O “é preciso apertar o cinto” - expressão que Mário Soares popularizou, em 1984, durante a segunda intervenção do FMI - está refletido na “redução de despesas sem limitar a intervenção e uma gestão rigorosa de todos os meios partidários” e na “determinante implementação de medidas assentes no reforço das receitas próprias” que retiraram as contas do PCP de um “resultado financeiro negativo médio anual de 310 mil euros” para a “obtenção de um resultado positivo” não revelado, nos últimos quatro anos. .No “partido com paredes de vidro” - que entre a manhã desta sexta-feira e domingo tem o seu XXII Congresso, em Almada - apenas 31,7% dos militantes “estão a pagar quotas, número que é insuficiente para as necessidades”, tal como as “medidas implementadas”, que “confirmam potencialidades”, mas que sendo “insuficientes” colocam, admite o PCP, “a necessidade e urgência de prosseguir, com exigência e rigor, o desenvolvimento do trabalho para o equilíbrio financeiro”. .O “resultado positivo”, avisam, “não pode criar a ilusão que estão ultrapassadas as dificuldades”..As receitas “próprias” do PCP, na ordem dos 90,7%, são obtidas através de “quotas”, de “contribuições de militantes do partido, de eleitos e de membros das mesas de voto, os donativos de amigos e simpatizantes, as iniciativas de angariação de fundos”. .As “institucionais”, que são 9,3%, continuam a ser “indispensáveis” para a “independência financeira do partido”..Este retrato, sublinha o PCP, confirma “as características do financiamento partidário” - que criticam - e o “esforço do partido” para “assegurar a sua intervenção na base dos seus meios próprios, não dependente de subvenções do Estado e de terceiros” por ser necessário “dar combate a mecanismos de ingerência na vida interna” - que não são identificados, mas que “visam criar estrangulamentos e condicionar a ação e independência financeira” do partido. .A “ingerência” referida diz respeito, nomeadamente, à Lei do Financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais que o PCP tem contestado. .Outro dos condicionamentos está, por exemplo, na “dependência da maioria das organizações regionais” do PCP que dependem dos “apoios centrais” do partido dado que não conseguem “assegurar os meios suficientes para o equilíbrio financeiro das suas contas”. .Para além das dificuldades financeiras, o PCP perdeu 2348 militantes nos últimos quatro anos. Eram 49 960 e são agora 47 612. “Uma redução” explicada pelo facto do “número de recrutamentos [3452] não ter compensado aqueles que deixaram de ser contabilizados como membros do partido, em particular por falecimentos”..Outra explicação: “Um número que, sendo insuficiente [de novos militantes], é positivo, ainda mais no contexto político em que ocorreu, com uma violenta ofensiva anticomunista”..Nos “centros de trabalho” também aconteceu uma redução: dos 2417 organismos ou organizações com plenário que existiam em 2020, passaram a existir 2183 (menos 234). E o mesmo sucedeu nos organismos de “base local” (de 567 passaram para 532). A única subida, em quatro anos, registou-se nos organismos com base “em empresas e locais de trabalho” que passaram dos 310 para os 324..A perda de militantes, a redução de subvenções públicas - consequência da sucessivas perdas eleitorais - e as mudanças na lei do financiamento dos partidos explicam, em boa parte, o cenário de um partido que com 103 anos [foi fundado a 6 de março de 1921] enfrenta a “urgência” de ultrapassar as “dificuldades” financeiras..“A independência financeira do partido” é “indispensável para a sua independência política e ideológica”, reafirmam. .O que está por saber.A lista proposta do novo Comité Central, elaborada “ouvidas as várias estruturas do partido”, afastou 29 nomes, incluindo dois da Comissão Política [Armindo Miranda e João Dias Coelho], a antiga deputada Alma Rivera (33 anos) que nas últimas legislativas foi cabeça de lista por Évora e também, por exemplo, Ilda Figueiredo - a histórica deputada, eurodeputada e vereadora no Porto, Vila Nova de Gaia e Viana do Castelo..Dada a “inerência”, Armindo Miranda e João Dias Coelho deixando de pertencer ao Comité Central ficam também afastados da Comissão Política do partido. No sábado (dia 14), após a confirmação dos 125 eleitos encarregues da “orientação superior do trabalho político, ideológico e de organização do Partido”, poderá haver mudanças na Comissão Política (24 membros) e no Secretariado (9 membros) - órgãos executivos do PCP. .O partido não revela que mudanças haverá na estrutura mais próxima de Paulo Raimundo e que é constituída por Francisco Lopes, Jorge Cordeiro, José Capucho, Alexandre Araújo, Manuela Pinto Ângelo, Margarida Botelho, Pedro Guerreiro e Rui Braga. O mesmo, em relação à Comissão Política de que fazem parte, por exemplo, João Oliveira, Paula Santos e João Ferreira.