Luís Castro Henriques: "As empresas exportadoras fartaram-se de trabalhar"
O Convento de São Francisco, em Coimbra, recebe esta segunda-feira a Conferência Anual da AICEP dedicada ao debate sobre investimento e exportações, aproveitando para fazer um balanço da forma como o país e o seu tecido empresarial responderam aos desafios da pandemia. A sessão de abertura contou com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que identificou três prioridades para que "a recuperação económica seja o mais rápida possível" - internacionalização, exportações e atratividade.
Estas são três áreas em que será preciso apostar "independentemente de quem seja o líder do governo ou o ministro dos Negócios Estrangeiros", aponta Santos Silva, aludindo à crise política em que o país mergulhou nas últimas semanas. Ainda assim, o governante diz que "as condições desta retoma forte que todos sentimos na Europa e no mundo" podem ser ameaçadas por alguns dos efeitos negativos do contexto sanitário que ainda permanecem. Entre eles, a escassez de matérias-primas, o aumento de preços, as questões energéticas e a falta de oferta de semicondutores, que tem impactado fortemente várias indústrias, nomeadamente a automóvel. "São estrangulamentos que estão a prejudicar a pujança da retoma económica que foi muito rápida", afirmou.
Apesar dos constrangimentos apontados, Luís Castro Henriques subiu ao palco em seguida para congratular os empresários portugueses pela "resiliência" e capacidade de manter, mesmo num cenário particularmente adverso, uma competitividade sem "qualquer abrandamento". "Estão de parabéns, bom trabalho", fez questão de assinalar
o presidente da AICEP. Mas os protagonistas desta intervenção foram os números apresentados pela agência pública de investimento relativamente aos recordes atingidos já em 2021.
"Em outubro já tínhamos batido o recorde de sempre de investimento contratualizado", sublinhou. Em causa estão os 1233 milhões de euros contratualizados até ao momento, superando os números de 2019, ano em que foi atingido o patamar dos 1172 milhões de euros. Em 2020, ano de embate da pandemia, o ponteiro não foi além dos 287 milhões de euros. "Nesta crise, a verdade é que recuperámos assim que possível porque as empresas exportadoras fartaram-se de trabalhar", reconhece o responsável da agência. Por outro lado, a AICEP compara o desempenho na contratualização de investimento entre o QREN e o Portugal 2020, com este último a apresentar melhores resultados.
Dois exemplos são a média de criação de postos de trabalho, em que o Portugal 2020 conseguiu ser três vezes mais eficaz, mas também a rubrica que diz respeito ao investimento em investigação e desenvolvimento (I&D), que triplicou face ao anterior quadro comunitário. "É uma mudança de paradigma", acredita Luís Castro Henriques, que pede a continuação desse crescimento através da aposta no talento nacional altamente qualificado.
Além da multiplicação do investimento contratualizado, o líder da agência pública fez questão de assinalar que a sua distribuição geográfica tem vindo a ser cada vez menos focada em Lisboa. "Quase 70% do investimento foi canalizado para o Norte e Centro", realça, destacando ainda uma tendência para a atração de perfis de investidores com forte pendor tecnológico. Aliás, os dados hoje apresentados mostram mesmo que o número de centros de serviços em Portugal mais do que duplicaram desde 2015, algo que, diz Castro Henriques, "vai continuar". Em resposta antecipada a eventuais críticas pelo tipo de centros de serviços instalados no país, o presidente da AICEP esclarece que "cerca de 60% são centros de competências ou desenvolvimento de software", muito "competitivos" e com um "grau de sofisticação muito diferente" pela qualidade do talento que recrutam.
A par da discussão em torno das questões relacionadas com o investimento, as exportações e o caminho percorrido pela economia portuguesa, a conferência anual da AICEP reserva ainda espaço para galardoar empresas com desempenho particularmente positivo em 2020. Na categoria Melhor PME Exportadora, a vencedora foi a Novarroz, cujo negócio desenrola-se atualmente em mais de 60 países e acumula um volume de negócios de 45,8 milhões de euros.
Já na categoria Melhor Investimento, o prémio foi entregue à empresa de têxteis Rio Pele, cujo volume de negócios atingiu os 76 milhões de euros no último ano com cerca de 98% da produção total a ser encaminhada para exportação.