António Costa avisa Lagarde. "Convém que o BCE seja prudente a conduzir esta política monetária"
O primeiro-ministro afirma que têm sido os governos a adotar medidas para proteger as famílias da política de Christine Lagarde.
António Costa transmitiu esta sexta-feira um conjunto de críticas à presidente do Banco Central Europeu, relativamente à política de sucessivos aumentos das taxas de juro, para lidar com a inflação. Para o chefe do Governo, "até agora" as medidas de Christine Lagarde não estão a conduzir ao resultado pretendido.
"Até agora, as contribuições significativas da subida da taxa de juros para controlar a inflação não se verificaram e é improvável que se verifiquem devido ao facto das causas específicas que esta inflação tem", criticou António Costa.
"Convém que o BCE seja muito prudente relativamente à forma como está a conduzir esta política monetária", avisou o primeiro-ministro, referindo-se à mensagem que transmitiu à "senhora Lagarde".
António Costa afirmou que, perante "a maior robustez do que aquilo que se esperava", na economia não deve fazer-se uma leitura errada dos bons resultados. "Todos receamos que isso decorra do facto de ter havido uma acumulação muito significativa de poupanças e de liquidez fruto da pandemia", afirmou Costa, admitindo que a atual política do BCE só poderá "ter efeito" à medida que "as poupanças forem diminuindo".
"Se a inflação tem estado a ser controlada, deve-se, em primeiro lugar, às medidas que os governos têm adotado para controlar a evolução do preço da energia, e em segundo lugar, às medidas que têm sido adotadas para apoiar o aumento dos custos de produção, designadamente no setor agrícola", destacou António Costa.
Por essa razão, apesar Bruxelas recomendar o levantamento de algumas medidas de apoio às famílias, António Costa considera que, em muitos dos Estados-Membros, os apoios do Estado têm sido a melhor forma de lidar com o aumento do custo de vida. "Em particular, em Estados onde há um elevado acesso ao crédito para habitação própria", frisou António Costa, admitindo que, estes, "naturalmente têm que adotar medidas que protejam as famílias dos efeitos desta política do BCE".
O presidente do Eurogrupo, Pascal Donohoe alertou os líderes europeus que é altura de introduzir alterações para lidar com a inflação, mantendo a política orçamental "coordenada". "Reconhecemos que as medidas que aumentam a procura nas nossas economias e aumentam permanentemente o endividamento já não se justificarão perante as mudanças que estão a acontecer", defendeu Donohoe, admitindo que "é preciso manter o apoio à nossas sociedades, particularmente para os mais vulneráveis".
Resiliência da Banca
A banca e a resiliência perante a crise foi outro dos temas em destaque na Cimeira Europeia. O presidente do Eurogrupo, Pascal Donohoe manifestou confiança em relação à capacidade do sistema financeiro para lidar com os desenvolvimentos mais recentes, garantindo, que não vai faltar dinheiro aos bancos.
"Estou muito confiante no volume de liquidez, na resiliência que o nosso sistema bancário tem acumulado", assinalou, afirmando que os "reguladores, as instituições, a nível nacional e europeu, desempenharam um papel muito importante no reforço da resiliência do nosso sistema bancário".
No entanto, Donhoen admite que a União Europeia não pode ficar indiferente aos mais recentes desenvolvimentos no sistema bancário, depois da crise do Credit Swiss e do Silicon Valley Bank.
"Os recentes desenvolvimentos que tiveram lugar nos mercados financeiros e nos bancos em todo o mundo recordam-nos a necessidade de estarmos sempre vigilantes e de continuarmos a acompanhar os riscos à medida que estes se desenvolvem", afirmou Pascal Donohoe, confiante de que o sistema bancário terá robustez para enfrentar a crise.
Mas António Costa espera que a garantia de liquidez no sistema financeiro se traduza em mais investimento canalizado para onde considera mais necessário. "É muito importante que essa liquidez seja orientada para o investimento produtivo, para a transição energética, para a criação de mais e melhor emprego e não continua a ser consumido, como tem sido excessivamente, no investimento em imobiliário e, portanto, cada vez mais necessário investir em capacidade produtiva e na produção de bens transacionáveis", defendeu.
Costa admite que sai de Bruxelas "agradado com a mensagem de grande confiança que a "senhora Lagarde transmitiu quanto à solidez do sistema financeiro europeu, explicando detalhadamente as diferenças entre o sistema regulatório europeu e o sistema regulatório americano ou mesmo suíço, e portanto são razões pelas quais podemos ter confiança, na estabilidade do sistema financeiro".