Carros novos a gasóleo apenas valem 20% das vendas

Foram matriculados 180 277 automóveis em 2021, apenas 1,9% acima de 2020. Peugeot acabou com 23 anos de liderança da Renault e mercado do luxo vende mais do que antes da pandemia.
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Previa-se que 2021 fosse o primeiro ano da recuperação do comércio automóvel depois da crise da pandemia. A crise dos semicondutores, contudo, travou as expectativas do ano passado e praticamente estagnou o mercado das quatro rodas. Os portugueses compraram praticamente o mesmo número de carros em 2021 do que no primeiro ano da pandemia. Mas a tendência é para soluções cada vez menos poluentes.

Em 2021 foram matriculadas 180 277 unidades, mais 1,9% do que em 2020, segundo os números ontem divulgados pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Verifica-se uma descida de 32,7% na comparação com 2019, quando houve 267 828 veículos registados.

"Mais um ano perdido", assim resumiu ao Dinheiro Vivo o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro. "Toda a indústria sofre com a falta de semicondutores; em Portugal, ainda levamos com a falta de ausência de medidas de estímulo à procura."

À conta disso, as matrículas de automóveis ligeiros de passageiros cresceram apenas 0,8% face a 2020, para 146 637. Na comparação com 2019, há mais de um terço do mercado por recuperar: a diminuição é de 34,5%.

As empresas também são penalizadas "pela falta de carros para entrega", assinala Rodrigo Ferreira da Silva, líder da Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN). O dirigente também começa a notar que "há uma pequena percentagem dos consumidores a terem receio de comprar um carro que fica desatualizado em um ou dois anos, sobretudo se for um produto híbrido ou elétrico". A situação leva os clientes "a prolongar a vida útil dos carros".

Além da falta de carros para entregar, Portugal está a acompanhar a tendência europeia de diminuição da compra de veículos mais poluentes no segmento de ligeiros de passageiros, o mais popular.

Em 2021, pouco mais de dois em cada dez automóveis novos (21,87%) só funcionavam com gasóleo. Há menos de uma década, em 2013, o diesel chegou a ter 72,3% da quota de mercado.

A gasolina destronou o gasóleo em 2019, mas também está a perder a potência: no ano passado, valeu 42,97% das vendas de novas unidades, o que compara com os 49,9% do ano anterior à pandemia da covid-19.

Em forte crescimento no mercado estão os carros eletrificados. Juntos, os veículos híbridos convencionais, plug-in (com tomada exterior de carregamento) e os 100% elétricos já valem um terço das vendas - há um ano, tinham um quinto da quota de mercado.

Os híbridos convencionais são os líderes, com 13,01% das vendas (8,1% em 2020); os plug-in reúnem a preferência de 10,68% das matrículas; os elétricos puros já valem 9,04% das vendas (eram 5,4% em 2020).

A mudança satisfaz o líder da associação que reúne os utilizadores dos automóveis elétricos (UVE). "É uma excelente notícia, fruto do avanço assinalável das políticas, dos benefícios fiscais e da rede de carregamento de acesso ao público em todo o país, seja pública ou complementar", assinala Henrique Sánchez.

O forte crescimento da oferta - há 120 versões e modelos disponíveis em Portugal - também ajuda a explicar a subida de 69,3% nas vendas de automóveis movidos exclusivamente a baterias, para 13 260 unidades).

Outro dos destaques de 2021 é o fim do reinado da Renault como a marca mais vendida em Portugal, após 23 anos consecutivos no primeiro lugar.

A Peugeot destronou a rival francesa porque aumentou as vendas em 11%, para 17 595 unidades; em sentido contrário, a Renault caiu para segundo, com a venda de 15 439 automóveis, menos 17,1%.

Por margem estreita, a Mercedes conservou o terceiro lugar, com 11 383 matrículas, apesar da descida de 17,2% nas vendas. A principal rival no segmento premium, a BMW, ficou em quarto lugar, a apenas 120 carros de distância, graças ao crescimento de 7,1%.

A Peugeot conseguiu ainda liderar a tabela de vendas de veículos elétricos, destronando a Tesla: foram 1545 matrículas para a marca francesa contra 1508 da fabricante norte-americana.

Aparentemente imune à falta de carros seguem as marcas de luxo. Aston Martin, Bentley, Ferrari, Maserati e Lamborghini venderam um total de 121 unidades no ano passado. O número é superior ao de 2020 (80 unidades) e até de 2019 (89 carros).

A britânica Aston Martin registou 34 unidades (sete em 2020); a também britânica Bentley matriculou 26 unidades (21 em 2020); a italiana Maserati contou com 25 vendas (sete em 2020); a Ferrari registou 23 unidades (30 em 2020); a italiana Lamborghini contou com 13 vendas (15 em 2020).

A ACAP e a ARAN concordam que 2022 vai ser tão ou mais desafiante do que o ano recém-terminado. A crise dos semicondutores só deverá terminar após o primeiro semestre, permitindo o regresso normal das vendas em setembro, embora com "menos carros e mais caros", teme Rodrigo Ferreira da Silva.

Helder Pedro atenta que "será necessário esperar cerca de seis meses para qualquer medida estrutural determinada por um futuro governo e que possa ter impacto no mercado automóvel. Vamos entrar em 2022 com alguma cautela", acrescenta o secretário-geral da ACAP.

Resta saber se neste ano o mercado automóvel vai conseguir regressar ao patamar de vendas pré-pandemia, acima das 200 mil unidades, ou se vai estabilizar abaixo dessa fasquia, tal como aconteceu nos anos da troika.

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