Fátima antecipa inverno "duro" com retoma só a partir da Páscoa

Ausência de peregrinos norte-americanos, brasileiros e coreanos agrava perspetivas para contrariar a sazonalidade, mas o nível de reservas para 2022 já é "muito forte" a partir de abril
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O Santuário de Fátima é um dos pontos de turismo religioso procurados por muitos turistas de fora da Europa que, a partir dali, aproveitam para conhecer outras localizações, em Portugal e noutros países. Mas a pandemia fechou fronteiras e, se na Europa já se circula com normalidade, o mesmo não se passa, por exemplo, na Ásia. Fátima sente isso particularmente, devendo passar assim um "inverno muito duro". A retoma deverá chegar a partir de abril, com a Páscoa.

"O que aconteceu foi que se deu uma recuperação do turismo ao longo do ano [2021]. Embora, o nível ainda esteja longe dos níveis de 2019. Não falo já dos níveis do ano de 2017", aquando da vinda do Papa a Fátima, por ocasião das celebrações do centenário das aparições, explica Alexandre Marto Pereira, hoteleiro e vice-presidente do Conselho Diretivo da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP).

"Fátima foi particularmente atingida com a pandemia por várias razões. Em primeiro lugar, porque o turismo de peregrinação faz-se muito em grupos e porque a distribuição etária das pessoas que nos visitam também está mais concentrada nas pessoas com mais idade. As origens das pessoas que nos visitam foram-se desenvolvendo nos últimos anos no sentido da globalização", acrescenta.

Regresso dos grupos
Nos primeiros nove meses deste ano, e segundo números do Santuário, nas 3440 celebrações realizadas participaram mais de 1,4 milhões de peregrinos (1 406 431). "Entre estes, há grupos que se inscreveram nos serviços do Santuário, porque vieram de forma organizada. Falamos de 480 grupos - 268 estrangeiros e 212 portugueses", diz fonte oficial, acrescentando que os grupos estrangeiros vieram de 22 países, sobretudo da Europa. "Entre os estrangeiros europeus, os mais numerosos são os espanhóis, que trouxeram 148 grupos, seguidos dos polacos, com 47, e dos italianos, com 18".

O peso do mercado nacional e espanhol na região continua a ser importante mas, nos últimos anos, surgiram outras nacionalidades, alimentando assim a economia local. Turistas norte-americanos, brasileiros e sul-coreanos são alguns dos exemplos. Mas, se as ligações para a América começam a ser repostas, para a Ásia, o cenário é diferente. Além disso, muitos destes turistas viajavam para cá na nossa época baixa, ajudando a minimizar a sazonalidade.

Mais peregrinos que em 2020
"A questão da pandemia em si, principalmente em Portugal, com o nível de vacinação que temos e com o SNS a responder, e a perceção que o público tem, é que a pandemia está ultrapassada em Portugal. A questão das idades também já é menos relevante, porque as pessoas estão vacinadas. As pessoas querem ir, como nunca. O problema de Fátima agora, diria, é a origem das pessoas", diz o hoteleiro.

O Santuário aponta que, em 2020, recebeu 1,4 milhões de peregrinos. E que, neste ano, até setembro, "já ultrapassámos esse número. Mas, ainda estamos longe dos 6,3 milhões de peregrinos registados em 2019". O Santuário não esconde que tem grupos inscritos até ao final do ano, mas não quer entrar em detalhes, porque "tudo depende da evolução da situação pandémica". "Os grandes ausentes, este ano tal como no ano passado, continuam a ser os peregrinos estrangeiros de outros continentes como Ásia e América, sobretudo do Brasil", admite a fonte oficial.

Alexandre Marto Pereira explica que, o mercado coreano deve ter representado, em 2019, cerca de 100 mil noites em Fátima. "Isso está a colocar-nos um problema gravíssimo. O crescimento foi enorme, principalmente concretizado na época baixa". Por isso, não esconde que antecipa um "inverno muito duro, sem o regresso dos norte-americanos, brasileiros e coreanos - principalmente estes três que estavam no top 5 das nacionalidades que mais pernoitavam em Fátima".

Melhorias com riscos
A situação deve melhorar a partir de abril. "Estou muito otimista para 2022. O nível de reservas para 2022 já é muito forte a partir da Páscoa [17 de abril]. Os operadores já estão a programar as suas visitas para o ano que vem", diz, embora ciente dos riscos relacionados com a aviação e com a escassez de recursos humanos na hotelaria.

Acreditando que os efeitos da pandemia no início da primavera estarão já minimizados, o hoteleiro aponta que a "recuperação da TAP é essencial para as conexões às cidades americanas e Brasil". O plano de reestruturação da companhia ainda não recebeu luz verde de Bruxelas, mas a perda de alguns slots deverá ser uma realidade. Resta saber o número exato e que rotas poderão ser afetadas. O segundo risco identificado tem a ver com uma consequência da pandemia: os operadores de turismo e a distribuição clássica atravessam tempos difíceis. O setor perdeu recursos humanos e o hoteleiro teme que estejam enfraquecidos, e que a "recuperação desse motor da distribuição, das vendas, esteja debilitado", o que pode ter implicações para Fátima, dado que muitos turistas estrangeiros chegam em grupos organizados.

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