As novas grandes empresas portuguesas

Countdown to Web Summit 2022 com Manuel Caldeira Cabral, presidente do Conselho Estratégico da Startup Portugal.
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Existe em muitas pessoas a ideia de que nada está a mudar na economia portuguesa. Alguém que olhe para as maiores empresas cotadas no mercado português poderia confirmar essa ideia. Nove das dez maiores cotadas em 2022, já faziam parte das dez maiores empresas que dominavam o mercado de capitais há 12 anos.

A ideia de que nada de estrutural mudou cai por terra quando se introduz no gráfico as novas empresas tecnológicas. Afinal muito mudou. Cinco das dez empresas com maior valor, são empresas que há 6 anos, na sua maioria, não faziam parte das 500 maiores ou nem sequer existiam.

Portugal tem hoje entre as suas maiores empresas, não apenas empresas de energia, banca, telecomunicações, industriais e de distribuição, mas também várias empresas tecnológicas. Esta não é, pelo menos por enquanto, a realidade da maioria dos países europeus, onde as maiores empresas continuam centradas na área financeira, da indústria ou distribuição. A Europa permanece, neste aspeto, distinta dos EUA, onde as maiores empresas já são todas empresas tecnológicas. Portugal destacar-se com uma evolução mais rápida neste sentido é uma mudança importante.

As novas grandes empresas portuguesas distinguem-se das anteriores não apenas por estarem em áreas diferentes, mas por terem a sua atividade centrada no mercado global, não estando presas às limitações da dimensão do mercado português, e por apresentarem taxas de crescimento muito aceleradas tanto do seu valor, como das vendas e do emprego.

Estas empresas apresentam um crescimento acelerado, são globais desde o início, são baseadas na inovação, estão bem capitalizadas, têm forte peso dos gastos em I&D, uma forte proporção de jovens e de trabalhadores altamente qualificados, e praticam salários muito acima da média.

Estas características fazem com que as novas grandes empresas portuguesas estejam já a contribuir para acelerar o crescimento do país. E podem dar um contributo muito maior para o crescimento das próximas décadas. Atrás dos sete unicórnios seguem mais de uma dúzia de empresas com valor entre os 100 milhões e os mil milhões, como a Fuel Labs, a FRVR, a Defined.ai, a Veniam, ou 360imprimir, que já têm centenas de trabalhadores e podem em breve vir a superar a barreira dos mil milhões.

O impacto destas empresas na economia portuguesa já é visível no reforço da inovação, no emprego, nas exportações de software, ou na reversão dos fluxos de saída de jovens qualificados.

Em 2021, entre as três instituições que publicaram mais patentes, duas eram empresas que há poucos anos eram startups e hoje são unicórnios (a Feedzai e a Sword Health). As novas empresas deram um contributo decisivo para a subida de quase 300% do número de patentes europeias registada por entidades portuguesas nos últimos 10 anos, que fez com que o país nos últimos três anos tenha registado mais patentes europeias que a Hungria ou a República Checa, país que há dez anos registava o dobro das patentes de Portugal.

Impacto também no emprego. Nos últimos seis anos as empresas tecnológicas com fundadores portugueses criaram 60 mil empregos. A estes juntam-se outros tantos nos centros de desenvolvimento das multinacionais que vieram para Portugal. Criaram empregos qualificados, bem pagos e para pessoas com menos de 35 anos, dando assim um contributo importante para reverter o fluxo de saída de jovens.

O impacto também se nota nas exportações de serviços de informática, que nos últimos seis anos triplicaram, e em 2022 poderão ficar próximas dos 4 mil milhões de euros, ultrapassando o valor exportado pela Autoeuropa.

Portugal tem hoje entre as suas maiores empresas um conjunto de empresas novas, com um novo tipo de empresários. Estas empresas não substituem as anteriores grandes empresas, nem substituem os setores exportadores baseados em PME. Adicionam-se a estes setores e podem ajudá-los na digitalização, na inovação, ou em alavancar a sua capacidade de exportação nas suas plataformas. O impacto que já estão a ter é apenas uma amostra do potencial que têm para mudar o país. As empresas tecnológicas não são a solução para todos os problemas de Portugal. Mas são, sem dúvida, uma parte interessante da solução.

Nova rubrica

Countdown to Web Summit 2022 é uma nova rubrica no Diário de Notícias que antevê algumas das tendências que vão marcar o próximo encontro mundial das startups no final de outubro, em Lisboa. Até à semana do evento, estarão em análise as oportunidades e os desafios dos investidores, os exemplos inspiradores e as novidades que vão marcar a agenda dos empreendedores nacionais e mundiais. O palco passa por aqui, com a reflexão de especialistas numa nova série de artigos de opinião. O artigo hoje publicado tem a assinatura de Manuel Caldeira Cabral, presidente do Conselho Estratégico da Startup Portugal.

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