que dois fatores-chave. O primeiro, que é a pedra de toque para a atração de todo este investimento, assenta no facto de termos conseguido posicionar Portugal como um país de talento diferenciado, de alto valor acrescentado e extremamente competitivo. E este é um fator-chave porque o talento pode servir várias indústrias: não dependemos de um recurso natural ou de fatores que possam influenciar uma indústria específica, e isso permite trazer desde empresas de serviços a indústrias de diversos setores que recorrem ao know-how, às skills e à excelente capacidade do talento português. O segundo fator é termos feito nos últimos anos uma estratégia forte de diversificação e de estabelecimento de novos contactos em vários mercados, nomeadamente na Ásia, mas também nos Estados Unidos da América, onde temos inclusive a presença de um especialista de investimento que numa primeira fase trabalha diretamente com as empresas. E os resultados estão a aparecer.
A confirmarem-se estes contratos, qual será a sua tradução em termos de criação de postos de trabalho?
Ainda é um bocadinho cedo para dizer. Para ter uma ideia, dos 1233 milhões de euros já contratualizados à data de hoje, estamos a falar de uma criação líquida de quase três mil postos de trabalho e creio que este valor ainda irá mexer bastante com as próximas centenas de milhões em contratos que iremos assinar.
Em que zonas do país estão centrados estes investimentos?
O que vemos é que ao longo deste ciclo de investimento, no âmbito da angariação da AICEP e seja de investimento nacional ou internacional, os dois grandes blocos do país que beneficiaram mais foram o Norte e o Centro, de longe! Mas temos investimento pelo país todo.
Os números das exportações nos primeiros oito meses do ano, divulgados pelo INE são bastante animadores. É o resultado do retomar da atividade depois do tal ano de buraco negro que foi 2020 ou estamos perante uma mudança mais consistente?
Na análise que fizemos no início e que mantemos hoje, a pandemia iria ser um fenómeno contido. Isto porque as empresas exportadoras já eram competitivas e resilientes. Hoje em dia, as principais dificuldades que temos na exportação ao nível global e sobretudo na Europa estão relacionadas com temas que são transversais a todas as empresas europeias. Esta recuperação das empresas portuguesas só prova a sua competitividade e resiliência. Diria que o principal fator de sucesso é o mérito dos nossos empresários e a capacidade de, a partir do momento em que conseguiram voltar a operar, chegarem ao mercado, continuarem a ganhar quota, manterem os seus clientes e, em alguns casos, ganharem novos.
Ao nível do investimento houve uma diversificação geográfica. Nas exportações também assistimos a alterações nos mercados de destino?
Iremos apresentar dados que mostram que houve alguma diversificação. E é interessante ver que as empresas procuraram oportunidades de diversificação no pós-pandemia (o que demonstra capacidade competitiva), mas este é um trabalho de vários anos.
Que novos mercados estão a surgir?
Vemos um reforço a nível da Europa e também temos visto algum movimento positivo para alguns mercados para fora da Europa, nomeadamente na América do Norte. Mas ainda é muito cedo para fazer uma avaliação completa. Vemos que as empresas que já estavam diversificadas conseguiram diversificar mais. Se isso se vai consolidar numa série de mercados novos teremos de esperar mais alguns meses para saber.
De que modo é que a crise que se vive a nível global ao nível da energia e das matérias-primas poderá ter impacto na capacidade de investimento e exportação das empresas nacionais?
Juntaria a essas ainda mais uma crise, que é o facto de estarmos com alguma dificuldade ao nível dos custos logísticos e de transporte para solidificar as cadeias de valor no pós desconfinamento. Este tema energético está a afetar todas as empresas e indústrias pelo mundo fora e está a refletir-se em custos. O custo das matérias-primas também. Mas não nos podemos esquecer que este é um jogo relativo, que afeta toda a gente. E por isso é que digo que as nossas empresas exportadoras demonstram competitividade, porque em circunstâncias iguais e difíceis conseguem manter a sua competitividade comparativamente aos outros. Mas todo este enquadramento gera alguma incerteza nas perspetivas de investimento ou nas tipologias de investimento, embora não estejamos a sentir isso ao longo de 2021. É importante manter a proximidade junto dos nossos investidores, mostrar que os nossos fatores competitivos estão a funcionar e que o país está aberto para os negócios. Mas isto gera incerteza a todos os níveis, e tudo dependerá do tempo que ainda irá durar.
O PRR é outro dos temas que irá estar em análise na conferência. Neste quadro de incerteza o PRR vem dar alguma tranquilidade?
Não me quero antecipar à intervenção do professor António Costa e Silva, mas diria que sem dúvida vem fortalecer e nos dá meios para que continuemos a investir. Nestas crises de que estamos a falar temos de perceber quais é que são conjunturais e quais poderão ter um impacto a médio prazo. Neste aspeto, julgo que temos de olhar para o PRR como a nossa possibilidade de levantar a ambição. Este ciclo de investimento está ganho para Portugal. Mas temos que perceber que temos de subir a ambição, continuar a trabalhar e nada indica que não poderemos continuar a vencer. Nesse âmbito o PRR vem ajudar imenso.
O atual quadro político português põe em causa algo do que foi dito até aqui?
Não costumo comentar política. Não faz parte das minhas funções e reservo-me bastante sobre essa matéria. Mas não estamos a sentir qualquer impacto causado por este enquadramento na nossa operação nem temos sentido qualquer reação por parte dos investidores.
- Augusto Santos Silva
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros abre a conferência às 10.00 para fazer uma intervenção sobre "O posicionamento de Portugal e da Europa no novo contexto geopolítico/geoeconómico".
-Luís Castro Henriques
O presidente da AICEP fala a seguir sobre "Exportações & Investimento: resultados e desafios".
-Nuno Sebastião
O cofundador e CEO da Feedzai é o keynote speaker e discursará sobre
"Conhecimento, empreendedorismo, inovação e competitividade - de Portugal para o mundo".
-Prémios AICEP
às 11.40 são atribuídos os Prémios AICEP Exportação e Investimento: Melhor PME Exportadora e Melhor Investimento.
-Eurico Brilhante Dias
Depois do almoço toma a palavra o secretário de Estado da Internacionalização com uma intervenção sobre "Evolução da internacionalização da economia portuguesa - perspetivas".
-António Costa Silva
O presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR discursará sobre a "A importância do PRR para o relançamento da economia portuguesa".
-Debate com associações
António Saraiva (CIP), José Eduardo Carvalho (AIP), Luís Miguel Ribeiro (AEP) participam no debate sobre "O papel das Associações Empresariais/Empresas para o sucesso do PRR em Portugal".
-Pedro Siza Vieira
O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital encerra a conferência anual da AICEP com um discurso sobre "Crescimento da economia portuguesa: principais desafios pós pandemia".