Isabel dos Santos terá desviado dinheiro de Angola
Milhares de documentos obtidos pela Plataforma de Proteção de Denunciantes em África e partilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) revelam como Isabel dos Santos, a mulher mais rica da África, fez alegadamente a sua fortuna através da exploração do próprio país e da corrupção.
Os documentos foram investigados por 37 órgãos de comunicação social, incluindo o Expresso e a SIC. O ICIJ denominou os documentos "The Luanda Leaks".
Num dos casos, o Expresso conta como Isabel dos Santos desviou, alegadamente, 100 milhões de dólares (90,2 milhões de euros) da petrolífera estatal angolana Sonagol para o Dubai.
Segundo a BBC, "Isabel dos Santos teve acesso a acordos lucrativos envolvendo terras, petróleo, diamantes e telecomunicações quando seu pai era presidente de Angola, um país do sul da África rico em recursos naturais".
Adianta que, os documentos mostram como Isabel dos Santos e o marido, Sindika Dokolo, tiveram autorização para comprar bens valiosos do Estado numa série de negócios suspeitos.
"Agora, a BBC Panorama teve acesso a mais de 700.000 documentos sobre o império comercial da empresária. A maioria foi obtida pela Plataforma de Proteção de Denunciantes na África e compartilhada com o CIJI", refere ainda a BBC.
O ICIJ analisou 356 gigabytes de dados relativos aos negócios da filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, no período entre 1980 e 2018.
Foram identificadas ao todo mais de 400 empresas a que Isabel dos Santos teve uma ligação nas últimas três décadas, incluindo 155 portuguesas e 99 angolanas.
Os documentos indicam que alegadamente, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no Eurobic em Portugal foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária. O Eurobic tem Isabel dos Santos como maior acionista.
São quatro os portugueses que são referidos como estando alegadamente envolvidos nos esquemas financeiros de Isabel dos Santos: Paula Oliveira, administradora não-executiva da NOS e diretora de uma empresa offshore no Dubai, Mário Leite da Silva, presidente executivo da Fidequity, o advogado Jorge Brito Pereira e Sarju Raikundalia, administrador financeiro da Sonangol.
A NOS, é controlada pela Zopt, uma holding detida pela Sonae e por Isabel dos Santos. No caso do Fidequity, trata-se de uma sociedade de Isabel dos Santos e do seu marido, sedeada em Lisboa.
Segundo Andrew Feinstein, responsável da Corruption Watch, os documentos mostram, alegadamente, como Isabel dos Santos explorou o seu país à custa dos angolanos.
"Sempre que ela aparece na capa de uma revista em algum lugar do mundo, sempre que organiza uma de suas festas glamorosas no sul da França, ela o faz pisando nas aspirações dos cidadãos de Angola", afirmou Feinstein, citado pela BBC.
Isabel dos Santos afirmou este domingo que a investigação se baseia em "documentos e informações falsas".
"As notícias do ICIJ baseiam-se em muitos documentos falsos e falsa informação, é um ataque político coordenado em coordenação com o Governo Angolano. 715 mil documentos lidos? Quem acredita nisso?", afirmou a empresária na sua conta na rede social Twitter, tendo adicionado "#icij #mentiras".
Adiantou que a sua "fortuna" tem origem no seu "caráter, inteligência, educação, capacidade de trabalho e perseverança".
Num ataque à SIC e ao Expresso, Isabel dos Santos acusou os órgãos de comunicação social do grupo Impresa de "racismo" e "preconceito".
A empresária está sob investigação criminal pelas autoridades em Angola por corrupção e os seus bens no país foram congelados.