Empresas em suspenso com a pandemia a adiar as grandes feiras internacionais
Quase dois anos depois, a pandemia continua a obrigar ao cancelamento e adiamento de feiras em todo o mundo. Sendo palcos essenciais para dar a conhecer o que de melhor se faz em Portugal, potenciando as exportações, as empresas estão a aceitar bem os adiamentos, até porque "o fundamental" é assegurar que os eventos se realizam presencialmente "e na máxima força".
Esta é a convicção de Rafael Campos Pereira, vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, a propósito do adiamento da francesa Global Industrie, para maio, e da Hannover Messe, na Alemanha, para os dias 30 de maio a 2 de junho. Trata-se da maior feira da indústria em todo o mundo e, este ano, tem uma importância acrescida, já que Portugal é o país parceiro na feira, que recebe mais de 200 mil visitantes de cerca de uma centena de países.
Rafael Campos Pereira acredita que "todos os holofotes dos grandes players mundiais, industriais e tecnológicos, dos mais sofisticados clusters mundiais, estarão voltados para as empresas nacionais e para aquilo que de melhor se faz em Portugal". E, por isso, o adiamento para o período da primavera/verão, quando se espera que a crise pandémica esteja mais controlada, é bem recebido, já que "garante as condições necessárias para que estes grandes certames decorram com total normalidade". O vice-presidente da AIMMAP diz-se convicto de que as empresas do Metal Portugal "irão aderir em grande número" e, mais importante ainda, poderão, com adiamento, maximizar os benefícios da sua participação".
Vulgarmente designada por campeã das exportações, a metalurgia e metalomecânica atingiu, em 2021, por duas vezes - em março e em novembro - "a melhor marca de sempre"nas suas vendas ao exterior e o setor espera fechar o ano com novo recorde nas exportações, na fasquia dos 20 mil milhões de euros. "É um registo notável tendo em conta a coincidência simultânea de um enorme conjunto de adversidads que as empresas têm tido de enfrentar, como a subida vertiginosa do preço das matérias-primas, combustíveis, energia, e transportes, juntamente com uma enorme dificuldade de contratação de mão-de-obra, tão necessária para fazer face à procura externa", frisa.
Já os têxteis e vestuário marcaram presença em quatro feiras, em janeiro, e contam, até ao final de março, fazer mais 21 feiras. No entanto, há já certames cancelados, como a Munich Fabric Start e a Neonyt/frankfurt Fashion Week, e alguns com novas datas, caso da Heimtextil ou da ISPO, ambas na Alemanha, das britânicas The London Textil Fair e Fashion SVP ou da italiana Homi Milano, entre outras. Manuel Serrão, responsável da Selectiva Moda que, com o apoio da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), assegura a presença coletiva da fileira têxtil nos certames internacionais, procura desdramatizar a questão. "Tendo menos oportunidades para contactar presencialmente com os seus clientes e potenciais clientes, claro que há sempre prejuízos, mas que são piores nos casos das feiras anuladas do que nas adiadas", frisa.
Com quase cinco mil milhões de euros exportados até novembro, um valor que está já 2,8% acima do período pré-pandemia, a ATP estima fechar o ano ultrapassando os 5,3 mil milhões de euros. O que, a verificar-se, será o melhor ano de sempre das exportações do setor. Um número absoluto que contém em si realidades distintas: as exportações de vestuário em tecido ainda estão 21% abaixo de 2019, as de tecidos em lã registam uma quebra de 41% e as exportações de tapetes estão 20% abaixo do período pré-pandemia.
Sobre as perspetivas para 2022, Ana Dinis, diretora-executiva da ATP, é cautelosa: "É difícil estimar o que vai acontecer - os dois últimos anos obrigaram-nos a ser ainda mais prudentes -, mas podemos adiantar que, neste momento, a procura continua em alta na maior parte dos subsetores de atividade". No entanto, lembra que há "vários desafios e constrangimentos que poderão pôr em causa o desempenho e o sucesso do setor", com destaque para o impacto do aumento do custo da energia e, em particular, do gás natural.
A Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA) dinamiza, habitualmente, a participação dos seus associados em cinco certames no primeiro trimestre do ano, mas este ano só deverão marcar presença na Intergift, que esta semana decorre em Madrid. A IMM Cologne foi cancelada e a Feria Internacional del Mueble, em Saragoça, Maison & Objet, em Paris, e a Design Shanghai, na China, foram adiadas. Miguel Pereira, responsável de marketing e internacionalização da APIMA, reconhece que, com a pandemia, as empresas tiveram de encontrar novas formas de divulgação dos seus produtos, mas que não substituem a presença física. "Num cluster tão sensorial, a interação com os produtos é crucial para o comprador", diz. A fileira do mobiliário conta encerrar 2021 ainda abaixo do período pré-pandemia. 2019 foi o melhor ano de sempre, com exportações de 1,9 mil milhões de euros.
Já os produtores de vinho estão quase de partida para a primeira feira do ano, a Vinexpo, em Paris. A Prowein, de Dusseldorf, foi adiada para maio, e Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal admite que causa constrangimentos, designadamente, obrigando a alterações de voos e dormidas, além de obrigar a mudar outros eventos que estavam programados para as novas datas da feira. "Todas estas alterações, além de poderem inviabilizar presenças noutros eventos, acarretam custos", frisa. O vinho português vive o melhor momento de sempre nos mercados externos, batendo recordes consecutivos, como aconteceu mesmo em 2020. E para 2021 é esperado um crescimento de 8 a 10%, com as vendas ao exterior a situarem-se ente os 930 e os 940 milhões.