Consumo das famílias volta a reinar e tem maior subida em 19 anos

Avanço das importações será maior que o das exportações, o que dá novo défice da balança comercial a partir de 2020, avisa Banco de Portugal.
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O consumo das famílias residentes em Portugal vai continuar a crescer acima da criação de riqueza da economia nos próximo anos. Segundo o Banco de Portugal, em 2019, estas despesas (que são o maior agregado do produto interno bruto ou PIB) vão subir uns significativos 2,7%, bem acima dos 1,7% previstos para a evolução anual do PIB português.

É preciso recuar 19 anos, ao ano 2000, para encontrar uma expansão superior do consumo privado. Nessa altura, avançou 3,7%.

No novo boletim económico (edição de março ou da primavera), o BdP afirma que "o aumento do consumo privado está associado à evolução favorável do rendimento disponível real das famílias, que reflete o aumento do emprego e dos salários nominais, incluindo o salário mínimo em 2019, e a evolução contida dos preços".

Além disso, "a confiança dos consumidores permanece em níveis elevados" e há medidas do governo (no Orçamento deste ano) que "contribuem para o aumento do rendimento disponível das famílias". É o caso do "descongelamento de carreiras nas administrações públicas", sendo ainda "de destacar os efeitos das medidas de redução dos impostos sobre as famílias e de aumento das prestações sociais".

Em todo o caso, o recorde desde ano vai viver pouco tempo. Segundo o Banco "ao longo do horizonte de projeção, o consumo privado (corrente e duradouro) desacelera, em linha com o rendimento disponível real, cujo abrandamento reflete essencialmente a desaceleração do emprego".

"O desvanecimento do impacto associado ao aumento do salário mínimo e às medidas de finanças públicas incorporadas, bem como a redução da inflação em 2019 influenciam a trajetória de desaceleração".

Portanto, depois de um pico de 2,7%, o crescimento do consumo continua mas a um passo mais modesto. A partir de 2019, o BdP não assume novos aumentos do salário mínimo, por exemplo, nem outras medidas de devolução de rendimentos, por não estarem legisladas.

Por isso mesmo, diz, na parte que diz respeito ao sector público, que "o consumo público deverá permanecer relativamente constante, num contexto em que se assume um crescimento muito moderado do emprego público".

Importações e exportações dificultam crescimento

Como referido, o BdP afirma que "o padrão de crescimento projetado para a economia portuguesa permanece assente no crescimento do consumo privado", mas nota também "o dinamismo da formação bruta de capital fixo (FBCF ou investimento fixo) e o aumento sustentado das exportações".

"O peso das exportações no PIB deverá situar-se em cerca de 47% em 2021, aumentando cerca de 3 pontos percentuais (pp) do PIB face a 2018. Esta evolução traduz-se no aumento continuado do grau de abertura da economia".

Em todo o caso, "o contributo da procura interna para o crescimento do PIB será superior ao das exportações".

Assim é porque "o crescimento das importações será maior do que o das exportações, o que se traduz num saldo negativo da balança de bens e serviços a partir de 2020". Portugal volta a ter défice comercial, basicamente.

Em 2019, as importações, que foram revistas em alta significativa, devem avançar 6,3%. As exportações ficam-se pelos 3,8%.

Por fim, "não obstante" este défice, "projeta-se a manutenção de um excedente da balança corrente e de capital ao longo do horizonte de projeção, com um contributo importante do aumento esperado das transferências da União Europeia (UE) neste período", refere o Banco.

Turismo salva a situação, mas também abranda

"À semelhança do observado em 2018, as exportações de turismo deverão abrandar ao longo do horizonte de projeção, após os crescimentos extraordinários registados no passado recente e num quadro de recuperação de alguns destinos concorrentes", diz o BdP.

Em todo o caso, ainda é o sector mais dinâmico em termos de ganhos com o mercado externo. "Os ganhos de quota de mercado projetados para 2019-21 estão essencialmente relacionados com a atividade turística", aponta o o banco central no novo estudo.

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