Banca faz alerta para os angariadores digitais de "Mulas de dinheiro"

Jovens, desempregados e pessoas em dificuldades financeiras são os alvos fáceis, diz Associação Portuguesa de Bancos, que explica no site Saber de Contas como evitar ser vítima.

A sugestão parece simples. inocente e, nestes tempos de apertos económicos, aliciante: por exemplo, uma normal transferência de dinheiro usando a própria conta ou outra criada para esse efeito e, em troca, fica-se com uma pequena parte do mesmo. Que mal haverá nisto? Mas e se, num aeroporto, lhe pedissem para transportar uma mala cheia de notas, pensaria o mesmo? Pois é, as pessoas que se dedicam a qualquer uma destas atividades são designadas por money mules, ou mulas de dinheiro, e o seu comportamento é crime. Como a sua deteção, muitas vezes, só é possível graças à atuação dos bancos em colaboração com as autoridades, a Associação Portuguesa de Bancos (APB) associou-se à campanha "#Dont be a Mule: ser mula de dinheiro é crime!" - lançada pela Europol e Federação Bancária Europeia - e no seu site Saber de Contas ensina-lhe o que fazer para não cair vítima destes esquemas.

De acordo com a APB, "os jovens (incluindo menores), os recém-chegados ao país, os desempregados, os estudantes ou as pessoas com dificuldades financeiras são os principais alvos dos angariadores de money mules", devido à sua vulnerabilidade. Estas mulas de dinheiro tradicionalmente eram angariadas em pessoa, mas com o desenvolvimento da internet, redes sociais e aplicações (ver imagem da caixa), os angariadores usam agora os meios digitais para aliciar as suas vítimas.

Ora, mesmo que não saibam o que estão a fazer, o problema está na origem desses fundos: fruto dos mais variados crimes, estes capitais ao passarem por tais transações sofrem uma lavagem ou branqueamento. Está a começar a ver onde se teria metido se tivesse aceitado o desafio feito acima, certo?

Como alertam os responsáveis da APB, embora "as money mules não estejam diretamente envolvidas nos crimes que geraram a obtenção do dinheiro (cibercrime, pagamentos e fraudes online, drogas, tráfico humano, entre outros), elas são cúmplices, uma vez que colaboraram na lavagem desses fundos. Isto é, as money mules ajudam as redes de criminosos a permanecer anónimas enquanto transferem dinheiro pelo mundo". Já para não dizer que o branqueamento de capitais é um crime por si só.

Uma busca rápida no site da Europol permite perceber que, só no final do ano passado, foram detidas 2469 mulas de dinheiro, o que impediu o branqueamento de 17,5 milhões de euros, tendo sido identificadas 8755 mulas de dinheiro, juntamente com 222 recrutadores. Números alcançados, acrescenta a APB, graças a uma operação conjunta da Europol, Eurojust, Interpol e da Federação Bancária Europeia (EBF), da qual a Associação Portuguesa de Bancos é membro, e que decorreu entre setembro e novembro de 2022, em 25 países.

Aliás, como já se referiu e a própria APB salienta, é frequente a deteção destes crimes só ser possível com a cooperação dos bancos, que têm o dever de conhecer o seu cliente e a origem dos fundos transacionados, estando obrigados a reportar todo o tipo de operações suspeitas. Segundo a associação, esta operação conjunta da Europol "teve a colaboração de cerca de 1800 bancos e instituições financeiras através de denúncias relacionadas com serviços de transferências online, trocas de criptomoedas, entre outros".

Como tudo acontece

Sinal dos tempos, embora os contactos pessoais continuem a existir, hoje há muita angariação online, claro (ver imagem da caixa). E, como é óbvio, nas malhas destas redes, por norma, caem sempre os mais vulneráveis: pessoas mais jovens (logo, com menos experiência de vida ou mais ingénuas), em dificuldades financeiras, e/ou com menos instrução, mais facilmente ludibriáveis.

Segundo explica a APB, os angariadores pedem às vítimas que transfiram dinheiro a partir da sua conta, para uma conta de terceiros, oferecendo-lhe em troca uma determinada quantia. Depois, pedem-lhes o número da conta ou que abra uma nova. "Ao fazê-lo, a mula vai estar a ajudar criminosos a transferir fundos, de forma anónima, que podem estar associados a atividades criminosas, muitas vezes, ligadas ao cibercrime e a redes internacionais. A oportunidade de fazer dinheiro fácil e rápido é apresentada como não tendo qualquer risco."

No final de 2022, foram detidas 2469 mulas de dinheiro e 222 recrutadores em 25 países. Mesmo que o não saibam, as money mules fazem lavagem de capitais."

"Ser money mule é um crime que deve ser denunciado junto do seu banco, fornecedor de serviços de pagamento ou autoridades locais, como a Polícia Judiciária", frisam os responsáveis da APB. E alertam: "As mulas de dinheiro são uma parte crucial do esquema de lavagem de dinheiro, pois permitem que os criminosos movam fundos rapidamente, através de uma rede de contas bancárias, muitas vezes em países diferentes. As mulas de dinheiro são geralmente utilizadas através do cibercrime, para transferir o produto da sua jurisdição para o país de origem do criminoso."

Todos os anos, a Europol e os parceiros internacionais, como a Federação Bancária Europeia (EBF, na sigla inglesa) - logo, também a APB -, promovem uma campanha de sensibilização para este crime, que já vai na 8.ª edição. Quanto à APB, tem no seu site diversos artigos - como este ou este -, folhetos, que podem ser descarregados, e um vídeo, que o ajudam a não cair vítima deste crime.

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