Startups: A Revolução dos últimos seis anos
Entre 2015 e 2021, o valor das tecnológicas saltou de 2 mil milhões para 37 mil milhões de euros (de 1% para 18% do PIB) - ver gráfico. Hoje, as startups e novas empresas tecnológicas portuguesas empregam 70 mil pessoas, tendo sido responsáveis por quase um quinto da criação de emprego desde 2016.
Quando, há seis anos, eu e o João Vasconcelos lançámos o Programa Startup Portugal, este foi recebido com entusiasmo no ecossistema, mas com uma dose de ceticismo por parte dos comentadores económicos. As startups eram empresas engraçadas, com miúdos cheios de ideias, a fazer coisas giras. Mas não era daí que podia vir o crescimento do PIB, do emprego e do investimento de que o país precisava.
De facto, quem olhasse para trás, podia verificar que, nos cinco anos anteriores a 2015, o investimento em capital de risco, aplicado em startups e empresas tecnológicas portuguesas tinha sido, em média, apenas de 30 milhões de euros por ano.
Mas nós não estávamos a olhar para trás. Estávamos a olhar para a frente e a ver que, se Portugal soubesse criar as condições certas para aproveitar o talento da geração mais qualificada de sempre e soubesse atrair os investidores internacionais, poderia avançar muito nesta área. Em 2018 conseguiu-se logo atingir os 500 milhões de investimento e, em 2021, ultrapassou-se os mil milhões de euros.
Estávamos também a olhar para o lado e a ver, que a ideia de que a Europa não tinha nada a dizer nas empresas tecnológicas já estava a ser desafiada em Berlim, em Londres, e nos países escandinavos. Quisemos juntar Portugal a esta lista, e com o Programa Startup Portugal assumimos o objetivo de ter instrumentos, apoios e condições iguais às existentes nos países europeus com melhores práticas. Hoje Lisboa (6.ª) e Porto (18.ª) surgem entre as 20 melhores cidades europeias para fundar uma startup (Startup Heatmap 2021) e Portugal tem sete unicórnios, mais do que os restantes países do sul da Europa todos juntos.
Os resultados conseguidos pelos empreendedores portugueses superaram muito as expectativas mais otimistas. O que se passou nesta área foi uma verdadeira revolução que fez com que as empresas tecnológicas estejam já a dar um contributo importante para o crescimento do país. Contributo que deverá acentuar-se ainda mais nos próximos anos. Esta foi uma mudança estrutural importante, em que Portugal avançou mais rápido do que a maioria dos países europeus.
Esta evolução resultou do mérito dos nossos empreendedores e do talento da geração mais qualificada de sempre, mas também de políticas públicas que ajudaram à evolução do ecossistema, contribuindo para que surgissem mais projetos e para que estes projetos pudessem crescer em Portugal.
Trabalhou-se no apoio aos empreendedores, no aumento do financiamento, alavancando o capital de risco, e para dar mais visibilidade ao ecossistema português, de forma a atrair mais investidores internacionais, startups e novos centros de desenvolvimento tecnológico para Portugal. Trabalhou-se também com a Web Summit, que deu um forte impulso ao ecossistema português.
O trabalho mais importante foi o dos empreendedores, que acreditaram nas suas ideias, souberam convencer os investidores, não hesitaram em contratar os melhores jovens e em pagar-lhes o que eles merecem. Foram eles que fizeram esta verdadeira alteração estrutural e que mostraram claramente que com boas ideias se pode conseguir crescer a partir de Portugal. São eles que vão escrever sobre o que fizeram e o que querem fazer nas próximas crónicas desta coluna.
Nova rubrica
Countdown to WebSummit 2022 é uma nova rubrica no Diário de Notícias que começa agora e que antevê algumas das tendências que vão marcar o próximo encontro mundial das startups no final de outubro, em Lisboa. Até à semana do evento, estarão em análise as oportunidades e os desafios dos investidores, os exemplos inspiradores e as novidades que vão marcar a agenda dos empreendedores nacionais e mundiais. O palco passa por aqui, com a reflexão de especialistas numa nova série de artigos de opinião. Este primeiro artigo tem a assinatura de Manuel Caldeira Cabral, que foi ministro da Economia e um dos pais do desenvolvimento do ambiente e políticas públicas em prol das startups.