Centeno vai "alinhar salários de gestores da CGD com os de privados"
O fim das limitações salariais na Caixa Geral de Depósitos (CGD) irá abranger os trabalhadores, além dos administradores, lembrou ontem Mário Centeno. O ministro das Finanças justificou a decisão de acabar com tetos salariais no banco público com o desejo de o colocar nas mesmas circunstâncias do que os seus concorrentes.
"O objetivo face aos trabalhadores da CGD é que tenham um tratamento em termos de salários e carreiras em concorrência com o dos restantes bancos", referiu Mário Centeno num encontro com jornalistas que serviu para apresentar as alterações ao regime remuneratório em vigor para a administração do banco.
As alterações aprovadas na última quarta-feira em Conselho de Ministros surgem para "alinhar os salários da nova gestão da Caixa Geral de Depósitos com a realidade dos outros bancos", explicou. Questionado sobre os valores salariais em concreto, Centeno empurrou a resposta para o futuro, salientando que caberá à nova comissão de remunerações decidir sobre o assunto, além de que a decisão "alinhará os salários da CGD com a realidade do setor".
Além do desejo de nivelar as remunerações na Caixa com as dos restantes bancos, as alterações promovidas vão também no sentido de acabar com as regras que hoje vigoram no banco público para as remunerações. "O regime [até agora em vigor] da CGD permite que a administração do banco tenha um vencimento igual à média dos salários que receberam nos últimos três anos, ou seja, na prática, não tem limites", apontou Mário Centeno. "O que se está a estabelecer agora é o princípio de que a remuneração é baseada por aquilo que fazem na CGD e não pelo que fizeram anteriormente."
Este sistema que se procura mudar é perverso, segundo o ministro das Finanças. "Os incentivos na CGD são totalmente perversos, porque permitem que o vice-presidente tenha um rendimento mensal muito inferior ao dos vogais, já que são remunerados pelo que fizeram nos anos anteriores."
Isto "não contribui para a competitividade" e é algo que a CGD "deve alterar, de forma a pôr o banco público como um agente ativo e competitivo, num mercado complexo que tem de se guiar pelas melhores práticas". Tal como a restante banca, também o banco público terá grelha remuneratória própria.
Mário Centeno aproveitou ainda para censurar as críticas feitas à dimensão da nova equipa que irá liderar a CGD. A nova administração do banco público terá 19 administradores, sete dos quais executivos. São muitos ou parecem muitos? Para o governo, são os suficientes.
"Essa informação tem chegado a público de forma perversa", referiu. Lembrou de seguida que nos bancos comparáveis à CGD, as equipas até são maiores. "No BPI, são 23 administradores, dos quais sete executivos, e no BCP são 20, dos quais sete executivos", concretizou.
Questionado sobre a entrada em funções da nova equipa de gestão e as necessidades de capital do banco público, o ministro das Finanças não adiantou pormenores, apontando que há vários temas ainda a ser resolvidos, colocando-os por ordem: a eleição dos órgãos sociais, a alteração do modelo de governo corporativo, o plano de negócios e a recapitalização. Os últimos dois pontos dependem igualmente da nova gestão do banco público.
Mário Centeno referiu que há já um "plano de reestruturação em curso na CGD", admitindo que "como toda a banca europeia", também a Caixa precisa de repensar a sua dimensão estratégica.
"O plano de negócios da CGD terá obviamente uma data e um plano de rentabilidade associado que neste momento não posso avançar mas que tem como prioridade colocar a Caixa Geral de Depósitos ao serviço do financiamento da economia, algo que só se consegue com um banco robusto."