Dinastia Rothschild nomeia um novo "banqueiro do mundo"

Alexandre de Rothschild sucede ao pai, David, na liderança do centenário banco da família. São sete gerações de poder, fortuna e influência a nível mundial, com ligações a Portugal

A Europa e o mundo seriam hoje muito diferentes sem a família Rothschild. O seu poder e influência selaram o destino de nações e moldaram acontecimentos. Agora, a família de banqueiros escolheu um novo líder para o seu banco, o Rothschild & Co. Aos 37 anos, Alexandre de Rothschild sucede ao seu pai, David, na liderança de um banco que "tem estado no centro dos mercados financeiros a nível mundial por mais de 200 anos".

Vai já na sua sétima dinastia. O império financeiro foi criado por Mayer Amschel Rothschild, tendo cinco dos seus filhos estabelecido atividade bancária por toda a Europa. De um gueto para judeus em Frankfurt, os Rothschild fundaram uma dinastia patriarcal de banqueiros para se tornarem uma das famílias mais poderosas e ricas da história, com negócios que vão muito além da banca. Pelo caminho, a família foi alvo de nacionalizações e confiscos.

A partir de maio, Alexandre sucede ao pai na gestão de um grupo presente em 40 países, com uma equipa de 3500 especialistas financeiros, prestando serviços de assessoria financeira, gestão de ativos e fortunas e financiamento. Em 2017, o banco teve receitas de 1910 milhões de euros, um crescimento de 12% face ao ano anterior, e um lucro líquido de 247 milhões de euros, mais 35% do que em 2016.

Ao longo da sua história, tem tido entre os seus clientes casas reais, governos, a Santa Sé, além de diversas personalidades famosas. A família foi decisiva em momentos-chave da história, como na criação de Israel, tendo a declaração de Balfour sido dirigida ao lorde Walter Rothschild. E tem deixado a sua marca nos maiores negócios em diversos países, levando ao surgimento de teses - algumas de origem antissemita - de que é dona dos bancos centrais e controla o mundo com a sua extensa influência e poder financeiro.

A ligação dos Rothschild a Portugal é centenária. O país foi uma das cinco nações que os Rothschild financiaram nas duas décadas de invasões napoleónicas. Um quadro com D. João VI - que veio a descobrir-se que não correspondia ao seu retrato - faz parte do grupo dos quadros Crowned Heads, representando os governantes dos cinco países. E os arquivos da família referem empréstimos efetuados pela casa Rothschild de Londres a Portugal e Brasil, sob domínio da coroa portuguesa, em 1823 e 1822.

Mais recentemente, a Rothschild & Co foi a primeira assessora financeira internacional a abrir um escritório em Lisboa, em 1990. "Esta presença local permitiu-nos conhecer profundamente o ambiente de mercado e regulatório do país, bem como criar excelentes relações com empresários e empresas-chave locais e a comunidade financeira", referiu a Rothschild & Co ao DN. "Temos assessorado muitas das principais transações de empresas em Portugal, tanto domésticas como internacionais." Operações envolvendo o Estado ou empresas nacionais, num total superior a 22 mil milhões de euros, têm o selo Rothschild.

Diferentes ramos da família criaram os seus próprios negócios financeiros. É o caso de Edmond de Rothschild, que criou o grupo com o mesmo nome especializado em gestão de ativos. O banco abriu uma sucursal em Lisboa em 2000. E a família também fez investimentos em vinhas do Douro.

Evolução sem revolução

Alexandre quer agora seguir a estratégia do pai na liderança do banco quando vir a sua nomeação aprovada pelos acionistas na assembleia geral no dia 17 de maio.

O jovem Rothschild entrou no banco na crise financeira de 2008. Conta com uma vasta experiência na área de banca de investimento e private equity, tendo passado pelo Bear Stearns e pelo Bank of America. Desde 2011 que é membro da comissão executiva do banco e tem assumido lugares na administração de várias empresas do grupo. Desde 2017 que é número dois da Rothschild & Co Gestion.

"Esta mudança na liderança da Rothschild & Co foi cuidadosamente preparada ao longo do tempo", afirma o seu pai. "Alexandre, com 15 anos de experiência, demonstrou conhecimento profundo de todos os nossos negócios e a sua capacidade em construir relacionamentos."

Nos últimos anos, o banco mudou de nome e fez aquisições. Recentemente, começou a olhar para a expansão da atividade nos EUA. "A Rothschild & Co cresceu e tornou-se uma empresa global com três negócios reconhecidos e estabelecidos", afirma Alexandre, que pretende "continuar o desenvolvimento da empresa na direção claramente estabelecida" pelo pai. Alexandre afirmou ao Financial Times que a sua liderança será de "evolução" e não de revolução. E vai olhar oportunidades de aquisição.

Mais de 200 anos depois, o fascínio em redor da dinastia dos Rothschild vai agora chegar às casas de milhões de pessoas. Julian Fellowes, o criador de Downton Abbey, decidiu criar uma série de televisão sobre a família mais rica do mundo.

Negócios em Portugal
> Venda de 75% do Novo Banco ao Lone Star em 2017.
> Empréstimo de 7,75 mil milhões de euros do Estado ao Millennium BCP, Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos e Banif, em 2012.
> Venda de 95% da ANA - Aeroportos de Portugal à francesa Vinci por 3,08 mil milhões
de euros em 2013.
> Reestruturação da Cimpor
e troca de ativos com a brasileira InterCement em 2012.
> Oitava fase de privatização da EDP - Energias de Portugal com a venda de 21,35% da empresa
à China Three Gorges por 2,7 mil milhões de euros em 2012.
> Venda de quatro participações de 5% da EDP na REN - Redes Energéticas Nacionais, antes da estreia da empresa em bolsa, por 377 milhões de euros, em 2008.
> Venda dos hipermercados da francesa Carrefour à Sonae por 622 milhões de euros em 2007.
> Compra de 33,34% da Galp Energia pela italiana ENI em 2000.

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