"BPI vai ganhar consistência. Se o país sai a ganhar ou a perder, já não sei dizer"

Antigo governante diz que preocupações com a banca só se adensaram porque esta "é a última coisa que nos resta". Mas vê com bons olhos a OPA do CaixaBank sobre o BPI
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António Costa nega ter aprovado o decreto para desblindagem dos estatutos dos bancos a pensar no caso específico do BPI, mas essa é uma ideia que subsiste. Como é que analisa a aprovação por parte do governo e a promulgação-relâmpago do diploma?

Não o conheço a fundo, nem tenho suficiente fundamento, mas já ouço falar deste assunto há imenso tempo. É um embaraço.

Mas acredita que foi um fato feito à medida do BPI, como se tem dito?

Não vejo que possa haver má-fé ou algum truque, mas o BPI era o [banco] que havia [nestas circunstâncias]. Não havia mais nenhum no nosso sistema bancário. Não acredito que tenha sido feito a pensar "isto é para ser aplicado só ao BPI". Não vejo nada que seja para beneficiar ou prejudicar quem quer que seja. Era o caso mais premente.

Não tendo havido acordo entre o CaixaBank, maior acionista do BPI, e a Santoro de Isabel dos Santos, que consequências vislumbra para a banca portuguesa e para a nossa economia?

Aquilo de que tenho mais medo é do Estado a gastar aquilo que não tem. Enquanto a economia não mudar, isto não muda. O Estado tomou compromissos para os quais não tem dinheiro e a economia não produz o suficiente. Estes são todos problemas muito chatos, sérios ou mais ou menos sérios, mas o maior problema é o Estado gastar o que não tem.

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Mas não vê perigos nesta rutura entre os dois maiores acionistas do BPI?

Vejo perigo em tudo. Tudo aquilo que a gente anda a fazer é perigoso, mas uns problemas são maiores do que outros.

Nem receia a chamada "espanholização da banca", que tanto o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como o primeiro-ministro, António Costa, tentaram travar?

Eu temo porque hoje Portugal tem uma dimensão muito pequena. O Estado português não tem poderes perante praticamente ninguém e já perdemos tudo. E quando não temos nada, exigem-nos tudo. É uma chatice ser também a banca, mas a preocupação é maior porque já é a última coisa que nos resta. Vendemos a EDP, a REN... tudo. E ninguém se preocupou.

E sobre a exposição a Angola e a gestão dos ativos africanos também tem reservas?

Creio que essas são as questões mais sérias, mas não sei exatamente o que se passa com Angola. Nem sei quem manda nesta parte que cá tem. Agora, Angola também está numa crise que não se sabe muito bem até onde poderá ir. É um problema mais à nossa dimensão. Se esse banco espanhol [CaixaBank] tomar conta do BPI, aí o banco deixa de ter problemas com Angola.

Por último, a já anunciada oferta pública de aquisição (OPA) do CaixaBank sobre o BPI. Vê riscos nesta jogada?

Para o BPI não vejo risco nenhum. Um dos atuais sócios ficará mais sócio, ficará mais forte. Só vejo que sairá deste processo reforçado. O sócio principal é um sócio com peso também a nível europeu, é idóneo e não me parece que venha a causar problemas. Até creio que o BPI ganhará consistência. E também acredito que ganhará por deixar de haver divisões internas. Agora, se me perguntar se o país sai a ganhar mais ou menos ou se sai a perder, já não lhe sei dizer.

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