Suspeitas de corrupção na atribuição dos Jogos Olímpicos a Tóquio
Uma semana depois de os Jogos Olímpicos de Tóquio terem sido adiados para 2021 devido à pandemia de coronavírus, eis que se abate sobre a organização japonesa uma suspeição de corrupção na forma como conquistou o direito de ser a sede desta Olimpíada.
De acordo com os registos financeiros que a agência de notícias Reuters teve acesso, o empresário Haruyuki Takahashi recebeu 8,2 milhões de dólares (7,5 milhões de euros) pelo seu trabalho na campanha de promoção da candidatura de Tóquio 2020 como executivo da agência de publicidade Dentsu Inc.
Este antigo executivo da empresa admitiu à Reuters que, além das ações de promoção da candidatura japonesa aos Jogos Olímpicos, fazia parte das suas funções procurar influenciar os membros do Comité Olímpico Internacional, como o franco-senegalês Lamine Diack, a quem oferecia prendas como câmaras digitais e relógios Seiko.
Refira-se que depois de o Comité Olímpico Internacional (COI) ter escolhido Tóquio como sede dos Jogos Olímpicos de 2020, Takahashi, o mais bem pago colaborador da candidatura, acabou por ser nomeado para o comité organizador dos Jogos.
O empresário admitiu ter recebido 7,5 milhões de euros por parte da candidatura japonesa, mas recusou-se a explicar o destino que deu ao dinheiro, mas admitiu ter procurado convencer Lamine Diack para que apoiasse a atribuição dos Jogos de 2020 a Tóquio, tendo no entanto negado ter havido qualquer abordagem irregular. "Ninguém fica de mãos vazias. Isso é do senso comum", disse Takahashi à Reuters.
A verdade é que nos registos bancários da candidatura de Tóquio 2020, examinados pela Reuters, indicam que foram pagos 46 500 dólares (42 400 euros) à empresa Seiko Watch, sendo que um alto funcionário da candidatura revelou que relógios "bons" foram oferecidos em festas organizadas como ações de campanha para ganhar a organização das Olimpíadas.
Refira-se que os regulamentos do COI permitiam ofertas de presentes de valor nominal, embora não estipulassem qualquer valor limite máximo.
De acordo com um advogado influente do Comité Olímpico do Senegal, um dia antes da votação de 2013 para a atribuição da candidatura vencedora, Lamine Diack organizou uma reunião com representantes de comités olímpicos de países africanos para lhes dizer que apoiava Tóquio pelos seus méritos, embora não tenha instruído ninguém sobre a forma como deviam votar.
A candidatura de Tóquio 2020 pagou ainda 1,3 milhões de dólares (1,2 milhões de euros) a um instituto sem fins lucrativos gerido pelo antigo primeiro ministro japonês Yoshiro Mori, que se tornou num importante dirigente do desporto japonês e presidente do comité organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Os pagamentos à empresa de Takahashi e ao instituto de Yoshiro Mori constam dos registos bancários a que a Reuters teve acesso e que foram fornecidos pelo governo do Japão ao Ministério Publico francês que está a investigar se Lamine Diack recebeu da candidatura de Tóquio 2020 o montante de 2,3 milhões de dólares (2,1 milhões de euros), através de uma consultora de Singapura, para que favorecesse a candidatura japonesa.
Lamine Diack, de 86 anos, já negou através do seu advogado "todas as acusações de suborno". No entanto, as autoridades judiciais francesas investigam também o filho do dirigente do COI, Papa Massata Diack, por suspeita de ter recebido e depois transferido para o pai a maior parte do dinheiro pago através da consultora de Singapura.
A Reuters procurou entrar em contacto com Yoshiro Mori a fim de obter explicações para o pagamento de 1,2 milhões de euros ao instituto que geria, mas não obteve qualquer resposta, embora um funcionário daquela organização tenha revelado que o pagamento se deveu a um serviço de "análise de informações internacionais".
Entretanto, Nobumoto Higuchi, secretário-geral da candidatura do Tóquio 2020, explicou que Takahashi ganhou comissões pelos patrocínios que angariou. "Takahashi tem conhecimentos e na altura precisávamos de alguém que entendesse bem o mundo dos negócios", disse Higuchi.
Já o Comité Olímpico Internacional disse que não ter tido conhecimento de pagamentos feitos em festas particulares ou presentes dados aos seus membros.