A encerrar este ano, Marcelo pede "cem mil pessoas" na Web Summit em 2022
A edição de 2021 da Web Summit chegou ontem ao fim, após quatro dias intensos com mais de 40 mil representantes do ecossistema mundial de empreendedorismo, tecnologia e inovação a demonstrar soluções e a debater propostas para o futuro. Foi a primeira edição presencial da feira tecnológica, cocriada por Paddy Cosgrave, depois da pandemia da covid-19 chegar a Portugal, com o país a acolher o primeiro grande evento internacional do género em contexto pandémico - esperando colher frutos.
A leitura positiva do impacto do evento foi notada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confiante que a Web Summit marca o início, em Portugal, de "um ciclo pós-pandémico". "Temos de lutar por algo que é vital para ultrapassar a pandemia, esta pandemia cansativa, por saúde, pela recuperação económica e inclusão social", notou, desejando que já em 2022 o evento mais do que duplique o número de visitantes. "Temos de ser cem mil pessoas aqui no próximo ano", disse.
Mas, façamos um balanço da Web Summit de 2021, para compreender o impacto. Ainda o primeiro dia não tinha arrancado e já a organização tinha anunciado que os ingressos tinham esgotado. Abertas as portas e feita a contabilização, a Web Summit recebeu 42.751 visitantes, de 128 países, dos quais 50,5% eram do sexo feminino. Pela primeira vez, mais mulheres do que homens participaram no certame de inovação e tecnologia. Acrescem os números de startups no evento (1519) e de investidores (872). A Web Summit de 2021 conseguiu, ainda, reunir no mesmo espaço 70 unicórnios (empresas avaliadas em mais de mil milhão de dólares). A estes números somam-se os cerca de dois mil jornalistas que cobriram o evento para os quatro cantos do mundo.
A divulgação de um estudo do Gabinete de Estratégia e Estudos, do Ministério da Economia, que reviu em baixa o impacto da Web Summit entre 2016 e 2019 - entraram nos cofres do estado menos 86 milhões de euros face ao previsto - ameaçou manchar a edição de 2021 da cimeira tecnológica. Paddy Cosgrave em momento algum quis considerar a divulgação das contas a meio do evento e o Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, ajudou a chutar o tema para canto com o anúncio do lançamento da segunda fase do programa Portugal Tech. Uma fase dotada de mais cem milhões de euros (divididos entre o governo e o Banco Europeu de Investimento), onde a perspetiva é a de capitalizar as empresas portuguesas, nomeadamente as que investem em áreas como inteligência artificial, machine learning e cibersegurança.
Somou-se o anúncio de que ficará em Portugal a sede europeia da European Startup Nations Alliance (ESNA), uma entidade comunitária de apoio ao empreendedorismo, e o tema da revisão em baixa do impacto económico e social da cimeira tecnológica passou despercebido.
Nota também para o ecossistema de startups nacional que se evidenciou este ano. Primeiro, a portuguesa Cre-Mar ganhou o troféu para a empresa mais inovadora da associação Startup Portugal, no âmbito da competição Road2WebSummit, que levou 130 novas empresas à cimeira tecnológica. A aposta da startup liderada por Vítor Oliveira é um serviço de cremação online, com a particularidade de poder transformar as cinzas em diamantes - serviço já disponível no Porto e Braga e que seguirá para França e Finlândia em 2022. Depois, a portuense Smartex foi a grande vencedora do Pitch deste ano, superando a concorrência de mais de 650 jovens empresas.
Acresce a tudo isto o reconhecimento internacional das vantagens de se investir em Portugal. "Portugal tornou-se um lugar que tem um grande talento caseiro em termos de pessoas que aqui nasceram", como se tornou "um lar acolhedor para talentos do resto da Europa e mesmo além", segundo Brad Smith, presidente da gigante Microsoft, em declarações à Lusa.
O reconhecimento é valorizado pelo Governo, com André de Aragão Azevedo, secretário de Estado para a Transição Digital, a notar uma "experiência muito positiva" com a Web Summit este ano, destacando notar-se um "incremento muito significativo do nível de maturidade dos projetos", em Portugal. "Quem esteve nas outras edições percebe que houve aqui um elevar da fasquia", garantiu à Lusa no último dia do evento.