TAP faz apelo à Groundforce. Mais de 200 voos cancelados

A greve dos trabalhadores da Groundforce levou este sábado ao cancelamento, até ao momento, de mais de 200 voos, entre 119 partidas e 87 chegadas no aeroporto de Lisboa. Seleção de andebol apanhada na confusão.
Publicado a
Atualizado a

A presidente executiva da TAP apelou este sábado à Groundforce que reveja a sua posição, aceitando a proposta para pagamento do subsídio de férias, e lamentou que a empresa tenha posto os seus interesses à frente de clientes e trabalhadores.

"Gostávamos de apelar à Groundforce que reveja a sua posição a sua posição porque está a colocar toda a gente numa posição difícil, não apenas os passageiros, mas também os trabalhadores e, de forma indireta, a economia do país", referiu a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, numa declaração feita hoje no aeroporto de Lisboa, o mais afetado pela greve dos trabalhadores da empresa de 'holdling' que se iniciou às 00:00 deste sábado e se prolonga até às 24:00 de domingo.

Acompanhada pelo presidente executivo (CEO) da ANA - Aeroportos de Portugal, Thierry Ligonnière, e pelo chief operating officer (COO), Ramiro Sequeira, Christine Ourmières-Widener considerou que, ao recusar a proposta da TAP, a Groundforce acabou por empurrar os trabalhadores para a greve, colocando os seus interesses "à frente" dos trabalhadores e passageiros.

A TAP disponibilizou-se para adiantar a verba necessária para que os trabalhadores da empresa de 'handling' pudessem receber o subsídio de férias, mas a proposta foi recusada pela Groundforce

Lamentando o impacto que a greve está a ter nos passageiros - na sequência das quase duas centenas de voos que já hoje tiveram de ser cancelados - a CEO da TAP afirmou que a transportadora "não pode aceitar a falta de respeito" demonstrada pelos passageiros e trabalhadores da Groundforce.

"Os trabalhadores [da Groundforce] fizeram tudo ao seu alcance para evitar esta situação", referiu, acentuando que ainda ontem [sexta-feira] durante a tarde e noite foram realizadas reuniões e contactos com o objetivo de que a solução proposta fosse aceite e se conseguisse evitar a greve.

No entanto, referiu, "a decisão da Groundforce foi de não aceitar a oferta da TAP, parecendo por os seus interesses acima dos trabalhadores e dos clientes", precisou a presidente executiva da TAP.

Antes Thierry Ligonnière tinha feito um novo balanço do impacto da greve que até ao momento levou já ao cancelamento de 119 voos com partida de Lisboa e de 87 que estavam previstos chegar à capital portuguesa.

A estes somam-se oito cancelamentos de e para o Porto, seis de e para Faro, e ainda de dois de e para o Funchal.

A situação de Lisboa é a mais complicada pelo facto de a Groundforce dever assegurar cerca de 65% dos voos, e, referiu, só não é ainda pior devido à organização das equipas e colaboração dos parceiros.

O gestor antecipa que o dia de domingo possa ser ainda mais complicado, uma vez que não estão previstos serviços mínimos.

Hoje é o primeiro dia da greve convocada pelo Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA), como protesto pela "situação de instabilidade insustentável, no que concerne ao pagamento pontual dos salários e outras componentes pecuniárias" que os trabalhadores da Groundforce enfrentam desde fevereiro de 2021.

A paralisação vai prolongar-se pelos dias 18 e 31 de julho, 01 e 02 de agosto, o que levou a ANA a alertar para constrangimentos nos aeroportos nacionais, cancelamentos e atrasos nos voos assistidos pela Groundforce, nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo.

Além desta greve, desde o dia 15 de julho que os trabalhadores da Groundforce estão também a cumprir uma greve às horas extraordinárias, que se prolonga até às 24:00 do dia 31 de outubro de 2021.

A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP, que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português.

O selecionador nacional de andebol, Paulo Jorge Pereira, mostrou-se este sábado revoltado com o cancelamento do voo que devia levar a equipa portuguesa para Tóquio, onde vai participar nos Jogos Olímpicos.

"Sempre fui um defensor acérrimo dos direitos humanos, mas hoje dou por mim a pensar até que ponto é que os direitos de uns afetam os direitos de outros. Julgo que as pessoas devem lutar pelos seus direitos sempre, mas o que hoje sinto é que estão a afetar o meu direito. É penoso o que nos está a acontecer pelo voo ter sido cancelado", revelou o treinador português.

A greve da Groundforce cancelou vários voos durante a manhã no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, e, apesar de ter comparecido no local, a seleção portuguesa de andebol só esta tarde vai viajar para Tóquio, cidade que acolhe os Jogos Olímpicos.

Paulo Jorge Pereira assumiu o desagrado pela situação e disse mesmo que este percalço pode afetar a prestação portuguesa nos Jogos.

