Compradores estrangeiros dão gás à retoma da indústria têxtil
Durante dois dias, a Alfândega do Porto recebeu a 58.ª edição do Modtissimo, o mais antigo salão da fileira têxtil em toda a Península Ibérica e o único em Portugal, que este ano registou um número "inédito" de expositores - cerca de 280, dos quais 20 estrangeiros -, mas também de visitantes. Foram cerca de quatro mil os compradores profissionais que passaram pela feira, dos quais cerca de 500 estrangeiros. Representa, segundo a organização do certame, um aumento de 10% dos visitantes nacionais e de 35% dos estrangeiros, fazendo acreditar que a retoma do setor está no ar.
"Isto é o resultado do trabalho em equipa da Selectiva Moda, da AICEP e dos próprios expositores, mas resulta também de uma tendência que se está a notar de muitos compradores preferirem visitar feiras mais pequenas e de maior proximidade, e o Modtissimo acabou por ser beneficiado com isso", diz Manuel Serrão, diretor da feira. Para este responsável, os compradores estão, na verdade, a seguir a tendência dos próprios expositores. "As feiras em que estivemos já com presenças físicas, como a Première Vision, a Munich Fabric Start ou a Momad, tiveram todas menos de metade dos expositores habituais. O Modtissimo bateu o recorde no número de expositores, o que é a reconfirmação da nossa aposta em Portugal como país na vanguarda ao nível da sustentabilidade", diz o diretor. A confirmá-lo está o facto de o CITEVE, em parceria com o designer Paulo Gomes, que tem a seu cargo a curadoria do projeto, ter apresentado na Alfândega do Porto o maior iTechStyle Green Circle de sempre, composto por 44 coordenados de 33 empresas.
"Na primeira edição, em 2018, tivemos praticamente que ligar às empresas a convencê-las a apresentarem as suas inovações na área da sustentabilidade. A partir da segunda edição, passou a ser por candidatura, mas temos vindo a crescer todos os anos. E não podemos crescer muito mais", admite Cristina Castro, responsável do CITEVE. O iTechStyle Green Circle - Sustainability Showcase é uma iniciativa destinada a promover nos mercados internacionais "a excelência dos produtos têxteis portugueses ao nível da sustentabilidade e da economia circular". As peças são apresentadas, em primeira mão, no Modtissimo, mas percorrem depois outros salões e certames relevantes para a indústria portuguesa, seja ao nível da moda, dos têxteis-lar ou do desporto.
Também do lado dos expositores o ambiente era de satisfação no final da feira. "Estou impressionada com o movimento do Modtissimo, tivemos espanhóis, americanos, gente com marcas. Tudo indica que vamos voltar a estar no mapa dos fornecedores do mundo", diz Alexandra Araújo Pinho. A CEO da LMA, produtora de malhas e tecidos de fibras sintéticas com múltiplas funcionalidades e alta performance, em Santo Tirso, destaca ainda a presença dos expositores estrangeiros - oito austríacos, dois brasileiros, dois suíços e um grego -, considerando-os uma mais-valia, designadamente gerando interesse crescente dos profissionais estrangeiros. "Vamos embora do Modtissimo com negócios fechados, o que não é habitual", refere. As malhas biodegradáveis são a grande novidade, que a LMA, que tem por objetivo, em breve, tornar a sua coleção 100% sustentável, está a apresentar aos mercados com grande sucesso.
Na outra ponta da cadeia está a Daily Day, marca de vestuário da fábrica LaGofra, de Paços de Ferreira, que foi ao Modtissimo à procura de clientes quer para a sua marca, quer para a fábrica, em regime de private label, e que saiu também satisfeita do salão têxtil na Alfândega do Porto. "Correu muito bem, tivemos muitos clientes, incluindo novos contactos, designadamente de espanhóis, ingleses e austríacos. Aliás, tivemos mais visitantes espanhóis do que portugueses", diz Ana Prata, que considera que, com a pandemia, o mercado mudou e obrigou a uma visão diferente da moda. "Há algum tempo que tínhamos deixado de vir à Modtissimo, mas cá estamos de volta, porque percebemos que é essencial conhecer os clientes, ver as novidades e ver também onde nós próprios podemos melhorar. Estar mais próximo dos clientes é essencial para crescer", defende.
Os visitantes da feira puderam ainda conhecer os projetos mais inovadores das empresas portuguesas, expostos no iTechStyle Showcase. Aqui há de tudo, desde botões produzidos a partir de café, bambu, pó de casca de arroz ou uma combinação de farinha de trigo, farinha de milho e fécula de batata, a têxteis técnicos, que se destacam pelo seu desempenho e pela tecnologia que incorporam. É o caso de uma gabardina de senhora, desenvolvida pela Women"s Empowerment & Fashion Solutions, e que foi sujeita a um acabamento têxtil que permite que só em contacto com a água surjam as andorinhas que estão estampadas no tecido, mas que não são visíveis sem chuva.
Mónica Ferreira, da B-Mum, que desenvolveu o SafetyBabyBed, um sistema de lençóis que impedem os bebés de deslizarem na cama ou de os puxarem para cima da cabeça, procurando reduzir o risco de asfixia em recém-nascidos durante o sono, esteve na feira a apresentar a sua mais recente inovação, um sistema de alerta eletrónico associado aos lençóis. Foi desenvolvido em parceria com a Niup Technologies e deverá em breve chegar ao mercado.
Entre janeiro e julho de 2021, a indústria têxtil e do vestuário exportou bens no valor de 3191 milhões de euros, mais 0,2% do que em igual período de 2019. Um número que esconde realidades distintas. Nos têxteis e no vestuário as vendas ao exterior estão ainda abaixo do período pré-pandemia, com quebras de 1,6% e 3,9%, respetivamente, mas os têxteis-lar e outros artigos têxteis confecionados estão a crescer já 22,8% face aos primeiros sete meses de 2019.