FMI: Portugal precisa de 700 milhões para alcançar meta do défice em 2017
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima um défice orçamental para Portugal de 2,1% em 2017, afirmando que seria necessário mais 700 milhões de euros em austeridade para atingir a meta prevista pelo Governo, defendendo uma "reforma duradoura" na despesa.
Num comunicado após a quinta missão pós-programa a Portugal, que decorreu entre 29 de novembro e a passada quarta-feira, o FMI analisou o Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) e prevê que, com base nas medidas do documento, o défice orçamental desça para 2,1%, abaixo da meta de 1,6% prevista pelo Governo.
"Alcançar o objetivo do Governo [para 2017] exigiria um esforço estrutural adicional de 0,4% do PIB [ou cerca de 700 milhões de euros]. Um esforço de consolidação baseado em reformas na despesa duradouras, seria mais favorável ao crescimento económico do que reduzir o investimento público", afirma a equipa liderada por Subir Lall.
Ainda assim, as estimativas do FMI são agora mais otimistas do que eram em outubro, quando a instituição divulgou as últimas previsões referentes a Portugal, prevendo que o défice orçamental português representasse 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 e 3% em 2017.
A entidade sediada em Washington estima agora que Portugal termine o ano com um défice orçamental de 2,6% do PIB, uma previsão que fica acima dos 2,5% exigidos pela Comissão Europeia e dos 2,4% inscritos no OE2017.
Ainda assim, o FMI afirma que "as metas orçamentais do Governo para 2016 podem ser alcançadas" e destaca que os "fortes esforços" do executivo para conter o consumo intermédio, juntamente com uma contenção do investimento público, "mitigaram o impacto de uma quebra significativa na receita prevista no défice".
Por outro lado, o Fundo antevê que a dívida pública atinja os 131% do PIB no final de 2016 e que desça apenas ligeiramente, para 130% do PIB, no próximo ano.
No OE2017, o Governo prevê que a dívida pública aumente de 129% do PIB em 2015 para 129,7% do PIB este ano, estimando retomar uma trajetória de redução em 2017, para os 128,3%.
Finanças reiteram que vão continuar "esforço de gestão rigorosa"
O Governo reiterou que vai continuar o "esforço de gestão rigorosa das contas públicas" e de fomento da competitividade da economia, considerando que as conclusões da quinta missão pós-programa de ajustamento demonstram os "desenvolvimentos registados" desde junho.
"Em 2017, o Governo prosseguirá o seu esforço de gestão rigorosa das contas públicas e de fomento da competitividade da economia, tendo por objetivo a promoção de um crescimento sustentado e inclusivo, numa perspetiva de médio e longo prazo", reiterou o Ministério das Finanças numa nota enviada à agência Lusa a propósito da conclusão da 'troika'.
O Ministério das Finanças destacou estas revisões em alta do FMI, salientando os "desenvolvimentos registados desde a última missão", realizada em junho (e que tinham as mesmas previsões) que "comprovam os progressos alcançados em áreas chave na economia nacional".
"Assim, confirmou-se o rigor da execução orçamental de 2016 - o que levou o FMI a melhorar a sua anterior previsão -, reportaram-se os avanços concretos na estabilização do setor financeiro e transmitiu-se o ponto de situação sobre a implementação do Programa Nacional de Reformas", destaca o ministério tutelado por Mário Centeno, salientando também o "comportamento positivo do mercado de trabalho" e a aceleração do crescimento económico no terceiro trimestre.
O Ministério não se referiu aos alertas do FMI deixados para o próximo ano, de que para alcançar o objetivo de um défice de 1,6% do PIB seria necessário um esforço estrutural adicional de 0,4% do PIB, ou cerca de 700 milhões de euros.