"Estivemos a trabalhar esta semana no sentido de nos adaptarmos ao 'jet lag' e agora não sabemos quando vamos chegar. Não há programação que resista, não sei o que fazer. Vamos esperar e em função disso vamos tentar retomar o nosso caminho. Mas assumo que estamos um pouco perdidos", declarou o selecionador nacional.

O técnico explicou que a principal dificuldade será o facto de os jogadores passarem "dois dias sem dormir e jogar passados três dias", sublinhando que os atletas "vão chegar ao Japão todos 'rebentados'".

"Não estamos a fazer disto um cataclismo, mas temos de ter noção da realidade. Não posso dizer que as nossas ambições estão comprometidas em função deste episódio, mas vamos adaptar-nos como temos vindo a fazer ao longo do nosso percurso", prometeu o líder da equipa portuguesa.

A TAP avisou hoje que a sua operação está a registar "significativos constrangimentos", com registo de vários voos cancelados, devido à greve da Groundforce, iniciada às 00:00 de hoje, e alerta que a situação deverá manter-se no domingo.

"A TAP está com significativos constrangimentos em toda a sua operação prevista para o dia de hoje e de amanhã, devido à greve de dois dias no serviço de assistência em terra da Groundforce, que se iniciou às 00:00 de 17 de julho", refere a companhia aérea em comunicado, alertando para "expectáveis cancelamentos e atrasos nos voos assistidos pela Groundforce, sobretudo no aeroporto de Lisboa".

A transportadora aérea está a notificar os clientes cujos voos estão a ser diretamente impactados pela greve, mas solicita aos passageiros que acompanhem o estado do seu voo no site da TAP, para que possam fazer uma gestão online do voo, caso este se encontre entre os afetados pela paralisação dos trabalhadores da empresa de 'handling'.

Neste sentido, apela aos passageiros para que não se desloquem para o aeroporto em caso de voo cancelado.

O presidente do Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos, André Teives, disse este sábado à Lusa que a adesão à greve dos trabalhadores da Groundforce ronda os 100% no aeroporto de Lisboa, estado apenas a funcionar os serviços mínimos.

"A adesão está muito próxima dos 100%", referiu o presidente do STHA, indicando que em Lisboa "só estão a ser feitos os serviços mínimos", ou seja, apenas foram trabalhar as pessoas "convocadas especificamente para os serviços mínimos [...]. Tudo o resto aderiu à greve".

Referindo não dispor ainda de dados completos sobre a adesão em outros aeroportos do país - os primeiros indicadores apontam para uma adesão de 50% no Porto e de 20% no Funchal -, o dirigente sindical manifestou-se confiante de que esta paralisação resulte numa solução para o pagamento pontual e sem atrasos dos salários dos trabalhadores da empresa de 'hnadling'.

"Estamos claramente confiantes numa solução. Ninguém está a pedir aumentos salariais, o que estamos a pedir é aquilo que é primário: as pessoas trabalham e no fim do mês receberem o seu salário pontualmente", sublinhou, acrescentando que isso inclui "obviamente" o subsídio de férias, sendo que muitos trabalhadores já gozaram o período maior das férias e "não receberam" esta remuneração.

Para já o dirigente sindical considera prematuro falar em novas greves mas lembra que a que está já convocada para os dias 31 de julho, 01 e 02 de agosto "configura uma situação preventiva", ou seja, se no final do mês persistir a situação de não pagamento pontual do salário, o pré-aviso (que tem de ser feito com um mínimo de 15 dias) "está feito".

A Groundforce apelou este sábado ao cancelamento da greve, que já levou hoje ao cancelamento de cerca de uma centena de voos, garantindo que mantém aberto o "espaço de diálogo" com os representantes dos trabalhadores.

Num comunicado em que faz um balanço da adesão à greve, que se iniciou às 00:00 de hoje e se prolonga até às 24:00 de domingo, a Groundforce lamenta o transtorno causado pela greve que acontece num dos momentos de "maior atividade" nos aeroportos portugueses, depois de vários meses de limitações impostas pela pandemia e mostra-se disponível para dialogar.

"A Groundforce mantém aberto o espaço de diálogo com os representantes dos trabalhadores, reforçando o apelo para o cancelamento das várias greves agendadas", refere a empresa de 'handling' (assistência nos aeroportos).

No balanço que faz sobre a adesão à greve nesta primeiras horas, a empresa de 'handling' detalha que, entre as 00:00 e as 10:30, foram cancelados 100 voos no aeroporto de Lisboa, em resultado de uma adesão de 81,8%, com apenas 73 trabalhadores a apresentarem-se ao serviço dos 400 escalados na última rotação de turnos.

Segundo a informação veiculada pela Groundforce, no Porto, onde a adesão regista 42,1% houve até agora um voo cancelado.

No Funchal, a adesão à greve de 25,7% dos trabalhadores levou ao cancelamento de um voo com impacto nas ligações, enquanto em Faro, onde a adesão foi de 9,5%, realizaram-se até agora todos os voos previstos.

No aeroporto de Porto santo, não há registo de adesão a esta paralisação, adianta ainda a empresa.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt