Porque é que a maré de desempregados sobe e sobe nos últimos . anos quando se manteve por tanto tempo abaixo dos valores . prevalecentes na Europa? Porque é que parece infindável a . reconversão tecnológica, gestionária e organizativa de sectores . inteiros, com encerramento de unidades produtivas? Porque é que o . novo, por mais produtivo que seja (ainda) não consegue . contrabalançar com vantagem tudo o que se vai destruindo (por . inviável)? A acreditarmos em Schumpeter, a mola imparável do . capitalismo impulsionaria as empresas para a célebre destruição . criativa: o velho e ineficiente daria o lugar ao novo e dinâmico, . num movimento expansivo sem fim. As crises seriam períodos de forte . regeneração do tecido empresarial, já que acabariam por acelerar a . remoção do que já não funciona, abrindo espaço ao novo. Que há . destruição produtiva entre nós, não haja a menor dúvida! Mas . estará a ser suficientemente indutora de criatividade e futura . riqueza? Eis a questão. Para quem mantém o modelo explicativo da . evolução histórica como um confronto entre classes antagónicas, . não há mérito em acelerar a morte de empresas, muitas delas . viáveis: tudo se explicaria por ganhos unilaterais do capital no seu . afã de centralizar e concentrar meios de produção. A crise espalha . o medo, a retração dos investidores, a incerteza dos trabalhadores . no dia de amanhã, para si e para as famílias, o enfraquecimento dos . laços laborais. Em tudo contrário à construção de verdadeiras . culturas de empresa. Num tal clima, como é possível manter o . discurso de ser pela inovação, pelo engenho criativo, que temos de . ir? Se não se cuida de dar informação, de procurar envolver mais . os trabalhadores na vida da empresa, mesmo quando esta se tem de . retrair, como é que essas unidades podem emergir da crise mais . fortes e produtivas? O contra-exemplo das que fazem exatamente o . contrário não chega para demonstrar que esse é um caminho sem . saída? Do que precisamos é de um verdadeiro choque de gestão, que . ponha bem alto na lista de prioridades a valorização do fator . trabalho, que vença o medo, mobilize o talento e anime a emergir . forças criativas. Sem isso, nunca mais saímos do buraco.Redator principalEscreve à sexta-feira