Está em curso um emagrecimento forçado na Indústria dos moldes

Retoma está a ser "bastante lenta" e a associação do setor teme que desaparecimento de empresas possa levar à perda de know-how de quadros técnicos especializados.
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A indústria de moldes está a atravessar tempos difíceis. A indefinição sobre como irá evoluir a indústria automóvel, o seu principal cliente, levou muitos construtores a suspenderem o lançamento de novos veículos e novos modelos, situação agravada com a pandemia. Há já empresas em grandes reestruturações, outras em insolvência e o vice-presidente da Cefamol - Associação Nacional da Indústria de Moldes teme pelo futuro. "Se a situação de mantiver por mais meia dúzia de meses vamos ter um emagrecimento muito acentuado porque há muitas empresas em risco de não conseguirem aguentar", diz Nuno Silva, que pede que sejam reforçadas as verbas para a promoção internacional e que os instrumentos de capitalização cheguem finalmente às empresas.

Em causa está uma indústria que é a terceira maior produtora de moldes a nível europeu e a oitava a nível mundial, composta por 515 empresas, que dão emprego a 11.200 trabalhadores, geram 750 milhões de euros de volume de faturação. Desde 2010, o setor mais do que duplicou as exportações, tendo em 2017 o seu melhor ano de sempre, com 671 milhões de euros vendidos ao exterior. Em 2018 foram 669 milhões e em 2019 não foram além de 614 milhões. No último ano, a quebra foi de 7,8% para 566 milhões. E 2021 começa com uma quebra ainda mais acentuada: as exportações caíram 20% para 116 milhões de euros.

Apesar dos esforços de diversificação e de uma aposta na produção de moldes para as indústrias de embalagens, eletrodomésticos e dos dispositivos médicos, o automóvel é ainda responsável por 70% do volume de produção da indústria dos moldes. A indefinição dos fabricantes quanto aos automóveis do futuro, designadamente quanto à mobilidade elétrica e ao hidrogénio, levou à suspensão de novos projetos, situação que foi depois agravada pela pandemia. E o setor vive dos novos modelos, que levam à produção de novos moldes. "Como somos uma produção de períodos longos, não quebrámos com a pandemia, quebrámos muito mais tarde. Ou seja, é agora que o setor está em má situação, não foi o ano passado. Aliás, há empresas que apresentaram contas de 2020 ainda relativamente equilibradas. Agora, com a indústria automóvel parada à espera dos incentivos financeiros da União Europeia para avançarem com os novos modelos, nós estamos claramente sem mercado", explica Nuno Silva.

Um delay nas dificuldades deixou as empresas de moldes sem ajuda. "É nesta altura que estamos com um nível de atividade muito baixo e não conseguimos recorrer aos apoios porque não foram configurados a pensar neste tipo de indústria", defende. A situação já foi apresentada a vários membros do governo. O vice-presidente da Cefamol admite que "é quase impossível manter esta situação durante muito tempo" e teme pela perda de conhecimento adquirido. "Para além do capital intensivo, a indústria tem uma mão de obra superqualificada que não pode perder".

Nuno Silva lamenta que nada se tenha aprendido com a pandemia. "A União Europeia apoiou a sua indústria, mas não consegue protegê-la, impondo, por exemplo, a obrigatoriedade de incorporação de produção nacional às empresas que foram apoiadas, como fazem outros países, designadamente os Estados Unidos. Por cá, a maioria das empresas apoiadas está agora a comprar na China, quando era fundamental que os apoios que receberam servissem para apoiarem a restante economia", defende, considerando que "falta uma definição clara de apoio à produção comunitária".

A Cefamol pede reforço dos apoios ao negócio, ou seja, à divulgação, comunicação e presença nos mercados internacionais, agora que estes começam a reabrir, e a operacionalização dos tão prometidos instrumentos à capitalização de empresas. A associação apresentou já candidatura para um novo projeto de promoção internacional do setor, que prevê investimentos de 2,2 milhões de euros, até meados de 2023, para a realização de ações comerciais nos mercados europeus e no eixo EUA-México. ^^A ideia é envolver 70 a 80 empresas, mas o programa terá um efeito alavancador "muito superior".

Quanto à capitalização das empresas, Nuno Silva recorda que se trata de instrumentos que estavam a ser planeados, há muito, através do Banco de Fomento, mas que nunca mais chegam. "Era importantíssimo que, com o PRR, esses instrumentos fossem postos em funcionamento e pudessem vir ajudar a capitalizar as empresas para que estas possam aguentar esta fase", diz. Este responsável lembra que os ciclos da indústria de moldes "são intensos", mas que, tal como "muito agressivos" nas quebras, também o são na recuperação. "Todos sabemos que a produção automóvel vai obrigatoriamente crescer logo que haja maior confiança dos consumidores. Que o mercado vai recuperar é uma certeza, a questão é se tardar um pouco mais é preciso que as empresas tenham condições para se aguentar, senão vamos perdê-las e isso significa que o país perde capacidade industrial", avisa.

ilidia.pinto@dinheirovivo.pt

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