Carlos Robalo Cordeiro: "Espero da oposição que se assuma como catalisadora do debate de ideias e soluções"
1 - O que espera da maioria absoluta de António Costa?
Que possa aproveitar esta oportunidade única para promover as reformas estruturais de que o país há muito necessita, nomeadamente nas áreas do ensino, da justiça, da economia e da saúde.
2 - O país será mais bem governado com maioria absoluta do que com acordos ou geringonças?
Na sequência da resposta anterior, a estabilidade poderá potenciar a otimização de condições para se avançar com a modernização do país, de que estamos tão carentes.
3 - O que espera da atual oposição?
Que possa assumir-se como catalisadora do debate de ideias e soluções, no sentido de potenciar a ambição individual e coletiva, condição fundamental como fator de progresso em face da nossa atual e reconhecida fragilidade social e económica.
4 - O PSD deve preparar-se para ser uma alternativa mesmo que demore mais quatro anos a chegar ao poder?
Naturalmente que como segunda maior força partidária, é isso que se espera e é isso que poderá resultar na criação de uma alternativa credível, condição desejável e expectável em democracia.
5 - Dois ou três deputados a que vai estar particularmente atento? E porquê?
Poderia optar por simpatias intelectuais ou até mesmo proximidades pessoais, mas parece-me interessante e importante acompanhar a intervenção dos líderes dos partidos que mais perderam e que mais ganharam com o último ato eleitoral.
6 - Que expectativa tem em relação aos pequenos partidos que viram as suas bancadas reforçadas no parlamento?
Que sejam capazes de balancear o necessário escrutínio da atividade governativa, obrigatório e salutar em democracia, com uma intervenção proativa e construtiva, a que já fiz referência numa resposta anterior.
7 - Preocupa-o que um partido histórico da democracia, o CDS, esteja agora ausente do parlamento?
Naturalmente que sim, tendo em consideração a importante contribuição desse partido na construção da democracia, fundado, presidido e composto por algumas das personalidades mais ilustres da nossa sociedade e que forneceu brilhantes deputados em anteriores legislaturas. De alguma forma algo de semelhante sucedeu com outros partidos, que agora viram nomes históricos e importantes da atividade parlamentar serem excluídos desta nova composição.
8 - O governo está prestes a tomar posse. Para a educação e ensino superior, qual será a seu ver a medida mais urgente?
A pergunta é curiosa, porque parece antecipar ou pressupor uma necessária articulação entre o ensino secundário e o ensino superior, que poderá ser desde logo uma prioridade no processo contínuo de qualificação das novas gerações. Como diretor de uma Escola Médica, assumo como prioritário que, para além de um ensino que se paute pelos mais elevados padrões de qualidade e exigência, também a investigação e a inovação, capazes de produzir conhecimento e de o colocar ao serviço das populações, nomeadamente dos doentes, sejam os seus pilares estruturantes. E que a formação dos futuros médicos tenha em consideração, a par da aquisição dos conhecimentos específicos da área, a promoção de competências de humanização, comunicação, trabalho em equipa, ética e integridade, condições, entre outras, fundamentais no fortalecimento da relação médico doente, que se assume aliás como candidata a património cultural imaterial da humanidade.