Há mão portuguesa por trás da parceria alemã entre Vodafone e Altice
Os grupos de telecomunicações Vodafone e Altice vão criar a FibreCo para construir e operar uma rede de fibra ótica que levará internet de banda larga a sete milhões de casas na Alemanha, nos próximos seis anos. O negócio visa apenas o mercado germânico, mas, revela fonte oficial da Altice Portugal ao Dinheiro Vivo, envolve engenharia portuguesa.
Em causa está uma joint venture projetada pelas cúpulas internacionais dos dois grupos e anunciada na Alemanha na segunda-feira. Gerou surpresa por se tratar de duas telecom rivais, mas a Vodafone precisa de um parceiro para desenvolver a internet de banda larga em fibra ótica que fornece aos alemães e a Altice, que não tem presença retalhista na Alemanha mas começou este ano a exportar serviços de construção e gestão de redes para solo germânico, tem o know-how necessário.
A FibreCo será detida em 50% pela Vodafone e em 50% pela Altice e abrirá portas até ao final de junho de 2023 (aguarda aprovação regulatória). Os planos de investimento da nova empresa ascendem a sete mil milhões de euros, sendo que 70% deverão ter origem em emissões de dívida sem recurso à Vodafone e Altice. E, embora se trate de um negócio partilhado, o acordo prevê que a Altice dê "recursos" à Vodafone, pagando até 1,2 mil milhões de euros, incluindo um adiantamento de 120 milhões de euros, mais um total de 487 milhões de euros (pagamento diferido à medida que a nova rede seja construída), e proveitos de 595 milhões de euros, mediante o desempenho do projeto.
Para construir e desenvolver a rede que será controlada pela FibreCo já há um contrato fechado com a Geodesia, holding do grupo Altice para o negócio da construção de redes. A Geodesia será responsável pela "construção e manutenção" da maior parte" do roll-out (instalação) da nova rede de fibra ótica. É aqui que entra a mão portuguesa neste negócio alemão.
De acordo com fonte oficial da Altice Portugal, "toda a implementação tecnológica" envolvida no desenvolvimento da FibreCo "é Altice". Apesar desta parceria ter sido tratada pela Altice Europe, a mesma fonte afiança que o "know-how tecnológico" da FibreCo "é made in Portugal", realçando que a engenharia lusa é "de nível mundial" no desenvolvimento de fibra ótica. Ainda que questionada, até ao fecho desta edição, a mesma fonte não deu mais detalhes sobre a forma como a operação portuguesa da Geodesia exporta serviços para a Alemanha. Não obstante, grande parte da inovação da Altice em fibra ótica presente nos serviços da Geodésia tem sido desenvolvido pela Altice Labs, em Portugal.
A Geodesia foi criada em 2000, mas só em 2015 ganhou relevância internacional ao passar a operar em todas as geografias onde a Altice tinha operação, incluindo Portugal. No país, a Geodesia é a antiga Meo Serviços Técnicos (que incorporou a TNord e SudTel), lançada em 2019 e que então representava dois mil empregos.
"Fomos pioneiros em joint ventures de fibra ótica em França e em Portugal e estamos satisfeitos por replicar isso na Alemanha com a Vodafone", realça David Drahi, co-CEO da Altice Europe, em comunicado, indicando que a nova parceria com a Vodafone vai "criar um dos maiores empreendimentos em fibra ótica da Europa".
Na Alemanha, a Geodesia presta ainda serviços à Deutsche Glasfaser, empresa de telecomunicações focada nas áreas mais rurais.
Para a Vodafone, a parceria com a Altice Europe vai complementar os atuais planos de desenvolvimento da rede existente de cabos de fibra híbrida, abrindo caminho a que um dia seja possível atingir velocidades de até dez gigabytes por segundo.
"A experiência industrial da Altice e as comprovadas capacidades na área da fibra ótica vai permitir-nos levar a conectividade gigabit ainda a mais clientes na Alemanha", sublinha Nick Read, CEO do grupo Vodafone, também citado em comunicado.
Na Alemanha, a operação local da Vodafone, que assegura internet de banda larga em 24 milhões de casas, vai comercializar a rede da FibreCo em regime de exclusividade.