Compras por MB Way já passam 5 mil milhões de euros

Soluções digitais crescem a forte ritmo. Só o MB Way somou mais de 5 mil milhões em transações em 2021, segundo um estudo sobre o mercado português de pagamentos.
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Todos os dias, os portugueses transacionam, em média, 4 mil milhões de euros. E nos últimos anos o papel do digital como meio de pagamento tem estado imparável com soluções como o MB Way a ganharem cada vez mais peso, tendência que foi acelerada também pela pandemia. No ano passado, esta aplicação da SIBS ultrapassou os 5 mil milhões de euros em transações, confirmando a tendência de crescimento acelerado nos últimos anos. Os números são do estudo "The Digital Transformation of the Global Economy and the Portuguese Payments System" conduzido pelo professor norte-americano David Evans, da Universidade de Chicago, que vai ser apresentado esta quinta-feira no âmbito da inauguração do fórum de inovação "SIBS Innovation Lab" em parceria com a NOVA SBE (Nova School of Business and Economics) no Campus de Carcavelos.

A conclusão deste relatório é que as tecnologias digitais vieram revolucionar o sistema de pagamentos e que Portugal é um estudo de caso devido aos avanços que este setor tem tido, algo que não tem paralelo noutros países, segundo David Evans. "Portugal é um terreno fértil para a transformação digital", afirma o especialista. E há bastantes exemplos desta sofisticação nos pagamentos. Por exemplo, enquanto há alguns anos para poder realizar uma viagem de táxi era necessário ter dinheiro vivo, hoje a viagem já pode ser paga com cartão multibanco. Aliás, atualmente é possível chamar um táxi ou Uber através de uma aplicação que já inclui um sistema de pagamento integrado. Evoluções que mostram como este mercado não é estático e tem alcançado grandes evoluções graças à digitalização, como relembra o professor na Universidade de Chicago no estudo que tem como objetivo fazer um raio-x à situação do mercado português de pagamentos.

Dados os investimentos que têm sido feitos na digitalização e a recetividade dos portugueses em adotar essas novas ferramentas, não é de estranhar que as carteiras digitais no telemóvel estejam a ganhar cada vez mais adeptos em Portugal. Após o uso dos cartões, aplicações como a PayPal ou MB Way estão entre as preferidas para fazer compras online, segundo dados de 2020 da Associação da Economia Digital (ACEPI) citados no estudo de David Evans. E ajudaram também a dinamizar o mercado de pagamentos "peer to peer" [pessoa para pessoa]. No caso concreto do MB Way, por exemplo, pode ser utilizado para transferir dinheiro para a conta de outros utilizadores usando apenas o número de telemóvel. Uma solução que tem sido bastante usada para pagamentos de serviços personalizados como babysitting, destaca o professor da Universidade de Chicago. Isto ajuda a explicar o forte crescimento dos valores transacionados. Enquanto em 2018 foram movimentados através do MBWay cerca de 500 milhões de euros, em 2019 o serviço somou 1,5 mil milhões, em 2020 quase 3 mil milhões e no ano passado mais de 5 mil milhões de euros. A aplicação fechou 2021 com cerca de 3,5 milhões de utilizadores, segundo dados da SIBS.

A revolução digital no mercado de pagamentos foi também impulsionada pelas chamadas "Big Tech": Alphabet (Google), Amazon, Apple, Meta (Facebook) e Microsoft. Destas gigantes tecnológicas, que somam milhões e milhões de utilizadores em todo o mundo, apenas uma não entrou no segmento dos pagamentos digitais. Em Portugal a presença destas empresas é cada vez mais notória com a Apple, a Google e a Amazon a marcarem já presença ativa com as suas carteiras digitais, às quais é possível associar vários cartões, e o Facebook a aumentar aos poucos.

O efeito pandemia também motivou um crescimento de soluções digitais de pagamento, devido ao "boom" do comércio eletrónico. Em 2019 o e-commerce valia apenas 10% das vendas a retalho das principais economias europeias. A pandemia, que obrigou o mundo a confinar, acelerou as compras online, um hábito que muitos consumidores mantiveram e que fez disparar para 16% as compras online em 2021.

No estudo, David Evans dedica um capítulo a comparar o setor dos pagamentos em Portugal com os de outros países da União Europeia. Pesados os prós e os contras, o mercado nacional leva uma nota bastante positiva. O autor do relatório começa por destacar que Portugal tem a maior rede multibancos na Europa, havendo 1,4 máquinas para mil habitantes. Um número que compara com a média europeia de 0,83 para mil habitantes. Outro dos destaques é o facto de Portugal ter conseguido uma adoção alargada de terminais de pagamento contactless, que permitem realizar operações apenas por aproximação do cartão e sem a necessidade de se introduzir o código. No entanto, apesar da aceleração nos terminais, David Evans ressalva que o país ainda está atrasado na emissão de cartões que permitam usar este tipo de tecnologia.

Em 2020, o primeiro ano da pandemia, esta tecnologia foi incentivada pelo Banco de Portugal, que decidiu aumentar o limite de pagamentos sem a introdução do código de 20 para 50 euros, alterações que vieram para ficar. Assim, nesse ano, e de acordo com um inquérito publicado pelo BCE e citado no estudo do responsável da Universidade de Chicago, 23% das transações das famílias portuguesas foram feitas com cartões contactless. Um número próximo da média europeia (29%).

Entre os destaques positivos enumerados no estudo estão ainda os baixos níveis de fraude nos pagamentos no mercado nacional. O autor do relatório salienta que em 2019, as transações fraudulentas com cartões foram de 9 em cada 100 mil, um valor bastante abaixo das 32 no resto da União Europeia.

sara.ribeiro@dinheirovivo.pt

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