FMI corta crescimento de Portugal e sobe taxa de desemprego
O crescimento da economia portuguesa vai ser ligeiramente menor do que o esperado este ano, cerca de 1,7%, e a taxa de desemprego descerá menos, ou seja, foi revista em alta para 6,8% da população ativa, indica o Fundo Monetário Internacional no novo Panorama Económico Mundial (outlook da primavera), divulgado esta terça-feira a partir de Washington.
A instituição dirigida por Christine Lagarde alinha agora a sua projeção de crescimento pela mesma bitola da Comissão Europeia (que em fevereiro projetou igualmente 1,7% de retoma em 2019) e do Banco de Portugal (março). O Conselho das Finanças Públicas (CFP) está um pouco mais pessimista já que projeta um crescimento de 1,6%.
Todos estes cenários para a economia são notoriamente mais fracos que o previsto pelo Governo. O Orçamento do Estado atualmente em vigor (OE2019) está construído em cima do pressuposto de que a economia interna vai avançar 2,2%.
No outlook do outono, o FMI esperava que Portugal crescesse 1,8% em 2019, valor que a missão que acompanha o País manteve no final de novembro.
Mais significativa foi a revisão em alta da taxa de desemprego. O FMI é agora a instituição mais pessimista de todas, apontando para 6,8% este ano. Há quatro meses, a missão que vigia o pós-programa de ajustamento previa 6,5%. No OE2019, o governo inscreveu uma previsão de 6,3% para este ano, em março, o CFP e o Banco de Portugal projetaram, ambos, 6,1%.
Em todo o caso, o desemprego continua a descer. Em 2018, a média de pessoas sem trabalho ficou em 7% da população ativa.
No novo outlook, Portugal sofre um corte de uma décima no crescimento, mas a zona euro foi mais penalizada. A área da moeda única só deve crescer 1,3% este ano, a pior marca desde a última crise (em 2013, zona euro estava em recessão, a economia sofreu uma contração de 0,2%, segundo o próprio FMI). A região está a ser arrastada pelo abrandamento das suas maiores economias.
A Alemanha, a maior delas, só deve avançar 0,8% em 2019 (corte de cinco décimas face à atualização do Outlook feita em janeiro último), França cresce 1,3% (menos duas décimas) e Itália está virtualmente estagnada com uma expansão de apenas 0,1% (menos 0,5 pontos percentuais).
E nem Espanha escapa. Pelas contas do Fundo, o maior parceiro económico da economia portuguesa cresce 2,1% este ano, menos uma décima face ao esperado em janeiro.
O FMI refere que "após um forte crescimento em 2017 e no início de 2018, a atividade económica global desacelerou notavelmente no segundo semestre do ano passado, refletindo uma confluência de fatores que afetam as principais economias. O crescimento da China reduziu-se após uma combinação de mais regulação para conter o sistema bancário paralelo e um aumento nas tensões comerciais com os Estados Unidos".
"A economia da zona euro perdeu mais dinamismo que o esperado, uma vez que a confiança dos consumidores e das empresas enfraqueceu e a produção automóvel na Alemanha foi interrompida pela introdução de novas normas para as emissões" de gases poluentes.
Em Itália, "o investimento caiu à medida que as taxas de juro soberanas aumentaram; e a procura externa, especialmente dos países emergentes da Ásia, diminuiu".
Noutros pontos do mundo, o FMI menciona os "desastres naturais que prejudicaram a atividade no Japão", bem como as referidas tensões comerciais "que penalizaram cada vez mais a confiança das empresas e, assim, o sentimento do mercado financeiro".
As condições financeiras, isto é a abundância ou facilidade em obter capital e crédito, acabaram por ficar mais "apertadas" nos mercados emergentes a partir da primavera de 2018 e depois disso "nas economias avançadas no final do ano", o que também "pesa" na procura global, refere a instituição de Washington.
Nesse aspeto, nem os Estados Unidos escapam ao clima global mais sombrio. A maior economia do mundo deve crescer 2,3% este ano, abrandando para 1,9% no ano que vem. Em 2019, a revisão em baixa ronda as duas décimas, indica o FMI.
Tudo somado, o crescimento mundial refletirá a deterioração das condições. A economia mundo deve avançar apenas 3,2% em 2019, menos 0,2 pontos percentuais do que se pensava em janeiro.
Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo