Liderança humanizada é o desafio do futuro do trabalho
Nunca, como agora, foi tão importante falar de liderança. Na nova era, marcada pela tremenda transformação que a crise pandémica impôs ao mundo do trabalho, os desafios dos líderes empresariais - e não só - são mais do que muitos. Discutir a necessidade de uma liderança cada vez mais humanizada é o mote para a realização da Cimeira Lusófona da Liderança, que arrancou ontem. Até dia 19, 50 oradores de cinco países - Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde - vão debater cinco temas fundamentais para as questões da liderança, um por cada dia do evento, que se realiza online e com acesso gratuito (programa completo em https://cimeiralusofonadelideranca.com/).
São esperados cerca de mil participantes, oriundos de vários pontos do mundo, nesta segunda edição do evento que nasceu em plena pandemia. O primeiro dia abre logo com uma questão atual e premente, a Saúde Mental nas Organizações, tendo como keynote speaker Anabela Chastre, fundadora da Chastre Consulting, dinamizadora e presidente da cimeira que envolve vários parceiros nos cinco países da lusofonia.
"Neste ano e meio houve uma mudança no paradigma da liderança. Se até agora as pessoas estavam todas nos escritórios, hoje o mundo do trabalho mudou com o teletrabalho e os modelos híbridos, marcados pelo distanciamento entre as pessoas, o que exige uma nova liderança, mais humanizada, mais preocupada, mais emocional. O objetivo desta cimeira é ouvir testemunhos de pessoas de vários contextos organizacionais, conhecer as suas vivências nesta fase de pandemia e o que pensam sobre o futuro. Num dos painéis, no tema da Saúde Mental, por exemplo, vamos ouvir as boas práticas da Jerónimo Martins", explica a CEO.
Anabela Chastre, 48 anos, tem mais de 20 anos de experiência acumulada no setor empresarial, sobretudo na área de Recursos Humanos. Os últimos 12 focados no coaching e liderança, primeiro como consultora freelancer e depois com a criação da sua própria marca, a Chastre Consulting, projeto que fundou em 2013. A CEO partilha a gestão desta organização com o seu braço direito, Nuno Pereira, chief training officer, e juntos dedicam-se a ativar, junto das empresas clientes, aquilo a que chamam de power skills, ou seja, competências mais pessoais como a empatia, a comunicação e o feedback. Neste ainda curto percurso, a Chastre Consulting já trabalhou com mais de 150 empresas líderes de mercado, envolvendo qualquer coisa como 20 mil colaboradores em 750 projetos de formação e coaching, nos vários países lusófonos onde atua.
A executiva, licenciada em Comunicação e Jornalismo, que tinha como ambição vir a ser jornalista, acabou por encontrar no setor das telecomunicações a pedra basilar em que iria assentar o seu caminho profissional.
Quando em 1999 integrou a jovem equipa da Optimus, empresa do universo Sonae que viria a marcar o panorama empresarial nacional em vários aspetos, não esperava que o seu percurso seguisse na direção dos talentos humanos e das lideranças. "Entrei numa empresa de sonho com mentes brilhantes, onde aprendi muito com pessoas como o meu diretor, Manuel Ramalho Eanes, António Casanova, então CEO da operadora, e Rui Paiva, outro grande profissional. Eles inspiraram-me."
Quando optou por sair, por razões pessoais e familiares, lançou-se como consultora independente, crescendo a pulso num mundo dominado pelas grandes empresas, aproveitou para ter algumas experiências enriquecedoras como o voluntariado na AMI, que lhe deu a perspetiva de quem nada tem. Os primeiros projetos de formação, que agarrou com unhas e dentes, foram em Angola, germinando aqui a semente do seu já grande amor pelos países lusófonos, que representaram na sua vida um processo de aprendizagem constante. Angola, Moçambique e Cabo Verde foram os locais onde, refere, teve o privilégio de dar formação e de onde trouxe tanto. "Nestes países, as pessoas reconhecem o papel do formador, são ávidas de conhecimento, são gratas por aprender", explica. Quando começou a desenhar a cimeira de liderança estes países não poderiam ficar para trás.
Apesar de tímida em criança, fraqueza que transformou em força, hoje é uma comunicadora nata, extremamente sociável e define-se "como uma pessoa que gosta de pessoas". Adora viajar, tem como hobbie a fotografia e assegura que a sua carreira é uma missão, um propósito a que não pode deixar de dar continuidade, apesar de todas as pedras que encontrou pelo caminho. Com vários papéis na vida, como executiva (profissional), oradora internacional, professora e autora livros (liderança), esposa e mãe (pessoal), o seu currículo está recheado de formações, como a pós-graduação em Gestão Estratégica de Recursos Humanos, e certificações como a de Programação Neurolinguística. O caminho não tem sido fácil, mas a aposta foi certeira: encontrou nesta missão aquilo que a faz feliz e que a motiva.