Galp lucrou 608 milhões até setembro, o maior resultado desde entrada em Bolsa
A Galp fechou os primeiros nove meses do ano com um lucro de 608 milhões de euros, um aumento de 86% face ao mesmo período do ano passado. Os preços altos do petróleo e as margens de refinação mais altas estiveram entre os principais fatores a puxar pelos números da empresa. O resultado alcançado entre janeiro e setembro é o mais alto, em termos homólogos, desde a entrada em bolsa, em 2006, de acordo com os dados recolhidos pelo DN/Dinheiro Vivo.
O valor do lucro é quase o dobro da média da última década (entre 2011 e 2021), que se situa em 325 milhões de euros. O anterior recorde tinha sido de 598 milhões, alcançado pela petrolífera entre janeiro e setembro de 2018.
Os ganhos apresentados pela Galp esta segunda-feira, que excluem efeitos de "stock" e eventos não recorrentes, foram alvo de críticas por parte de alguns partidos políticos, uma vez que as contas da petrolífera têm estado no centro do debate público por causa da taxa sobre os lucros "caídos do céu' (a chamada 'windfall tax) em contexto de crise energética. A empresa deverá ser abrangida por esta medida decidida pela Comissão Europeia, e que em Portugal foi denominada Contribuição Temporária de Solidariedade. Esta contribuição determina que seja aplicada às produtoras de petróleo, combustíveis, gás e carvão uma taxa extraordinária de 33% sobre a diferença entre 2022 e a média dos três anos anteriores. No caso da Galp, segundo as estimativas dos analistas do Caixabank BPI terá um impacto de 220 milhões de euros.
A melhoria dos resultados da Galp no terceiro trimestre "refletem um forte desempenho operacional em todos os segmentos de negócio, com atividades de Upstream [exploração e produção] e Industrial [como a refinação] a capturar o forte ambiente macro", explicou a petrolífera liderada por Andy Brown. Olhando apenas para os resultados do terceiro trimestre, julho a setembro, a Galp obteve lucros de 187 milhões de euros, uma subida de 16% face ao mesmo trimestre do ano anterior, mas uma descida face aos 265 milhões registados no segundo trimestre deste ano.
O EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) acelerou 73% nos primeiros nove meses do ano para 2,9 mil milhões de euros, tendo este lucro operacional relativo ao terceiro trimestre subido 29% em termos homólogos, para 784 milhões.
Por áreas de negócio, o lucro operacional da exploração e produção de petróleo (upstream) aumentou 61% entre janeiro e setembro, para 2.290 milhões e o EBITDA da área comercial 12% para 256 milhões de euros.
Quanto à área industrial, onde está incluída a refinação, o EBITDA fixou-se em 48 milhões no terceiro trimestre, uma subida face aos 15 milhões registados no período homólogo,, mas muito abaixo dos 283 milhões do segundo trimestre deste ano. No acumulado dos nove meses, o lucro operacional desta atividade ascendeu a 333 milhões, que comparam com 60 milhões registados no mesmo período de 2021. Uma melhoria impulsionada pela margem de refinação que mais que quadruplicou para 12,4 dólares por barril.
Por fim, pela primeira vez o negócio das energias renováveis gerou um EBITDA positivo tendo superado os 34 milhões de euros, um valor que compara com o resultado negativo em 14 milhões no mesmo período do ano passado.
Plano B em marcha
Na conferência com analistas, o presidente executivo da Galp admitiu que a Nigéria deverá falhar uma das entregas de gás natural liquefeito (GNL) previstas para o final de outubro. No entanto, Andy Brown revelou que a petrolífera foi ao mercado comprar gás "a preços competitivos" para compensar o volume que deveria chegar a Sines ainda este mês com e que abastece maioritariamente o mercado regulado de gás natural. Os contratos com a Nigéria, como são a longo prazo, acabam por ser mais vantajosos face aos valores cobrados no mercado diário, razão pela qual o mercado regulado do gás natural tem preços inferiores face às ofertas do mercado liberalizado.