O custo das "intervenções públicas" para segurar os bancos em Portugal, a maior parte deles privados, já ascende a quase 21 mil milhões de euros no período de 2008 a 2019, revelou o Tribunal de Contas (TdC) no Parecer sobre a Conta Geral do Estado relativa a 2019..Ou seja, os contribuintes já perderam, de forma definitiva, o equivalente a 10% do produto interno bruto (PIB) anual..Até agora, nos 12 anos em análise, o conjunto BES/Novo Banco provocou o maior rombo nas contas públicas (rombo líquido, já descontando alguns ganhos que o Estado possa ter tido com as ajudas que foi dando, como juros e comissões). Logo a seguir aparece, claro, o BPN..Aliás, em 2019, estes dois universos (BES/NB e BPN) foram os únicos que continuaram a carregar nas contas públicas, sorvendo 2,469 mil milhões de euros aos cofres públicos. O BES/Novo Banco provocou um prejuízo de 1,224 milhões de euros. O BPN infligiu aos contribuintes outros 1,327 mil milhões de euros..Dinheiro que foi para um banco em graves condições financeiras (NB) e para outro que já nem sequer existe (só despojos e ativos tóxicos) em vez de ir, por exemplo, para outro tipo de despesas com serviços públicos de qualidade.."Desde 2008, as despesas líquidas com as intervenções públicas no sistema financeiro ascenderam a 20,8 mil milhões de euros, concentradas nos apoios ao BES/Novo Banco (6750 milhões de euros), ao BPN (6248 milhões de euros) e à CGD (5509 milhões de euros)", observa o Tribunal agora presidido por José Tavares.."No total do período 2008-2019, em termos líquidos, considerados os fluxos com o sector financeiro, apura-se um saldo desfavorável para o Estado de -20761 milhões de euros (9,7% do PIB de 2019), saldo que resulta de despesas públicas no montante de 28041 milhões de euros (13,1% do PIB de 2019) que, por sua vez, geraram receitas no valor de 7280 milhões de euros (3,4% do PIB de 2019), tal como discriminado no quadro seguinte.".Como referido, "em 2019, estes apoios continuaram a envolver despesas de valor significativo (2556 milhões de euros), com operações no âmbito dos compromissos assumidos na alienação do Novo Banco (1227 milhões de euros) e do processo de nacionalização e reprivatização do BPN (1320 milhões de euros)", diz a instituição..A pesada despesa com o NB foi em forma de mais dinheiro público para capitalizar o banco ao abrigo do Mecanismo de Capital Contingente, livrando assim o acionista o fundo Lone Star deste encargo. Foi assim que foi redigido o contrato. A injeção de verbas públicas ascendeu a 1149 milhões de euros. E para o ano que vem continua, mesmo que tenha sido chumbado no OE2021..Já o BPN obteve ajudas públicas em forma de empréstimos no valor de 1266 milhões de euros, dinheiro que é canalizado para os três veículos financeiros (Parvalorem, Parups e Parparticipadas) que detêm os restos do banco de José Oliveira Costa, que tinha ligação a muitas figuras de proa do PSD, incluindo Cavaco Silva, Dias Loureiro ou Duarte Lima..Parte desse dinheiro serve depois para pagar à Caixa Geral de Depósitos (CGD), que foi a instituição que arcou com o BPN todo aquando da nacionalização, tendo começado aí a lavagem do lixo tóxico. Este processo, como mostra o Tribunal de Contas, ainda está longe de ter terminado..Segundo o TdC, em 2019, houve apenas dois bancos que deram 'lucro' ao Estado. A CGD deu 26 milhões de euros em dividendos e não deu despesa; o antigo BPP devolveu mais 55 milhões de euros dos 450 milhões de euros que recebeu em garantias do Estado..O Estado só obteve uma magra receita de 3 milhões de euros com as ajudas ao Novo Banco (comissões sobre garantias). No caso do BPN, a receita para os contribuintes ficou-se pelos 2 milhões em 2019..Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo