Efeito covid no parque automóvel: mais carros e ainda mais velhos
Falta de veículos para abate e saída de unidades que estavam na garagem explicam maior envelhecimento do parque automóvel desde 2015. Idade média subiu para 13,2 anos.
Mesmo em ano de pandemia, nunca houve tantos carros em Portugal. No final do ano passado, estavam registados 6,59 milhões de automóveis ligeiros e pesados, 1,6% acima do número de 2019. Em média, cada veículo tinha 13,2 anos, o que corresponde a um envelhecimento de 0,5 anos, segundo os dados divulgados na terça-feira pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
É preciso recuar a 2015 para encontrar um envelhecimento mais agressivo (0,6 anos): no primeiro ano do pós-troika, a idade média dos ligeiros de passageiros passou dos 11,7 (em 2014) para os 12,4 anos. O automóvel voltou a ganhar peso em Portugal apesar de o comércio de unidades novas e em segunda mão ter registado quebras de perto de 30%.
A falta de incentivos ao abate e os efeitos da pandemia explicam o crescimento dos carros. "A idade média dos veículos em centros de desmantelamento está nos 22 anos e seis meses porque não há incentivos para as pessoas mandarem para lá os carros", explica ao Dinheiro Vivo o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
"Os carros que estavam parados começaram a circular novamente", acrescenta o líder da Associação Portuguesa do Comércio Automóvel (APDCA), Nuno Silva. A associação representa boa parte dos concessionários de automóveis usados.
Dos 6,59 milhões de veículos em circulação, mais de 80% (5,3 milhões) correspondem a automóveis ligeiros de passageiros. Mais de uma em cada cinco unidades (1,2 milhões) conta com mais de duas décadas, ou seja, cumpre apenas a norma de emissões Euro 2, que vigorou para as novas matrículas entre 1997 e o final de 2000. Além das maiores emissões, os carros mais antigos têm menos elementos de segurança a bordo.
A juntar à falta de incentivos ao abate, o Estado também contribui para o envelhecimento do parque automóvel através do imposto pago pela sua utilização. Todos os carros com mais de 13 anos, matriculados antes de 30 de junho de 2007 paga m apenas imposto de circulação (IUC) conforme a cilindrada - e uma taxa adicional para as unidades as gasóleo.
Depois de junho de 2007, além da cilindrada, os condutores têm de pagar a componente associada às emissões de dióxido de carbono - que corresponde pelo menos à norma Euro 4 -, o adicional para veículos a gasóleo e ainda um coeficiente de 1,05 a 1,15 vezes o valor de imposto calculado.
O Estado também incentiva os portugueses a irem buscar carros mais poluentes através dos descontos aplicados na taxa das componentes ambiental e da cilindrada: quanto mais antigo for o usado importado, maior o desconto, independentemente das emissões de dióxido de carbono.
Os veículos em segunda mão, à conta destes fatores, estão a ganhar cada vez mais peso no mercado automóvel nacional: no ano passado, representaram 39,9% do comércio de veículos novos, mais 5,4 pontos percentuais do que no ano anterior.
O recurso aos usados também explica o envelhecimento do parque automóvel nacional: os carros com menos de cinco anos representam apenas 20,2% dos carros matriculados, o equivalente a 1,069 milhões de unidades.
Tal como nas vendas de novos, a Renault também é a marca mais representada nas garagens portuguesas: tem 670 139 automóveis ligeiros de passageiros em circulação, o que equivale a uma quota de mercado de 12,6%. Na segunda e terceira posições seguem Peugeot (8,9%) e Volkswagen (8,5%), respetivamente.
Compactos nos preferidos
Quando compram um carro novo, os portugueses preferem as unidades que tenham entre 1251 e 1500 centímetros cúbicos de cilindrada. Os veículos compactos são os mais comprados em solo nacional, com mais de 40% das preferências. Os utilitários surgem logo a seguir, também perto da fasquia dos 40%.
Desde 2014 que o parque automóvel português tem crescido todos os anos, tendo aumentado em 800 mil unidades nos últimos seis anos. Com 80,4% de quota de mercado, os veículos de passageiros não tinham um peso tão grande no mercado desde 1979 (80,7%).
Os dados da ACAP também ajudam a fazer um retrato nacional do uso do carro. Lisboa e Porto são os únicos distritos com mais de um milhão de veículos automóveis. A capital, ainda assim, tem 1,639 milhões de veículos contra os 1,040 milhões da cidade invicta.
É fora das duas principais portuguesas, no entanto, que se verifica o maior e o menor número de habitantes por cada carro ligeiro de passageiros.
Bragança é o distrito com mais habitantes por carro (2,4), seguido por Castelo Branco e a região autónoma dos Açores. Em sentido inverso, há menos residentes por automóveis nos distritos da Guarda (1,6), Lisboa (1,6) e Leiria (1,8).
Diogo Ferreira Nunes é jornalista do Dinheiro Vivo