Famílias já tiraram 8,8 mil milhões de euros dos bancos desde o início do ano

Portugueses continuam a levantar as poupanças nos bancos, com maio a registar a menor taxa de variação anual desde 1980. Também os depósitos de empresas sofreram perdas de 3 mil milhões desde janeiro e o crédito à habitação permanece em linha descendente.
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Os bancos continuam a perder a vista às poupanças das famílias, que já tiraram, desde o início do ano, 8,8 mil milhões de euros dos depósitos. A tendência, embora menos acentuada face ao observado até março, continua a ser de fuga consecutiva.

Segundo os dados divulgados esta quarta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), as instituições financeiras perderam mais 0,8 mil milhões de euros dos portugueses no passado mês, totalizando os depósitos de particulares 173,7 mil milhões no final de maio.

Em causa está uma redução de 2,7% face ao mesmo mês do ano passado e a "maior descida relativamente a um mês homólogo registada na série publicada (desde dezembro de 1980)", refere o supervisor, na nota estatística.

A fuga aos depósitos tem sido justificada, em parte, pelo aumento das subscrições dos Certificados de Aforro (CA), que, desde janeiro, captaram 12,9 mil milhões de euros dos portugueses. No quinto mês de 2023, estes títulos de dívida pública já somavam mais de 32,5 mil milhões, um valor que mais que duplicou comparativamente com o período homólogo, altura em que as subscrições apontavam para os 12,7 mil milhões de euros.

Também os depósitos de empresas nos bancos residentes têm vindo a encolher desde que o ano arrancou, com as perdas a chegarem aos três mil milhões de euros, de acordo com os dados disponibilizados pelo BdP.

Ainda que março e abril tenham sido meses positivos, em maio, o stock voltou sofrer um decréscimo de 1,2 mil milhões, resultando num total de 64,3 mil milhões de euros depositados pelos empresários nas instituições financeiras.

Contudo, ressalva a entidade reguladora, "estes depósitos cresceram 1,5% em relação a maio de 2022". Em abril, a taxa de variação anual tinha-se fixado nos 1,8%.

À semelhança dos depósitos dos particulares, também o montante total de crédito à habitação tem vindo a diminuir.

O motivo da desaceleração, apontou o Banco de Portugal, no Relatório de Estabilidade Financeira (REF), apresentado em maio, estará relacionado não só com "o contexto de aumento acentuado do custo dos empréstimos", como também com o aumento das amortizações antecipadas, que, até março, totalizavam 2,6 mil milhões de euros - uma subida de 70% face ao período homólogo.

Maio não foi exceção. No final do passado mês, o montante total de empréstimos concedidos às famílias para compra de habitação era de 99,5 mil milhões de euros, menos 0,1 mil milhões do que no final de abril.

Nota o supervisor que "a taxa de variação anual destes empréstimos desacelerou pelo décimo mês consecutivo, passando de 4,8% em julho de 2022 para 0,9% em maio de 2023".

Em sentido contrário, os empréstimos ao consumo totalizavam 20,8 mil milhões de euros, o que reflete um crescimento de 4,4% em relação ao mesmo mês do ano passado e um acréscimo de 122,9 milhões de euros face a abril. Desde o início do ano que o crédito ao consumo se mantém em valores estáveis, sem grandes oscilações.

Olhando para os gráficos do BdP, é possível observar que o montante de empréstimos concedidos pelos bancos às empresas tem vindo a cair a pique desde setembro do ano passado. Aliás, de janeiro a maio de 2023, o stock de crédito aos empresários encolheu mais de 1,4 mil milhões, para 73,9 mil milhões de euros.

Quando comparado com maio de 2022, o montante destes empréstimos decresceu 2,3% e, face a abril, a diferença foi de menos 0,2 mil milhões de euros.

A entidade reguladora detalha que a redução foi expressiva em todas as dimensões de empresas, exceto nas microempresas, e nos setores da eletricidade, gás e água, do alojamento e restauração e das indústrias transformadoras.

jornalista do Dinheiro Vivo

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