Aveiro inaugura parque tecnológico para startups brasileiras e portuguesas
Inaugura hoje na cidade de Aveiro um espaço para instalação de startups brasileiras e portuguesas. É o Porto Digital Europa, uma filial do maior parque tecnológico da América Latina, localizado em Recife, capital do estado de Pernambuco. A iniciativa já conta com quatro empresas instaladas e outras cinco em tratativas. A meta é ter 15 startups no local até o final de 2024.
Em um painel dentro da programação da Aveiro Tech Week ontem, no fim da tarde, representantes do projeto debateram sobre a geração de negócios entre ambos os países. "É muito mais fácil internacionalizar quando já existe um ecossistema e pessoas para apoiar, seja daqui para o Brasil e vice-versa", explica João José Barbosa, que está à frente do Porto Digital Europa. O empresário já morou no Brasil por vários anos e regressou para fazer a ponte entre os dois lados do oceano no novo projeto.
A escolha de Portugal é considerada natural, já que existe a facilidade do idioma comum, as relações diplomáticas e históricas, além voos diretos da cidade de Recife. Há pelo menos dois anos que um grupo realizava visitas em busca de um município para a internacionalização em solo português.
A opção de Aveiro tem a ver com a vocação da cidade para a área tecnológica, mas também um custo de vida mais baixo, na comparação com Lisboa e Porto e qualidade de vida. O apoio do poder público e a universidade na cidade foram outros fatores considerados fundamentais pela direção do projeto.
Este é um aspeto importante que facilita a mudança das famílias e dos funcionários e é considerado um pilar do Porto Digital Europa: integrar as famílias brasileiras na cidade. Para isso, é utilizada a estratégia "Soft Landing", que proporciona apoio nas questões burocráticas que envolvem a mudança de país.
Uma equipa jurídica do parque cuida da documentação, como a solicitação do NIF e NISS, além dos vistos. Até mesmo matrículas nas escolas contam com apoio do parque, com objetivo de facilitar a integração de todos na na nova cidade. "Atrás do empresário há uma pessoa, uma família, precisamos cuidar dessas pessoas, que façam seu trabalho de uma forma mais tranquila e feliz, porque emigrar é muito difícil e sei por experiência própria", pontua João. O feedback até agora é positivo.
Segundo Mariana Pincovsky, vice-presidente do Porto Digital, o grupo está otimista com a meta de conquistar 15 startups até o final do próximo ano. "Tivemos uma missão de 25 empresários no ano passado e, destas, cinco estão em processo. Quando falamos do projeto, quando sai algo na imprensa ou nas redes, somos inundados de perguntas sobre como se mudar pra Portugal, existe um interesse muito grande", ressalta. Outro ponto é que Portugal seja o ponto de referência da internacionalização europeia, especialmente pelas relações com o Brasil.
A proposta do parque é unir empresas, universidades e a comunidade, replicando o modelo de negócios do parque em Recife. O hub no Brasil existe há mais de 20 anos e movimentou 880 milhões de euros em 2022.
Renato Marques Fernandes, de 47 anos, que é analista de sistemas, é um dos empreendedores já instalados no Porto Digital Europa. Com uma startup de inteligência artificial, realizou a mudança para Aveiro recentemente. A decisão partiu após uma visita técnica realizada em 2022 e um planeamento de internacionalização. A expectativa é que o trabalho seja intensificado e que mais pessoas sejam integradas à equipa.
Segundo o brasileiro, a decisão de investir em Portugal "tem se mostrado muito feliz e acertada até o momento". Como é a proposta do hub, o empresário recebeu o apoio Soft Landing na mudança, com "extremo cuidado e apoio durante os complexos processos, particularmente no que tange às questões familiares".
A maior empresa no parque em Aveiro é o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), a primeira empresa do Porto Digital de Recife. Nesta semana, será assinado um contrato com o grupo SONAE MC, o primeiro do parque nesta etapa de inauguração.
Conforme Karla Godoy, diretora de operações do CESAR, uma equipa já está a trabalhar em Aveiro e vai executar a parceria com a SONAE MC. Os profissionais serão responsáveis por ajudar a empresa a lançar 66 novos produtos e serviços com tecnologia 5G nos próximos dois anos.
Karla espera que seja o primeiro de outros trabalhos na área tecnológica a serem realizados no país. "Vamos procurar editais e ver em como colaborar", ressalta. Ainda de acordo com a diretora, outra troca de experiências importante será na qualificação da mão de obra.
"Recife e Pernambuco já passaram pelo que acontece em Portugal hoje, que é a falta de mão de obra especializada e qualificada. Quando começamos a trabalhar, há 25 anos, iniciamos essa capacitação, algo que poderemos fazer aqui também, porque sabemos que faltam especialistas no mercado português, principalmente em áreas de tecnologia e Inteligência Artificial, que é o tema do momento", explica.
No mesmo sentido, Hugo Filipe Cerqueira Coelho, presidente da Associação Portuguesa de Parques de Ciência e Tecnologia, acredita que é uma mais valia ter um parque tecnológico brasileiro em Portugal. "É um projeto diferente pela relação com o Brasil, temos cá uma enorme comunidade brasileira e muita mão de obra qualificada, além da expertise e opiniões diferentes para todos crescermos juntos", diz. Já foi assinado um acordo de parceria do Porto Digital Europa com a associação, que integra 25 parques pelo país.
Por fim, o hub também está disponível para nómadas digitais, que igualmente podem contar com apoio jurídico nos trâmites burocráticos. A direção do parque acredita que Aveiro é uma cidade próspera para realização de networking e para quem trabalha remotamente com tecnologia.
Provisoriamente, as instalações ficam no Parque de Exposições de Aveiro. O sítio conta com salas privativas, salas de reuniões, coworking e anfiteatro. Depois, o hub vai mudar-se para uma sede própria, disponibilizada pela Câmara de Aveiro. O prédio está em obras e ainda não há uma previsão de quando será finalizado.