Carlos Costa prevê 155 mil novos empregos até final da legislatura

Serão criados 381 mil empregos de 2016 a 2019. Pode haver surpresas boas este ano, mas perna é curta. Falta produtividade. Turismo e fundos europeus não evitam novo abrandamento
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A economia portuguesa pode criar 381 mil novos empregos durante a atual legislatura (2016 a 2019), de acordo com cálculos do DN/Dinheiro Vivo com base nas novas projeções do Banco de Portugal, ontem divulgadas. Se assim for, aquele valor é 66% superior ao que estimava o governo há um ano (mais 230 mil novos postos de trabalho) no Programa de Estabilidade. É mais do que os 305 mil empregos projetados nas contas mais recentes da Comissão Europeia.

Aquela criação de emprego, que beneficiará de pressões salariais modestas ou "contidas", como referiu o banco presidido por Carlos Costa nas projeções da primavera, contribuirá para que a taxa de desemprego desça dos 8,9% da população ativa (média de 2017) para cerca de 5,6% em 2020.

É o valor mais baixo desde 2001 (19 anos), ano em que a taxa rondou os 5,1%. Há um ano, no Programa de Estabilidade (a atualização deste documento deve acontecer dentro de 15 dias), o governo calculava que em 2019 o nível de desemprego rondaria 8,6%.

As novas projeções do Banco de Portugal refletem, portanto, um ambiente económico bem mais distendido, com mais confiança e taxas de juro bastante mais baixas do que há um ano, o que suporta a força da economia. Há, inclusive, a probabilidade de a situação vir a ser melhor no "curto prazo". Ou seja, ainda podem ocorrer surpresas positivas ao longo deste ano relacionadas com as exportações ou o investimento. O mesmo não é verdade para o "médio prazo", para os anos vindouros, em que os riscos são sobretudo "negativos".

Os 381 mil empregos novos a obter durante esta legislatura são uma cifra que beneficia sobretudo da boa primeira metade da legislatura. Nos dois primeiros anos, Portugal logrou criar mais de 226 mil postos de trabalho, revertendo boa parte da destruição que marcou o governo anterior, uma redução de quase 300 mil empregos. Em cima dos 226 mil, a previsão que decorre dos dados do banco central diz que o país pode ganhar ainda mais 155 mil empregos neste ano e em 2019.

No comunicado que resume o estudo, o Banco de Portugal explica que "o crescimento da atividade deverá ser sustentado pelo forte dinamismo das exportações de bens e serviços e da formação bruta de capital fixo (FBCF) e pelo aumento do consumo privado, num enquadramento económico e financeiro favorável".

Mas não há bela sem senão. Também avisa que nada de substancial mudou face aos constrangimentos internos de sempre, que complicam o andamento a prazo, até 2020. Fala de "desafios demográficos, tecnológicos e institucionais" que "condicionam o potencial de crescimento".

Assim, "a redução do ritmo de crescimento do produto interno bruto ao longo do horizonte de projeção deverá refletir a desaceleração da procura externa e restrições do lado da oferta, associadas a constrangimentos estruturais que impedem um maior crescimento potencial".

E, claro, o emprego cresce, mas não acelera. "Projeta-se uma desaceleração ao longo do horizonte", mas, "no final, o nível médio anual do emprego situar-se-á cerca de 12% acima do mínimo registado em 2013, embora permaneça 1,6% abaixo dos valores de 2008".

O banco refere ainda que "a projeção tem implícito um crescimento fraco do produto por trabalhador" e que "tal deverá traduzir-se num aumento contido dos salários reais", que só foi "mais pronunciado em 2018 devido à atualização do salário mínimo".

"O crescimento do emprego será acompanhado de variações ligeiramente positivas da população ativa, associadas ao regresso de alguns indivíduos inativos ao mercado de trabalho nesta fase favorável do ciclo e ao aumento progressivo da idade de reforma."

Seja como for, o cenário da economia mantém-se praticamente inalterado nestas projeções da primavera. O crescimento de 2018 rondará os 2,3%, em linha com o das restantes instituições (o governo dizia 2,2% em outubro; o BdP 2,3% em dezembro).

Além dos bloqueios internos, no horizonte há outras sombras, "riscos descendentes no médio prazo", alerta, como o "recrudescimento de tensões financeiras, comerciais e geopolíticas internacionais".

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