Banqueiros comprometidos com apoio à economia nacional para recuperar o país
É precisamente nos anos difíceis que melhor se percebe a importância da banca no crescimento do país, concordam CEO e administradores dos maiores bancos portugueses, que não se deixam abalar pela crise.
O próximo ano adivinha-se difícil. Esse foi, talvez, o principal elemento aglutinador na Money Conference, organizada pelo DN, Dinheiro Vivo e TSF. Fernando Medina, ministro das Finanças, alertou para o facto de que as subidas das taxas de juro pelo Banco Central Europeu irão também marcar 2023 e lembrou que a banca também terá de "enfrentar o processo da subida das taxas de juro". Mas há particularidades nacionais que nos dão vantagem, como o pleno emprego e a resiliência nomeadamente de uma banca muito mais sólida do que num passado recente. O governante realçou esse seu papel e os banqueiros aceitaram o repto de dar a mão à economia.
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Ainda antes, o cenário macro fora traçado por Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, alertando para o expectável "abrandamento das economias" com países como a Alemanha e a Itália a poder mesmo entrar em recessão. Ao que Medina acrescentou: "Teremos inflação elevada, durante um maior período", ainda que as análises apontem para valores "mais reduzidos do que os atuais".
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Lisboa, 10/10/2022 - Money Conference, Helder Rosalino - Administrador Banco de Portugal, (Carlos Pimentel/Global Imagens)
© Carlos Pimentel/Global Imagens
A conjuntura não é fácil e quer Medina quer Rosalino optaram por fazer retratos realistas do que enfrentamos, com o administrador do Banco de Portugal a lembrar que o aumento generalizado das taxas de juro se traduz em condições de financiamento mais desfavoráveis. "Este é um contexto adverso e estamos ainda a lidar com o impacto da pandemia", sublinhou. Além disso, a "confiança pode deteriorar-se ainda mais se as condições do lado das ofertas continuarem a deteriorar-se". Há, porém, esperança, acreditam.

Lisboa, 10/10/2022 - Money Conference, Fernando Medina - Ministro das Finanças, (Carlos Pimentel/Global Imagens)
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A banca como garante da estabilidade da economia
Ainda que os problemas que vivemos nos sejam impostos por um "contexto externo" em que não temos como intervir, como sublinhou Medina - "Seremos confrontados com desafios sob os quais não temos qualquer responsabilidade", a guerra continuará a marcar a agenda e há "total incerteza sobre quando e em que condições o conflito termina" -, há reflexão e opções políticas que o governo pode e vai tomar para amaciar o possível. "Normalizar os preços da energia" e dar gás ao movimento europeu para autonomização energética são exemplos.
E cabe à banca um importante papel, reconhece o ministro. "A banca tem sido um dos fatores fundamentais para a estabilidade de Portugal", sublinha João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, uma ideia confirmada pelos outros banqueiros. Um dos exemplos dados foi precisamente o apoio facultado pela banca durante a covid-19, prova da resiliência do setor e que ajudou famílias e economia a resistir. Oliveira e Costa lembrou mesmo que a banca hoje é um fator de de- senvolvimento: basta olhar para os indicadores, em termos de capital, por exemplo, para se notar a solidez da banca portuguesa.
Miguel Belo de Carvalho, administrador do Santander, concretizou essa importância, lembrando as moratórias. "Duraram o tempo certo e não prejudicaram a carteira de clientes", afirmou, sublinhando o empenho do banco em puxar pela economia. Um apoio que, na opinião de Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, se irá manter. Segundo o gestor, os bancos serão parte da solução na crise que vivemos. "É um caminho longo que não começou agora [a resposta aos desafios da economia]. Desde 2008 que temos tido desafios atrás de desafios", assinalou o CCO do Novo Banco, que acrescentou que "todos os bancos farão parte da solução" e o NB estará na linha da frente, "com a sua atividade estritamente [focada] em Portugal".

Lisboa, 10/10/2022 - Money Conference, Miguel Belo de Carvalho - Administrador do Santander, (Carlos Pimentel/Global Imagens)
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Na mesma linha, Pedro Leitão, CEO do Montepio, garantiu que o banco está preparado para apoiar os clientes em eventuais dificuldades com a subida dos custos com empréstimos. Em resposta ao mecanismo do governo que obriga a renegociar créditos garantiu: "Não deixaremos de dar apoio a mais ou a menos um cliente pelo facto de termos ou não o diploma. Estou certo de que não há nenhum banco que deixará de apoiar um cliente por haver alguma clarificação."

Lisboa, 10/10/2022 - Money Conference, Pedro Leitão - CEO do Montepio, (Carlos Pimentel/Global Imagens)
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"Bancos não querem ficar com as casas"
Questionado sobre a obrigação de renegociar os créditos, Miguel Belo de Carvalho considerou que é uma "medida importante", que vem reforçar "a que já estava em vigor desde 2012", e a qual "os bancos têm vindo a aplicar nos últimos dez anos, de uma forma permanente, sempre que se justifica".

Lisboa, 10/10/2022 - Money Conference, Miguel Maya - CEO do Millenium BCP, (Carlos Pimentel/Global Imagens)
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"Os bancos não querem ficar com as casas de ninguém, senão ficam sem crédito", simplificou Miguel Maya, CEO do BCP, alertando porém para a injustiça de se estar a colocar nos bancos que apoiam a economia e a habitação o ónus de instituições que dão crédito e não o fazem. O banqueiro alertou ainda para o facto de os resultados dos bancos ainda estarem abaixo do custo de capital. "Estamos finalmente a conseguir caminhar para um patamar minimamente sustentável", mas "não é possível ter uma banca robusta sem uma economia robusta" e vice-versa.

Lisboa, 10/10/2022 - Money Conference, Paulo Macedo - CEO da CGD, (Carlos Pimentel/Global Imagens)
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No dia em que apresentou os resultados da Caixa, também Paulo Macedo defendeu a solidez das contas. "A banca está mais saudável", admitiu, descartando a ideia de lucros inesperados e de uma possível nova taxa sobre o setor. "já pagamos lucros extraordinários desde 2011 e temos o adicional desde 2020. Só a CGD pagou de taxa adicional de 37 milhões de euros. Se os bancos fizeram aumentos de capital [...] é normal que passem a ter resultados mais significativos", lembrou. E por fim assegurou que a saúde da banca lhe permitirá enfrentar os choques que chegarão no próximo ano.