Alexandra Reis quer devolver dinheiro mas TAP não lhe responde

A antiga administradora garante que já insistiu três vezes com a transportadora aérea para apurar os montantes a devolver mas nunca obteve resposta.
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Alexandra Reis garantiu que quer devolver à TAP a parte da indemnização que recebeu na sequência da cessação de funções enquanto administradora, mas a companhia aérea ainda não respondeu às suas solicitações.

"Quero devolver, como sempre disse que faria. Na manhã seguinte [ao parecer da Inspeção-Geral de Finanças (IGF)], a 7 de março, os meus novos advogados contactaram a TAP para o apuramento dos montantes líquidos a devolver. Depois de pelo menos três insistências, continuo a aguardar essa indicação", revelou Alexandra Reis esta quarta-feira, 5, no Parlamento.

A ex-administradora, que saiu da TAP em fevereiro de 2022, refere que "apesar de discordar do teor do parecer da IGF" concordou em devolver parte da fatia da indemnização que a entidade considera que foram indevidamente pagos.

Aos deputados, adiantou que soube a 25 de janeiro que iria sair da empresa pública. "A CEO informou-me que pretendia distribuir os meus pelouros e terminar os meus vínculos à empresa e disse que iria contactar advogados. Acedi no dia 26 de janeiro a essa solicitação porque não queria criar um problema institucional. Aceitei de boa fé a contraproposta de acordo da TAP, 500 mil euros brutos pela cessação do meu mandato", indicou.

"A minha saída da empresa dá-se no seguimento da CEO da empresa me pedir para sair e me ter dado nota da sua vontade", sublinhou.

Sobre os "desalinhamentos" que a CEO Christine Ourimières Widener apontou como justificação para a saída de Alexandra Reis da companhia, a também antiga secretária de Estado do Tesouro sublinhou que "a diversidade de visões permitem uma discussão mais ampla e permitem tomar decisões mais informada e melhores"

O parecer da IGF, conhecido a 06 de março, indica que Alexandra Reis "terá de devolver à TAP os valores que recebeu na sequência da cessação de funções enquanto administradora, os quais ascendem a 443 500 euros, a que acrescem, pelo menos, 6610,26 euros, correspondentes a benefícios em espécie".

Ainda assim, o parecer refere que a antiga administradora "terá direito ao abono dos dias de férias não gozados naquela qualidade", detalha o documento" Contas feitas são 450 110 euros que irão regressar para a empresa pública.

A mudança de sede da TAP para o antigo edifício dos CTT, no Parque das Nações, em Lisboa, nunca chegou a avançar. Mas esta hipótese esteve em cima da mesa durante largos meses. Quem não viu esta mudança com bons olhos foi Alexandra Reis, que garante que sempre se opôs a esta hipótese. Esta foi apenas uma das várias divergências que opuseram a administradora à CEO Christine Ourmières Widener e que contribuíram para o desgaste da relação entre ambas.

"Mostrei sempre muitas reservas à mudança de sede. A TAP paga zero [euros] pelo edifico no qual está agora e mudar iria exigir pagar rendas e um custo extra com o fit out porque são sempre necessárias obras", disse esta quarta-feira, 5, durante a comissão de inquérito à TAP.

A mudar de instalações, a TAP iria pagar uma renda anual de perto de quatro milhões de euros. "Causou-me estranheza num momento em que a empresa iria ser privatizada estabelecer um contrato de longo prazo que só onera a empresa, não havendo necessidade objetiva", defendeu.

Além das questões financeiras havia ainda outros aspetos que não agradaram a Alexandra Reis, referentes às condições oferecidas aos trabalhadores.

"Era uma mudança que entendia como penalizadora para os colaboradores da empresa. Não se iria encontrar edifício em Lisboa com a dimensão suficiente por exemplo para ter uma cantina. O subsídio de alimentação na TAP é baixo e, neste momento difícil em que há cortes de salários não se deveria onerar os colaboradores com um custo extra", detalhou.

O estacionamento era outro dos pontos que não convenceu a antiga administradora, uma vez que no Parque das Nações os trabalhadores não teriam onde estacionar as viaturas.

Alexandra Reis garante que a atual sede da TAP está funcional apesar da necessidade de algumas melhorias. "Eu chamava-lhe vintage", disse, adiantando que nenhuma das soluções que propôs para evitar um encargo tão elevado com a mudança de instalações "não foram bem acolhidas".

Não há dúvidas de que as relações entre Alexandra Reis e Christine Ourmières-Widener eram pautadas por turbulência. A CEO da TAP, que esteve ontem no Parlamento, sublinhou os "desalinhamentos" que existiam com a antiga administradora, nomeadamente relativamente a divergências que existiam sobre temas de gestão. Ainda assim, a gestora francesa garantiu que a saída de Alexandra Reis não esteve relacionada com "nada de pessoal".

Já Alexandra Reis, que está esta tarde a ser ouvida na comissão de inquérito à TAP (CPI), não duvida de que abandonou a empresa pública por decisão única de Ourmières-Widener. "A CEO queria que eu saísse da empresa. A minha saída da empresa dá-se no seguimento da CEO me pedir para sair e me ter dado nota da sua vontade", contou.

A ex-administradora, que deixou a transportadora em fevereiro de 2022, disse ainda "ter dúvidas sobre os motivos" da sua saída uma vez que o parecer da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) refere que foram "as divergências irreconciliáveis" e a CEO apontou, em audição, motivos relacionados com o "perfil e a organização".

Aos deputados, adiantou que soube a 25 de janeiro que iria sair da empresa pública. "A CEO informou-me que pretendia distribuir os meus pelouros e terminar os meus vínculos à empresa e disse que iria contactar advogados. Acedi no dia 26 de janeiro a essa solicitação porque não queria criar um problema institucional. Aceitei de boa fé a contraproposta de acordo da TAP, 500 mil euros brutos pela cessação do meu mandato", indicou.

A também antiga secretária de Estado do Tesouro sublinhou que "a diversidade de visões permitem uma discussão mais ampla e permitem tomar decisões mais informada e melhores"

"A minha atuação na empresa sempre foi de uma relação cordial com os membros da comissão executiva. As diferenças de opiniões foram feitas de forma muito construtiva", adiantou, garantindo que nenhuma destas diferenças de opinião "beliscaram o compromisso com a implementação do plano de reestruturação, garantindo o sucesso da sua implementação".

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