O Banco de Portugal decidiu ontem convidar o fundo de investimento Lone Star a "aprofundar negociações" para a compra do Novo Banco. Esta foi a forma encontrada pelo supervisor para abrir uma nova ronda negocial que "minimize ou remova" da proposta norte--americana as "condicionantes" da mesma com "potencial impacto nas contas públicas". Em causa estará a exigência por parte do Lone Star de garantias públicas para concretizar a sua proposta, exigência que o ministro das Finanças deixou claro que recusaria..Apesar de ter finalmente surgido uma decisão do Banco de Portugal em relação à corrida pelo Novo Banco, a verdade é que para todos os efeitos nenhum dos candidatos foi riscado da corrida apesar da posição privilegiada em que o Lone Star agora se encontra. "Esta nova fase de negociações com o potencial investidor Lone Star não exclui a melhoria das propostas dos restantes potenciais investidores", salienta o comunicado do BdP, divulgado ontem perto da meia-noite..O governo deverá avaliar a posição tomada pelo Banco de Portugal ainda hoje, na reunião do Conselho de Ministros..Impacto nas contas públicas."O Banco de Portugal (...) concluiu com base nos elementos disponíveis nesta data que o potencial investidor Lone Star é a entidade mais bem colocada para finalizar com sucesso o processo negocial tendente à aquisição das ações do Novo Banco e decidiu convidá-lo para um aprofundamento das negociações", refere o supervisor no comunicado ontem divulgado..A opção do banco central em abrir nova ronda de negociações para extrair os riscos para os contribuintes que a proposta do fundo norte-americano apresenta parece refletir a posição assumida também ontem pelo governo, através de Mário Centeno, que em entrevista ao DN/TSF deixou bem claro que "uma garantia de Estado para suportar um negócio privado e que ponha em risco dinheiro dos contribuintes é obviamente algo que nós não estamos a perspetivar neste negócio". Como a decisão final compete ao governo, é natural que algumas cláusulas da oferta tenham de ser revistas, caso contrário a oferta pode ser chumbada..Conforme explica o comunicado do BdP, e apesar de a proposta do Lone Star ser a que melhor assegura "a estabilidade do sistema financeiro e o reforço da confiança no futuro do Novo Banco", a verdade é que está longe de ser perfeita do ponto de vista dos contribuintes. "No momento atual da negociação, a proposta do potencial investidor Lone Star é a que mais assegura estes objetivos [estabilidade e confiança] mas apresenta condicionantes, nomeadamente um potencial impacto nas contas públicas, que se procurarão minimizar ou remover no aprofundamento das negociações que agora se inicia", diz o supervisor..A posição do BdP surge depois de ontem o governo ter atirado um balde de água fria sobre o favoritismo do Lone Star, ao chumbar qualquer intenção de associar garantias públicas à venda do Novo Banco. A proposta do fundo norte-americano prevê, além de 750 milhões de pagamento e de um aumento de capital na instituição, a criação de um veículo para ficar com os ativos não estratégicos do banco, veículo em que parte dos riscos ficaria com os contribuintes..Para não ficar sem alternativas, e assim manter alguma pressão sobre o Lone Star, o BdP decidiu também não riscar nenhum dos outros candidatos que "já mostraram disponibilidade" para melhorar as propostas no futuro. Esta abertura negocial pode ser determinante, já que tanto a oferta da Apollo/Centerbridge como a apresentada pelo Minsheng estão essencialmente dependentes de tempo: os primeiros para terminar a análise ao ex-BES, os segundos para obter a garantia exigida.