Lisboa é das cidades em que preços de casas menos subiram

FMI avisa que metade das transações estão a ser feitas com recurso a crédito bancário. É preciso monitorizar o risco
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Lisboa é, num grupo de 42 capitais mundiais, das que registaram aumentos mais suaves nos preços da habitação entre 2013 e 2017, em termos reais (descontando a inflação), mostra um estudo do FMI ontem divulgado. E avisa que é preciso estar atento ao desenrolar da situação. Pode haver riscos de paragem súbita, o que traria problemas à economia.

Desde que acabou a grande crise financeira, a variação dos preços das casas foi muito diversa nas cidades analisadas. Xangai (China) teve o maior aumento, uns impressionantes 14% em apenas quatro anos, logo seguida de Auckland (Nova Zelândia), Sydney (Austrália) e Budapeste (Hungria), onde os preços dispararam mais de 10% no período em análise. Na cauda deste ranking aparecem Moscovo (Rússia) e Roma (Itália), com desvalorizações reais de quase 5%.

Em Lisboa, revela o FMI, o fenómeno de valorização existe (em 2017 foi particularmente pronunciado), mas nos últimos quatro anos até foi dos mais moderados, mais até do que em Madrid, com os preços das casas a avançarem pouco mais de 1%. É que durante a crise o imobiliário sofreu fortes desvalorizações, no contexto de forte supressão no acesso ao crédito e de subida do desemprego. Em 42 capitais, a variação dos preços em Lisboa é apenas a 29.ª maior.

"O aumento dos preços das casas foi uma componente da recuperação económica em muitos países desde a crise financeira global", que experimentaram subidas "rápidas", reconhece o FMI. No entanto, "este impulso generalizado ao crescimento económico pode suportar uma procura adicional por casas em muitos países, levando a pressões adicionais no sentido da subida de preços".

O FMI revela ainda que "os aumentos recentes dos preços habitacionais têm ocorrido num ambiente de condições financeiras fáceis nas principais economias avançadas, caracterizados por taxas de juro baixas, spreads esmagados e baixa volatilidade", situação que "eleva o espetro da instabilidade financeira caso as condições se invertam e, simultaneamente, levem a um declínio nos preços da habitação".

"A elevada sincronização dos preços da habitação [em vários países e na maioria das 42 cidades analisadas] é um risco para a atividade económica real" quando e se, por exemplo, bancos centrais, como o BCE, deixarem de fornecer dinheiro ultrabarato.

No caso de Portugal, a missão do FMI fez avisos concretos nesse sentido. Disse que o turismo explica boa parte da explosão imobiliária, mas há evidências de que, embora os preços estejam a subir por causa das compras feitas por estrangeiros, quase metade das novas transações estão a ser feitas com recurso a crédito bancário. Ainda ontem o Banco de Portugal indicou que os novos créditos aumentaram 26% (ver texto ao lado).

"É necessário monitorizar de perto os crescentes riscos do mercado imobiliário. Embora o crescimento recente dos preços da habitação não tenha sido impulsionado pelo ciclo do crédito, as autoridades macroprudenciais [Banco de Portugal] devem permanecer vigilantes e estar prontas para tomar medidas adicionais, se necessário, para evitar a acumulação de desequilíbrios e fortalecer a resiliência da banca."

O governo respondeu que não tem "indicações claras de que haja sobreavaliação no mercado imobiliário nesta fase, mas reconheceu que os desenvolvimentos recentes merecem monitorização mais aprofundada".

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