Desde a troika que não se vendiam tão poucos ligeiros em três meses

Melhorias do mês de março são "residuais" e não iludem a paralisação no setor desde a chegada da pandemia. ACAP critica falta de estímulos à atividade
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É preciso recuar a 2013 para encontrar um primeiro trimestre mais débil nas vendas de automóveis ligeiros de passageiros do que o ocorrido nos três primeiros meses de 2021. Há oito anos, o país vivia sob a austeridade do programa de ajustamento da troika, num ano marcado pelos maiores índices de desemprego. Nesse trimestre, venderam-se 24.162 ligeiros contra os 31. 039 agora contabilizados, de acordo com dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP).

De janeiro a março do ano em curso, o comércio de ligeiros de passageiros representou uma quebra de 31,5% face há um ano, uma descida acentuada na comparação com os meses de 2020 ainda quase sem o efeito da covid. Só em meados de março do ano passado é o que país começou a confinar e atividade económica a parar, como recorda Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP.

Neste ano, os stands automóveis fecharam no dia 15 de janeiro e só tiveram autorização para reabrir no dia 15 de março. Essa reabertura pode ajudar a explicar a subida nas vendas registada no mês: as 12. 699 unidades ligeiras transacionadas superaram as ocorridas em janeiro ou fevereiro, e cresceram 19,8% em relação a março de 2020, embora tenham ficado abaixo das comercializadas em cada mês desde agosto até dezembro do ano passado.

No entanto, Hélder Pedro entende que a subida mensal é "residual" no contexto das quebras acumuladas no mercado. Juntando todos os segmentos (ligeiros e pesados, de passageiros e de mercadorias), o recuo foi de 25,7% no trimestre, para um total de 39.310 veículos, na comparação com o ano anterior.

Recordou que, em fevereiro, mês total de confinamento, Portugal apresentou a maior queda nas vendas de automóveis novos na Europa (menos 59%), reportando-se a informação da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis.

Apesar de os comerciantes de automóveis, mesmo com os stands fechados, terem podido fazer as entregas ao domicílio dos veículos encomendados, permanece fechado um mercado importante para o setor e que representa 30% das vendas: o rent-a-car, penalizado sobretudo pela ausência de turistas.

No contexto dos constrangimentos, Hélder Pedro lamenta que o poder político não tenha atendido os pedidos da associação e apoiado o setor: "O governo não criou estímulos à procura de automóveis como fizeram outros países europeus, como a Espanha, nem no Orçamento do Estado nem no Programa de Recuperação e Resiliência."

Reconhece que o desconfinamento poderá ditar o futuro próximo do desempenho do setor, mas "sem estímulos", admite que "a atividade não poderá ser retomada".

Por marcas, o comércio automóvel de ligeiros de passageiros continuou, no acumulado de janeiro a março, liderado pela Peugeot, com 4594 unidades vendidas, menos 5,9% face a igual período do ano passado. Seguiram-se a Mercedes-Benz e a BMW. A quarta posição voltou a ser ocupada pela Renault, deixando à Citroën o quinto lugar.

Quase todas as marcas perderam vendas nos três meses do arranque do ano, mas com exceções: a Jeep, comercializou 205 veículos, mais 18,5% do que há um ano, a maior subida do trimestre. Outra situação foi protagonizada pela Ferrari, ao conseguir vender cinco carros, contra apenas quatro no primeiro trimestre do ano passado.

Ainda no luxo, o comportamento do mercado não foi igual para todas as marcas. A Aston Martin e a Maserati, por exemplo, não tinham vendido nenhuma unidade há um ano mas, em 2021, já entregaram cada uma sete veículos. Já a Lamborghini, a Bentley ou a Jaguar acompanharam a tendência geral, com perdas acima de 40%.

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