Empresas portuguesas têm hoje "resiliência acrescida" para enfrentar crises

Resposta das exportadoras nacionais durante e depois da pandemia tem sido "positiva", considera Luís Castro Henriques. O presidente da AICEP considera que existe mais competitividade, mais eficiência empresarial e industrial. Mas há desafios no horizonte.
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A evolução das exportações portuguesas ao longo da última década tem sido positiva, considera Luís Castro Henriques, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), que destaca sobretudo "o aumento da resiliência das empresas exportadoras". Em particular no período pandémico, que desafiou a organização das cadeias de abastecimento internacionais e lembrou a Europa da importância de ser cada vez mais independente de mercados externos à União Europeia (UE). "As empresas não só tiveram capacidade de adaptar-se à nova realidade e responder de forma positiva, como algumas delas até diversificaram mercados durante a pandemia", sublinha o economista.

O responsável, que está no final do segundo mandato à frente da agência, refere ainda um crescimento "notável" na competitividade dos empresários com vendas além-fronteiras que se deve, essencialmente, a três fatores: maior eficácia empresarial e industrial, maior propensão para inovar com eficiência e uma crescente adaptação a produtos de maior valor acrescentado. "Isto permite que as exportações subam em preço, mas também dá perspetiva de qualidade dos produtos", acredita. Castro Henriques diz mesmo o sentimento nas feiras internacionais é de que "o produto português é bom e tem qualidade".

Porém, há desafios no horizonte que merecem preocupação, em especial num contexto marcado pela subida da inflação e pela recessão económica na Europa. "A incerteza da manutenção e flutuação dos preços da energia e das matérias-primas é o que nos preocupa mais", reconhece o responsável. A reorganização das cadeias de abastecimento, numa primeira fase causada pela pandemia e, mais recentemente, pela guerra na Ucrânia, pode trazer oportunidades a Portugal. "Os sectores da metalomecânica, da maquinaria e dos componentes automóveis estão a beneficiar desta reorganização", atesta Castro Henriques. De facto, em maio, as vendas ao exterior das empresas da metalomecânica superaram, pela primeira vez, a barreira dos 2 mil milhões de euros - mais 25% do que no mesmo período em 2021.

O economista e professor do ISEG João Duque alerta, contudo, para o que considera ser um dos maiores obstáculos do país para o crescimento das exportações para a Europa - a ferrovia. "Para reindustrializar Portugal temos de competir pelo cliente e dar condições de infraestruturas, de ligações rodoviárias e ferroviárias", aponta. Apesar de sublinhar a posição estratégica dos portos nacionais, critica fortemente os investimentos ferroviários em bitola ibérica em detrimento da bitola europeia, que, diz, permitiria uma conexão mais facilitada e mais barata com o resto do continente. "A ligação é ineficiente e custosa", lamenta. E acrescenta que comprar material que permita a adaptação à bitola europeia poderá afastar as empresas para Espanha, de forma a evitarem o investimento nestes componentes.

Já na captação de centros de serviços para território nacional, João Duque acredita que "temos capacidade e mão de obra", embora aponte um sistema "fiscal que valha a pena" para as empresas estrangeiras. "Tem de haver estabilidade [fiscal] e competitividade", reforça, tecendo duras críticas a "uma das maiores cargas fiscais da OCDE" em Portugal.

Luís Castro Henriques, que já em 2021 apresentava um crescimento acentuado de novos centros de serviços estrangeiros no país, diz que "se compararmos o número de novos clientes vamos outra vez bater o recorde [em 2022]". Os números deste ano, até outubro, serão apresentados em detalhe na próxima quarta-feira, 12, em Viseu. "São resultados muito, muito bons e temos cada vez empresas mais sofisticadas. Isto demonstra claramente a competitividade do talento português", garante.

Traçar caminhos e perspetivas de crescimento para a economia portuguesa nos próximos 15 anos será o tema central da quarta Conferência Anual da AICEP - Exportações e Investimento, que contará, pela última vez, com Luís Castro Henriques ao leme da instituição. O mandato termina este ano "com números que refletem o trabalho feito" pela agência com as empresas portuguesas, numa altura em que está fechado o ciclo de investimento do quadro Portugal 2020. O evento acontece esta quarta-feira, 12, a partir das 15h no hotel Montebelo Príncipe-Perfeito, em Viseu, com presença de ex-presidentes da AICEP e do primeiro-ministro António Costa.

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