Os trabalhadores licenciados que menos ganham, em termos brutos, são os mais penalizados pelas empresas do setor privado comparativamente aos salários brutos praticados no setor público..De acordo com um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), ontem divulgado (terça-feira, 23 de maio) por ocasião do 88º aniversário da instituição, os licenciados que menos ganham no setor privado recebem ordenados 40% inferiores quando se compara com os mesmos grupos (percentis) que compõem a parte inferior da distribuição, isto é, onde vigoram os ordenados mais baixos para quem tem um curso superior..O ano de referência desta nova base de dados é 2021..Por exemplo, segundo o INE, o grupo dos licenciados que menos ganha (percentil 10, ou seja, o grupo dos 10% menos abonados) aparece com uma média salarial de apenas 865 euros brutos no setor privado, menos 41% face ao salário médio bruto dos 10% de trabalhadores licenciados do setor público com menores rendimentos..Neste último, o salário médio é 1458 euros, ou seja, 593 euros superior face ao que acontece no setor privado..O mesmo sucede nos grupos (percentis) de licenciados à medida que se sobe na distribuição de rendimento..Os diplomados ganham sempre cerca de 40% menos do que os seus congéneres do setor público até ao percentil 40 (os 40% que menos ganham), onde o salário médio no privado é de apenas 1501 euros. No público, a média neste grupo ascende a 2410 euros..Depois, a partir deste ponto, à medida que se sobe no nível salarial dos licenciados, o prémio por trabalhar no setor público continua a ser significativo, mas torna-se gradualmente menos expressivo (ver infografia mais em baixo)..Por exemplo, o grupo dos 5% de licenciados que mais ganham no setor privado (média salarial de 5464 euros brutos) já só fica com uma desvantagem de rendimento de 3% face ao grupo equivalente do setor público..Mas em termos nacionais, fica provado pelos dados do INE que um licenciado do privado sai a perder mais de 23%, em média, face aos diplomados da função pública..Este novo estudo do INE analisa a distribuição das remunerações brutas por trabalhador no setor das Administrações Públicas (AP) e no setor privado, em Portugal..O trabalho tem por base "a informação da Declaração Mensal de Remunerações transmitidas pelas empresas à Autoridade Tributária (AT), remetida mensalmente ao INE ao abrigo de um protocolo"..Segundo o INE, "os trabalhadores do setor das AP e do setor privado aqui analisados correspondem a indivíduos que trabalharam, exclusivamente, num único setor institucional"..Ou seja, o estudo incide sobre 740,9 mil trabalhadores públicos e 3,799 milhões trabalhadores do privado, refere o instituto.."Os dados da AT correspondem, essencialmente, a trabalhadores por conta de outrem", acrescenta..O indicador central usado é "a remuneração bruta mensal média por trabalhador, que corresponde ao valor médio da remuneração mensal ilíquida (isto é, antes de impostos) recebida por trabalhador e por ano"..Trabalhador público ganha mais 684 euros mensais do que o privado.De resto, esta estatística do emprego vem confirmar muitos aspetos que já era conhecidos, mas agora com dados mais atualizados (2021)..Por exemplo, o INE mostra que os funcionários públicos ganham bastante mais (50% acima) do que os empregados do setor privado..A explicação está, em parte, no facto de as qualificações mais avançadas no público terem muito mais representatividade, como explica o INE..Pode-se pensar no exemplo dos médicos, enfermeiros e professores, que têm um peso muito elevado nos quase 741 mil funcionários públicos contabilizados pelo instituto.."Em 2021, a remuneração bruta mensal média por trabalhador era mais elevada no setor das AP do que no setor privado", diz o INE..O salário médio no setor público rondou os 2019 euros, mais 51% (684 euros a mais, por mês) do que no privado, onde o ordenado bruto médio nacional se ficou pelos 1335 euros.."Este resultado reflete, como referido e entre outros fatores, diferenças no tipo de trabalho realizado e qualificações dos trabalhadores que os integram."."Com efeito, verifica-se, por exemplo, que os trabalhadores do sector das AP têm, em média, níveis de escolaridade mais elevados: 55,2% dos trabalhadores neste setor tinham ensino superior (22,7% no setor privado), 26,6% tinham completado o ensino secundário ou pós-secundário (32,4% no setor privado) e 18,3% tinham um nível de escolaridade correspondente, no máximo, ao 3.º ciclo do ensino básico (44,9% no setor privado)", descreve o INE..Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo