António Costa avisa Lagarde. "Convém que o BCE seja prudente a conduzir esta política monetária"

O primeiro-ministro afirma que têm sido os governos a adotar medidas para proteger as famílias da política de Christine Lagarde.

João Francisco Guerreiro
© EPA/STEPHANIE LECOCQ

António Costa transmitiu esta sexta-feira um conjunto de críticas à presidente do Banco Central Europeu, relativamente à política de sucessivos aumentos das taxas de juro, para lidar com a inflação. Para o chefe do Governo, "até agora" as medidas de Christine Lagarde não estão a conduzir ao resultado pretendido.

"Até agora, as contribuições significativas da subida da taxa de juros para controlar a inflação não se verificaram e é improvável que se verifiquem devido ao facto das causas específicas que esta inflação tem", criticou António Costa.

"Convém que o BCE seja muito prudente relativamente à forma como está a conduzir esta política monetária", avisou o primeiro-ministro, referindo-se à mensagem que transmitiu à "senhora Lagarde".

António Costa afirmou que, perante "a maior robustez do que aquilo que se esperava", na economia não deve fazer-se uma leitura errada dos bons resultados. "Todos receamos que isso decorra do facto de ter havido uma acumulação muito significativa de poupanças e de liquidez fruto da pandemia", afirmou Costa, admitindo que a atual política do BCE só poderá "ter efeito" à medida que "as poupanças forem diminuindo".

"Se a inflação tem estado a ser controlada, deve-se, em primeiro lugar, às medidas que os governos têm adotado para controlar a evolução do preço da energia, e em segundo lugar, às medidas que têm sido adotadas para apoiar o aumento dos custos de produção, designadamente no setor agrícola", destacou António Costa.

Por essa razão, apesar Bruxelas recomendar o levantamento de algumas medidas de apoio às famílias, António Costa considera que, em muitos dos Estados-Membros, os apoios do Estado têm sido a melhor forma de lidar com o aumento do custo de vida. "Em particular, em Estados onde há um elevado acesso ao crédito para habitação própria", frisou António Costa, admitindo que, estes, "naturalmente têm que adotar medidas ​​​​​​​que protejam as famílias dos efeitos desta política do BCE".

O presidente do Eurogrupo, Pascal Donohoe alertou os líderes europeus que é altura de introduzir alterações para lidar com a inflação, mantendo a política orçamental "coordenada". "Reconhecemos que as medidas que aumentam a procura nas nossas economias e aumentam permanentemente o endividamento já não se justificarão perante as mudanças que estão a acontecer", defendeu Donohoe, admitindo que "é preciso manter o apoio à nossas sociedades, particularmente para os mais vulneráveis".

Resiliência da Banca

A banca e a resiliência perante a crise foi outro dos temas em destaque na Cimeira Europeia. O presidente do Eurogrupo, Pascal Donohoe manifestou confiança em relação à capacidade do sistema financeiro para lidar com os desenvolvimentos mais recentes, garantindo, que não vai faltar dinheiro aos bancos.

"Estou muito confiante no volume de liquidez, na resiliência que o nosso sistema bancário tem acumulado", assinalou, afirmando que os "reguladores, as instituições, a nível nacional e europeu, desempenharam um papel muito importante no reforço da resiliência do nosso sistema bancário".

No entanto, Donhoen admite que a União Europeia não pode ficar indiferente aos mais recentes desenvolvimentos no sistema bancário, depois da crise do Credit Swiss e do Silicon Valley Bank.

"Os recentes desenvolvimentos que tiveram lugar nos mercados financeiros e nos bancos em todo o mundo recordam-nos a necessidade de estarmos sempre vigilantes e de continuarmos a acompanhar os riscos à medida que estes se desenvolvem", afirmou Pascal Donohoe, confiante de que o sistema bancário terá robustez para enfrentar a crise.

Mas António Costa espera que a garantia de liquidez no sistema financeiro se traduza em mais investimento canalizado para onde considera mais necessário. "É muito importante que essa liquidez seja orientada para o investimento produtivo, para a transição energética, para a criação de mais e melhor emprego e não continua a ser consumido, como tem sido excessivamente, no investimento em imobiliário e, portanto, cada vez mais necessário investir em capacidade produtiva e na produção de bens transacionáveis", defendeu.

Costa admite que sai de Bruxelas "agradado com a mensagem de grande confiança que a "senhora Lagarde transmitiu quanto à solidez do sistema financeiro europeu, explicando detalhadamente as diferenças entre o sistema regulatório europeu e o sistema regulatório americano ou mesmo suíço, e portanto são razões pelas quais podemos ter confiança, na estabilidade do sistema financeiro".