VRAC bate Agronomia em tempo de compensação e conquista Taça Ibérica
A esta hora ainda os responsáveis de Agronomia devem estar a pensar como foi possível, a vencer por nove pontos (27-18) ao minuto 72, graças a um fantástico ensaio de Manuel Cardoso Pinto que ultrapassou, em deambulante slalom de 50 metros, para aí uns 10 ou 11 adversários, ter perdido esta final da competição que, anualmente e desde 1965 (com interregnos entre 1972 e 1982 e entre 2008 e 2002), coloca frente a frente, os campeões dos dois países ibéricos.
É que, pese embora a gritante diferença entre os dois plantéis - a equipa patrocinada pelos Quesos Entrepinares veio recheada de estrangeiros de boa valia (mais precisamente 10, alguns deles com experiência no famoso Super Rugby) enquanto os agrónomos, em tempo de encolhas e poupanças, tem um conjunto demasiado jovem e inexperiente, muitos furos abaixo dos quinzes a que nos vinha habituando há uns anos - e mesmo com a atual supremacia do râguebi espanhol em relação ao português, o que ficou hoje plenamente demonstrado no relvado da Tapada é que, com um pouco mais de maturidade e boas indicações emanadas do banco, o triunfo das cores nacionais teria sido possível. E esteve tão perto, à distância de uma falta numa mêlée...
Os crónicos campeões do país vizinho - conquistaram sete das últimas oito edições da Liga de Honor espanhola - pensariam certamente que o duelo ibérico seria ganho com maior facilidade, até por que a diferença de compleição física entre as duas equipas - em especial no pack avançado - era claramente favorável aos homens de Diego Merino, técnico que desde 2011 dirige esta equipa de Valladolid com grande sucesso.
Mesmo praticando um râguebi estereotipado e sem imaginação o VRAC entrou a dominar. E depois de desperdiçar uma penalidade aos 17" veria mesmo a equipa da casa adiantar-se no marcador. Primeiro num pontapé de João Lima e 3 minutos depois num ensaio do médio de formação Gonçalo Prazeres, tirando partido de rapidez com que Tomás Cabral carregou um pontapé contrário. Pelo meio foi ainda notável a forma decidida como Pedro Herédia entrou no ruck garantindo a bola para o seu número 9 pôr os agrónomos na frente por 10-0.
Vendo-se a perder os campeões espanhóis espevitaram o jogo mas com os seus jogadores sempre muito distantes entre si, e só o poder físico e intensidade da avançada ia ditando lei. Em especial nas mêlées já que nos alinhamentos os saltadores de Agronomia iam atrapalhando, e de que maneira, a conquista de bolas limpas para o VRAC.
À meia hora de jogo um intenso período de domínio espanhol em cima da área de ensaio portuguesa valeu um cartão amarelo ao capitão José D"Alte. Da falta decorrente o ponta De la Lastra marcaria, reduzindo para 10-7. E logo a seguir Baltazar Taibo empatava a 10 pontos com uma penalidade.
Mas as equipas não iriam para o descanso sem novo ensaio agrónomo, desta feita todo construído pelo centro Tomás Cabral (que fora também decisivo no primeiro!), numa monumental arrancada de 30 metros passando por tudo o que lhe ia surgindo no caminho com uma impressionante sucessão de side-steps. Público em delírio, ensaio convertido por Lima... e 17-10 ao intervalo.
Mas depois daqueles duros 40 minutos iniciais, a segunda parte desenhava-se complicada, até por que o banco de opções à disposição de Frederico Sousa não era hoje muito rico (e por isso mesmo o técnico agrónomo, coisa rara, só utilizou três das oito que dispunha...).
Com uma ou duas mudanças táticas o VRAC empurrou o jogo para o meio-campo português onde acampou em definitivo, acelerou processos, e encadeando melhor o jogo começou finalmente a justificar o favoritismo. Sem bola, os jovens agrónomos limitavam-se a defender as sucessivas vagas de ataque adversário e até defendiam muito e bem, mas tantas vezes vai o cântaro à fonte...
Uma penalidade e um ensaio em força do pilar neozelandês Raimona viravam o resultado (18-17 para os espanhóis). Mas depois da exclusão do número 8 australiano Nathan Paila (placagem ilegal), Agronomia voltaria para a frente em novo pontapé de João Lima (20-18).
E quando Manuel Cardoso Pinto (o internacional português, regressado após uma época na Holanda, jogou na ponta esquerda), tirou da cartola aquele lance mágico aos 72" - e só poderia ser numa jogada "a solo" pois o coletivo começava a desagregar-se - acreditou-se mesmo na Tapada que, a vencer por 27-18, pela segunda vez depois do triunfo de 2007, o troféu ficaria nas vitrines agrónomas.
Mas nos derradeiros minutos viria ao de cima a superior capacidade física e extensão do plantel do VRAC, com os oito suplentes a entrarem para virar o jogo. Incapazes de controlar a posse da oval, os rapazes de Agronomia começavam a abrir brechas e iam caindo extenuados no relvado. Sem que do banco viessem reforços... ou ideias frescas.
E infelizmente sem espantar a equipa de Valladolid daria mesmo a volta ao texto. Primeiro num lance de pura sorte do formação suplente Tani Bay (má opção num pontapé curtinho sem razão aparente com a bola a cair-lhe no regaço...) e já com oito minutos para lá dos 80, nova falta da mui fatigada mêlée portuguesa, com a penalidade a ser convertida por Broc Hooper, para os 28-27 finais.
O árbitro italiano apitou de imediato para o final da partida e era a justificada explosão dos adeptos espanhóis: o seu VRAC conquistava a terceira Taça Ibérica consecutiva, algo nunca antes conseguido no historial da prova. Foi por uma unha negra e até se pode considerar ter sido justo o triunfo face ao acentuado domínio territorial de nuestros hermanos. Mas há que enaltecer a atitude competitiva e o jogo realizado pelos jovens de Agronomia que estiveram à beira de uma vitória histórica. Que até lhes teria ficado bem.
Após 40 edições da Taça Ibérica passam agora a registar-se 24 triunfos espanhóis contra 16 portugueses, estes através de Benfica (1971, 86, 88 e 2001), Direito (99, 2002, 2013 e 2015), Cascais (92, 93 e 96), CDUL (83, 84 e 2012), Académica (97) e Agronomia (2007).
O El Salvador de Valladolid é a equipa com mais triunfos (5), seguido de Benfica, Direito, Santboiana e agora o VRAC, que conquistaram quatro títulos cada.