Boom de turismo ajuda empresas a pagar créditos em metade do tempo
Não é segredo para ninguém. O turismo está a bater recordes e os bons números convidam cada vez mais empresários a entrar para este setor, apesar do arrefecimento dos últimos meses. Para se ter uma ideia do boom, em 2017 existiam em Portugal perto de 2300 empresas de animação turística; hoje já são quase 8350. E no alojamento local a dimensão é ainda maior: quase 82 mil alojamentos, quando em 2017 não chegavam aos 54 mil. Ao todo, existiam no país 33 mil empresas turísticas entre operadores, hotéis, firmas de animação ou agências de viagem. Com as vendas a subir de 11% em 2014 para 17% em 2017, o endividamento baixou para mais de metade. Em 2014, ano em que terminou o programa de ajustamento financeiro a Portugal, um investimento só era rentabilizado ao fim de sete anos; agora são precisos apenas três.
"Há uma recuperação clara. Aliás, quando falamos da importância do aumento da receita turística, é porque se reflete no resultado das empresas. Há uma recuperação muito clara relativamente a estes indicadores", diz Luís Araújo em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo, lembrando que a rentabilidade das empresas em 2017 estava acima dos 14%. Se recuarmos a 2014, as empresas tinham uma rentabilidade negativa (-1%).
O presidente do Turismo de Portugal não esconde que o aumento do fluxo turístico veio dar um novo fôlego financeiro ao setor e que isso está a ser canalizado tanto para novos investimentos como para reforço dos próprios balanços. "Hoje os empresários veem Portugal com cada vez mais interesse numa perspetiva de investimento, e em todo o país - e são muitos com quem temos falado. É curioso ver que o programa Revive é um bom exemplo disso, vemos que há interesse por vários imóveis em todo o país, até por parte de grupos estrangeiros. Acho que tem muito mais a ver com a estabilidade jurídica do país, a estabilidade enquanto destino turístico e a competitividade que temos conseguido manter ao longo do tempo, bem como o esforço na aposta nos recursos humanos."
A captação de mais mercados através de campanhas realizadas tanto no digital como nos canais tradicionais tem sido uma aposta ganha do Turismo de Portugal. Por exemplo, depois de terem investido nos Estados Unidos, o número de norte-americanos a visitar o país subiu 22%, para quase um milhão em 2018, também à boleia das novas rotas aéreas e do programa Stopover, da TAP.
Para este ano, o Turismo de Portugal tem novas apostas. A primeira faz-se no Reino Unido, com a campanha #Brelcome, na qual se investiram 200 mil euros para mitigar os efeitos do Brexit. Com ou sem campanha, a verdade é que a atividade turística dá algum ânimo ao setor. Depois das quebras consecutivas de 2018, nos dois primeiros meses do ano registou-se uma subida de 3,2% nas dormidas de britânicos em Portugal. Só em fevereiro, o aumento foi de 2,1%, divulgou ontem o Instituto Nacional de Estatística.
Os números são positivos num quadro em que as dormidas recuaram, influenciadas pelo calendário, que em 2018 teve o Carnaval em fevereiro, enquanto neste ano só aconteceu em março. Sem o efeito Carnaval, as dormidas na hotelaria recuaram 1% em fevereiro. Ao todo foram contabilizados 3,3 milhões de dormidas e 1,4 milhões de hóspedes. Os proveitos abrandaram, mas ainda assim cresceram 4,4%, totalizando 172 milhões de euros.
O Turismo de Portugal quer repetir os bons números de anos anteriores e, para isso, além de feiras e fun trips, tem um orçamento em torno dos dez milhões de euros para tornar Portugal mais visível no estrangeiro.
"Só em campanha digital, investimos à volta de dez milhões de euros em 2018, em 21 mercados. Neste ano vamos, em princípio, manter este valor. Também estamos a apostar muito em ações offline com o Portugal 360º [mostra de várias regiões e património] no Rio de Janeiro e em São Paulo em junho, que vai ser um sucesso; o 360º nos EUA por conta da inauguração das novas rotas da TAP para São Francisco e Chicago; e vamos ter um 360º em Londres", adiantou. A mais curto prazo está ser preparada uma ação de promoção de Portugal em Paris, nas Galerias Laffayette. "Isto sem considerar todo o investimento em road shows, workshops, presenças em feiras, delegações externas."