Subida de 20% no crude tira 1,2 mil milhões a Portugal
Uma subida de 20% no preço do barril de petróleo brent, a principal referência para o mercado português, rouba diretamente 1,2 mil milhões de euros ao produto interno bruto (PIB) anual, de acordo com o modelo de "análise de riscos e sensibilidade" do governo. O Orçamento do Estado deste ano (OE 2018) foi alicerçado na hipótese de o preço médio do barril de crude ficar perto dos 55 dólares (54,8) neste ano.
No entanto, o crescendo de tensões envolvendo Estados Unidos, Irão, Israel e Rússia está a levar a uma forte subida do custo da matéria-prima. A pressão é tal que, em abril, no Programa de Estabilidade o governo atualizou a sua previsão para o petróleo para 65,9 dólares. É 20% acima do que está no OE.
No início deste mês, a Comissão Europeia elevou ainda mais a fasquia, assumindo agora uma média de 67,7 dólares por barril neste ano.
Mas a cotação parece imparável. O preço médio entre 1 de janeiro e ontem já ia em 69,1 dólares, o brent cotava nos 78,3 dólares.
Cálculos do DN/Dinheiro Vivo com base no modelo do Ministério das Finanças, que aparentemente já é conservador tendo em conta os desenvolvimentos mais recentes nos mercados da energia, indicam que um choque de 20% no preço do petróleo levaria a que o crescimento nominal do PIB fosse 3,2% e não 3,8% como espera o governo.
Ou seja, em vez de o PIB subir de 193 mil milhões de euros (2017) para os 200,4 mil milhões atualmente esperados, a riqueza anual da economia só avançaria até 199,2 mil milhões de euros. A erosão de valor que resulta do encarecimento do crude ascenderia aos referidos 1,2 mil milhões de euros.
O encarecimento do crude em mais 20% traduz-se ainda numa taxa de crescimento real da economia mais fraca. Roubaria uma décima de ponto. Se tal acontecer, o país cresce 2,2% e não 2,3% como projeta o governo. O aumento do petróleo tem um efeito negativo em Portugal porque a economia ainda é altamente dependente do ponto de vista energético face aos combustíveis fósseis.
No ano passado, Portugal precisou de importar mais de oito mil milhões de euros em produtos energéticos (petróleo e combustíveis incluídos), mas só exportou metade desse valor. Tem aqui uma balança comercial muito deficitária.
Além de fazer abrandar a economia, o crude mais caro traz inflação para a economia e agrava o défice comercial. No entanto, o governo não estima que impactos relevantes tem no défice público ou na dívida.
Relativamente ao preço do petróleo, as Finanças dizem que "o pressuposto é de que aumente neste ano, tendo sido revisto em alta face às projeções de outono de 2017 pelas instituições internacionais, e que recue a partir de 2019 para se situar abaixo de 60 dólares por barril".