Galp transforma antiga refinaria de Matosinhos em centro de inovação
A Galp vai transformar a antiga refinaria de Matosinhos em centro de inovação. A empresa energética assinou um protocolo de cooperação com a câmara de Matosinhos e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N). Parte dos terrenos vão servir para construir um polo universitário, segundo o acordo assinado nesta quarta-feira no auditório da CCDR-N, no Porto.
A empresa, para desenvolver este projeto, vai criar uma equipa de trabalho, que será liderada pela antiga secretária de Estado da Indústria, Ana Lehmann. A especialista em inovação e internacionalização vai coordenador a equipa que vai requalificar o antigo espaço industrial.
A equipa executiva do projeto irá atuar em conjunto com representantes da Galp, município de Matosinhos e CCDR-N e será constituída por profissionais da área do planeamento urbanístico, paisagístico e ambientais, financeira e da área das engenharias.
O centro de inovação poderá permitir criar 20 mil a 25 mil novos postos de trabalho no prazo de 10 anos, refere o protocolo de inovação. Os empregos estarão ligados "às energias limpas e ao futuro", referiu o presidente executivo da Galp, Andy Brown, em conferência de imprensa.
Antes da transformação, será necessário descontaminar a antiga refinaria, num processo que irá custar "várias centenas de milhões de euros", anunciou a presidente da câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro. A primeira fase do processo de descontaminação - ainda sujeito a avaliação junto da Agência Portuguesa para o Ambiente.
Para o líder da CCDR-N, António Cunha, "este será o maior e mais importante projeto da próxima década. É uma oportunidade histórica para Matosinhos e a sua população. Mas assume também uma ambição metropolitana, regional e internacional". Mas o que será mesmo o distrito da inovação?
O projeto prevê a criação de um polo de inovação e de investigação e desenvolvimento. "No contexto da transição energética e digital", o local servira para a "adoção de novos produtos, serviços e soluções neutras em carbono e assentes em novas tecnologias, sistemas e redes inteligentes e altamente conectados", refere o protocolo assinado nesta quarta-feira.
Cerca de 10% do distrito de inovação será ocupado por um novo polo universitário e científico, em parceria com a Universidade do Porto, para a "atração e retenção de jovens talentos, nacionais e estrangeiros, reforçando o nível de qualificações na região e o seu potencial de aproveitamento por parte do respetivo tecido empresarial".
No local será ainda mantida uma "infraestrutura logística de armazenagem" para "preservar a segurança do abastecimento do mercado" da região Norte do país. Esta unidade ficará separada das restantes áreas do novo complexo que vai nascer em Matosinhos.
O distrito da inovação terá ainda unidade para promover o turismo e valorização da oferta cultural, além da "qualificação dos espaços de lazer, habitacionais, comércio e serviços".
O encerramento da antiga refinaria de Matosinhos foi anunciado em 21 de dezembro de 2020 e foi criticado pela câmara de Matosinhos e pelo Governo (da parte do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Matos Fernandes). Foi estimado em 220 milhões de euros o impacto na economia local do encerramento do local, segundo contas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
Recordando que o processo "não começou da melhor forma", Luísa Salgueiro assinala que o terreno de 230 hectares vai viver uma "nova fase", alinhada com as novas políticas ambientais e de redução das emissões ambientais.
Para compensar os impactos do encerramento da refinaria, a câmara de Matosinhos deverá ter acesso a 60 milhões de euros do Fundo europeu para a Transição Justa.
Segundo António Cunha, as verbas deverão servir para a "mitigação de impactos [do fecho da unidade] junto dos trabalhadores e microempresas"; compensar a Administração do Porto de Leixões (APDL) e reconverter o molhe norte noutra atividade; criar espaços de economia alternativa, baseados em inovação; produzir energia limpa para alimentar as novas infraestruturas; e ainda desenvolver uma linha de transportes públicos sustentável.
Nas palavras do líder da Galp, Andy Brown, "vamos regenerar o futuro, juntos. Não consigo pensar em melhor sítio do que na antiga refinaria de Matosinhos para o fazermos".
Não há data prevista para concluir o processo de transformação da refinaria.
Ainda na conferência de imprensa, o líder da Galp afastou o cenário de Matosinhos acolher uma futura refinaria de lítio. Ao abrigo do projeto Aurora - anunciado em dezembro de 2021 - a empresa energética anunciou uma parceria com os suecos da Northvolt tendo em vista a construção de uma fábrica de conversão de lítio no país, numa localização que só deverá ser conhecida em meados de 2023.
A Galp e a Northvolt ainda não definiram a localização da refinaria de lítio, embora existam "múltiplas opções em avaliação, incluindo no norte do país", mais próximo do local de extração desta matéria-prima.