Investidores em Early Stage - a mão invisível do ecossistema de empreendedorismo

<em>Countdown to </em>Web Summit 2022 com Lurdes Gramaxo, <em>partner</em> da Bynd Venture Capital e presidente da Investors Portugal.
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Segundo a Startup Portugal, em 2019, as startups já representavam 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, e dados de um estudo da consultora Boston Consulting Group apontam que, neste mesmo ano, a economia digital já atingia os 12,7 mil milhões de euros. Já em 2021, mais mil milhões de euros foram investidos em startups de base tecnológica, em Portugal, segundo a plataforma DealRoom. São números impressionantes que refletem a reputação do país na área tecnológica e de inovação e a crescente atratividade de talento, capital que tornou Portugal um caso de sucesso nos rankings de ecossistemas emergentes e que resulta de uma estratégia dedicada ao empreendedorismo que se começou a implementar há cerca de 12 anos.

Mas este é o princípio e não o fim. Ainda nos falta experiência, dinâmica de mercado e políticas para nos podermos consolidar como um mercado maduro. E este caminho depende de todos os intervenientes deste ecossistema, não apenas dos empreendedores, nem apenas do governo.

Ao longo dos últimos anos, assistimos a grandes passos para o ecossistema de empreendedorismo, como a organização de grandes eventos do setor, a criação de condições para atrair tecnológicas de todo o mundo, a promoção de iniciativas a nível regional e nacional para a exposição das nossas startups em mercados internacionais, e a aceleradoras e incubadoras para geração de novos negócios. E assistimos também ao aparecimento e consolidação de uma nova classe de investidores, os investidores em early-stage, que acreditaram no potencial destas novas empresas de base tecnológica e tornaram possível o seu crescimento.

Estes intervenientes de quem se fala menos, sejam business angels ou fundos de capital de risco, foram construindo o seu caminho, seguindo um percurso de crescente profissionalização, consolidando redes de parceria com congéneres nacionais e internacionais e atraindo mais investimento privado que começou a acreditar neste ativo como uma alternativa a considerar.

Estes investidores em early-stage têm um grande impacto no sucesso das startups que nascem em solo português, que vai além de serem uma mera fonte de financiamento.

Por um lado, servem como um filtro natural do próprio ecossistema, impulsionando aquelas que têm o que é necessário para vingar num mercado global; por outro, naquelas em que investem, contribuem decisivamente para o seu sucesso através de um acompanhamento próximo, mentoria, abertura de contactos estratégicos e, apoio no desenvolvimento do negócio. Contudo, apesar do seu papel essencial, nem sempre encontram as condições para eles próprios prosperarem e desenvolverem a sua atividade. Há oportunidades para fazer mais e melhor.

Por um lado, é importante promover o crescimento do investimento em early-stage em Portugal, através de programas de financiamento equitativos que abranjam desde os pequenos investidores individuais aos gestores de fundos de investimento de maior dimensão, valorizando o papel de todos ao longo da cadeia de valor. Neste âmbito, a criação do Programa Semente, que promove um regime fiscal mais favorável a investidores individuais que pretendam entrar no capital social de empresas inovadoras, foi um passo muito positivo que ainda está aquém do seu potencial. Os baixos níveis de adoção mostram que a iniciativa pode ser otimizada, com a simplificação de critérios de elegibilidade, o alargamento da tipologia de investimentos que podem ser considerados e o reforço da dotação do incentivo.

Por outro lado, as referências internacionais, que estão em fases mais avançadas de maturidade, mostram-nos também alguns exemplos de como promover a mobilização do capital privado para o investimento em early-stage, de forma que o capital público seja cada vez menos necessário no médio prazo, que passam pelo alargamento das fontes de financiamento, do incentivo ao investimento de fundos institucionais e fundos de pensões, e de incentivos de dedução simplificada e gradual dos investimentos realizados.

A base do ecossistema de empreendedorismo está criada e a sua importância na exposição da marca Portugal a nível internacional está comprovada. Após o ganho desta reputação, é importante conseguir mantê-la e melhorá-la, não assumindo o trabalho como terminado. É determinante que se mantenha o desenvolvimento deste ecossistema como sendo um fator estratégico para tornar Portugal uma economia mais digital, mais sustentável, mais diversa e inclusiva.

Nova rubrica
Countdown to WebSummit 2022 é uma nova rubrica no Diário de Notícias, que antevê algumas das tendências que vão marcar o próximo encontro mundial das startups no final de outubro, em Lisboa. Até à semana do evento, estarão em análise as oportunidades e os desafios dos investidores, os exemplos inspiradores e as novidades que vão marcar a agenda dos empreendedores nacionais e mundiais. O palco passa por aqui, com a reflexão de especialistas numa nova série de artigos de opinião. O artigo hoje publicado tem a assinatura de Lurdes Gramaxo, partner da Bynd Venture Capital e presidente da Investors Portugal

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