Euribor a 6 meses em 2% até final do ano. Veja em quanto vão subir as prestações da casa
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou na quinta-feira o maior aumento de sempre das taxas de juro diretoras (75 pontos base). Com as famílias a terem de lidar com o encarecimento dos alimentos e da energia, eis que se antecipa mais um aperto para quem tem crédito à habitação, pois a subida dos juros mexe com as Euribor, o que afeta diretamente a prestação da casa. Os analistas ouvidos pelo Dinheiro Vivo preveem que a taxa Euribor a 6 meses (a mais usada nos empréstimos para compra de casa) chegue aos 2% até ao fim do ano. Se isso acontecer, em alguns casos a prestação da casa pode aumentar em mais de 150 euros.
Segundo Filipe Garcia, economista e presidente da IMF, o mercado "desconta uma Euribor [a seis meses] perto de 2,25%" e é possível "que chegue perto dos 2,5% daqui a oito ou nove meses, e se mantenha nesses níveis".
Ontem, a Euribor a 6 meses ia em 1,354%, menos 0,009 pontos do que no dia anterior. Filipe Garcia alerta que antes do anúncio do BCE as Euribor "já vinham a refletir" o aumento das taxas diretoras. Aliás, o BCE fez saber que prevê continuar a aumentar as taxas no curto prazo - pelo menos mais duas vezes . " O que continuamos a verificar é que o mercado tem vindo a incorporar uma aceleração da subida de taxas, mas que a taxa terminal deste ciclo não tem subido. Neste momento, espera-se que o BCE suba as taxas em mais 150 pontos base face aos níveis atuais, com o ciclo a terminar no final do primeiro semestre de 2023" sublinha Filipe Garcia.
O economista Pedro Lino, presidente da DiF Broker e Optimize, considera que "é expectável que a Euribor a seis meses atinja os 2% ainda antes do fim do ano, a refletir a subida dos juros nas próximas reuniões do BCE e a manutenção desta política em 2023".
O analista considera que o "impacto desta subida dos juros [anunciada ontem] foi residual, uma vez que os governadores do BCE adotaram um discurso mais agressivo nas últimas semanas, demonstrando uma alteração na sua postura relativamente ao ritmo de normalização das taxas de juro".
"O efeito por agora está descontado", mas com a promessa do BCE de continuar a promover aumentos das taxas de juro, "é de esperar que as taxas [Euribor] continuem a subir, mas de forma mais residual nas próximas semanas".
A leitura é corroborada por Henrique Tomé, analista da XTB, que afirma que "é possível esperar uma continuação da subida da taxa Euribor nas várias maturidades, apesar das recentes quedas a seis e 12 meses".
As taxas Euribor são fixadas pela média das taxas às quais um grupo de 57 bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário. Mais de 90% dos créditos à habitação são de taxa variável, ou seja, acompanham as variações das Euribor. Assumindo a previsão dos analistas, de que até ao fim do ano a taxa Euribor a seis meses atingirá os 2%, as prestações pagas ao banco pelas famílias com crédito à habitação vão registar aumentos consideráveis.
Segundo as simulações pedidas pelo Dinheiro Vivo à Deco Proteste, uma família com um empréstimo de cem mil euros a 30 anos, indexado à Euribor a 6 meses (0,837%, média de agosto) e com um spread de 1%, paga em setembro uma prestação de 361,52 euros. Se a Euribor a 6 meses atingir os 2%, quando as condições do crédito forem revistas, a prestação da casa pode agravar-se em mais de 60 euros para 421,60 euros.
Nas mesmas condições, mas considerando um empréstimo de 150 mil euros, uma prestação que é em setembro de 542,28 euros pode encarecer mais de 90 euros, para 632,41 euros, se a Euribor a seis meses chegar aos 2%.
Se uma família tiver um empréstimo de 200 mil euros, a prestação da casa pode disparar mais de 120 euros, para 843,21, e se o empréstimo for de 250 mil, a prestação a pagar ao banco pode subir dos atuais 903,80 euros para 1054,01 euros, mais 150,21.
As Euribor (a 3, 6 e 12 meses) começaram a subir mais significativamente desde 4 de fevereiro, depois de o BCE ter admitido que poderia subir as taxas de juro diretoras ao longo do ano devido à escalada da inflação na zona euro, tendência que acabou reforçada com a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro.
Ora, em julho, o organismo liderado por Christine Lagarde aumentou a taxa de juro de referência pela primeira vez desde 2011, em 50 pontos base, para 0,5%. Ontem, a subida foi mas ambiciosa, em 75 pontos base, colocando a principal taxa do BCE em 1,25%.
O objetivo principal do BCE, reiterado ontem por Lagarde, é baixar a taxa de inflação, que em agosto estava em 9,1% na zona euro, para a meta dos 2%.