A imparável quarta revolução industrial pode criar um mundo de oportunidades para as empresas mas está recheada de riscos para os trabalhadores. A concentração de riqueza pelos grupos económicos, a falta de descanso e a necessidade constante de formação para os trabalhadores foram os alertas deixados ontem por políticos, professores e sociólogos, que discutiram o futuro do mercado laboral na indústria 4.0 durante a Cotec Europe Summit, que decorreu em Mafra..A concentração da riqueza pelas empresas é o principal risco. "As novas empresas tecnológicas enriquecem mais com muito menos empregos. Temos de garantir que a receita criada pela tecnologia vai contribuir para a melhoria da vida dos humanos", assinalou Arlindo Oliveira, presidente do Instituto Superior Técnico (IST). "A maior parte do desemprego é resultado de uma crise de um regime de acumulação de capital da finança. A concentração da riqueza no topo vai ter de ser mexida", avisou Manuel Carvalho da Silva, sociólogo do Centro de Estudos Sociais (CES)..A indústria 4.0 também está a dificultar a distinção entre trabalho e descanso. Graças à inteligência artificial, "o conceito de trabalho das 09.00 às 17.00 está destruído", segundo Arlindo Oliveira. O ex-secretário-geral da CGTP pede "clarificação do conceito de trabalho e não trabalho": as pessoas "não podem perder o controlo do tempo" porque a sociedade "está a caminhar para um permanente caos entre tempos de trabalho e de descanso, com consequências no convívio de família", alertou..A formação ao longo da vida será outra constante da indústria 4.0, porque "65% das crianças atualmente na escola vão trabalhar em profissões que ainda não existem", lembrou o comissário europeu Carlos Moedas. Esta revolução, que quer acabar com as tarefas rotineiras, "eleva a fasquia ao nível das competências que as pessoas têm de ter para que sejam mais valiosas do que um computador", destaca Arlindo Oliveira..O governo português lançou há um ano a sua estratégia para a indústria 4.0. Mais de metade (40) das medidas (64) já está em execução. Desde o desenvolvimento de programas de aceleração para a mobilidade - como o 4Scale, em parceria com o CEiiA - a iniciativas de capacitação - como o InCode - há projetos com impacto para empresas e trabalhadores, segundo a secretária de Estado da Indústria. Ana Teresa Lehmann anunciou ainda que existem 700 milhões de euros de financiamento para executar em 2018..O apoio financeiro para esta revolução industrial, no entanto, não chega, na perspetiva do Presidente da República. "Esta economia 4.0 não exigiria uma União Europeia 4.0 e sistemas políticos 4.0 e sistemas sociais 4.0? Uma resposta simples dirá que a mudança em curso é imparável e que o resto virá por acrescento. Nada parará a mudança. Mas se for acompanhada por uma União Europeia 4.0 e sistemas políticos 4.0 e sistemas sociais 4.0", alertou Marcelo Rebelo de Sousa na sessão de encerramento.